quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Realidades paralelas de Lírio
Retrospectiva da obra do cineasta pode ser vista no contexto da evolução do "novo cinema de PE"
André Dib // Especial para o Diario
O Cinema do Parque exibe hoje, a partir das 14h, uma retrospectiva do cineasta pernambucano Lírio Ferreira. Fazem parte da mostra os curtas O crime da imagem, That´s a lero lero, e os longas Baile perfumado, Árido movie e Cartola - Música para os olhos.
Colocados em perspectiva, os cinco filmes permitam observar tanto a trajetória do cineasta, quanto a evolução do cinema pernambucano nas últimas décadas. Em conversa com o Diario, Lírio Ferreira diz que, se há conexão entre seus filmes, ela está na representação de diferentes mitos, sob um olhar ou foco de análise nem sempre vinculado à realidade.
Esse é o caso de O crime da imagem (1989), onde se narra o suposto episódio em que Antonio Conselheiro parte para sua peregrinação após assassinar a esposa e a própria mãe. "Esta é uma explicação popular, que depois se provou não ser verdadeira", conta Ferreira. Dois anos depois, com That's a lero lero (dirigido com Amin Stepple), outra fabulosa história é retomada: uma noitada de 1942, quando o cineasta Orson Welles se jogou com três companheiros na boemia do Recife.
A parceria com Stepple seria a primeira de muitas, sendo a estabelecida com Hilton Lacerda a mais constante (o roteirista e diretor participa de todos os seus filmes), e com Paulo Caldas a mais emblemática, pois Baile perfumado (1996) é o primeiro longa feito em Pernambuco após uma "seca" de quase 20 anos.
Ao contar a aventura do libanês que filmou Lampião e seu bando, Baile perfumado inaugurou um novo capítulo para o cinema pernambucano, ciclo que vem sendo reconhecido internacionalmente pela força renovadora e criativa, e que parece estar longe de terminar. "Se fosse feito hoje, nem sei como seria, pois ele é um retrato daquela época, em que a cidade fervia na produção musical, de cinema e artes plásticas", lembra o diretor.
Quase dez anos depois, Árido movie (2005) tardou, mas chegou. Ofilme conta a história de Jonas, que após vários anos trabalhando em São Paulo, retorna ao sertão pernambucano para o enterro do pai. O elemento transcendental está na figura de Meu Pai (Zé Celso Martinez), personagem baseado na história real de Meu Rei, falecido líder de uma seita que acredita na imortalidade através do consumo da água "da vida".
Por fim, Cartola - Música para os olhos (2007) recria o contexto social, político e cultural do período vivido pelo antológico sambista. Feito em parceria com Lacerda, a montagem é um dos grandes méritos do longa: hipertextual, imprevisível, caótica.
Esta incursão pelo gênero documentário levou Lírio Ferreira a seu mais recente projeto, intitulado O homem que engarrafava nuvens. O filme, que gira em torno do compositor popular Humberto Teixeira, já circula nos festivais mundo afora, e aguarda resposta do Cine PE para estrear no Nordeste em abril.
Entre imagens próprias e de arquivo, intérpretes como Chico Buarque, David Byrne e o próprio Luiz Gonzaga cantam músicas do autor de Asa branca. "É um filho direto de Cartola, com a diferença de que, por tratar do baião, é mais alegre e colorido", conta o diretor que, enquanto viaja com o novo longa, escreve (com Sérgio Oliveira e o carioca Fellipe Gamarano) o roteiro de Sangue azul, o retorno do cineasta ao universo da ficção.
Serviço
Cinema Falado, com Lírio Ferreira
Quando: Hoje, a partir das 14h
Onde: Cinema do Parque (Rua do Hospício, 81 - Boa Vista)
Informações: 3232-1553. Entrada franca
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