terça-feira, 30 de agosto de 2011

Curtas conquistam a metrópole



O cinema pernambucano é destaque no 22º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. O maior e mais importante do país, o evento selecionou oito filmes da produção recente, cinco deles para a mostra principal. Já na abertura, na última sexta, dois foram bem recebidos: o inédito Corpo presente, de Marcelo Pedroso, e Mens sana in corpore sano, de Juliano Dornelles. No sábado e domingo, foram exibidos Praça Walt Disney, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros, Calma, Monga, calma!, de Petrônio de Lorena, e Ela morava na frente do cinema, o novo de Leo Lacca (Trincheira Filmes).

Novo rebento da Símio Filmes, Corpo presente é um belo estudo sobre morte e representação. O curta é de nítido rigor estético, assinado por Pedro Urano (fotografia), Juliano Dornelles (arte), André Antônio (montagem), Pablo Lamar (som) e Simone e Mari Jubert (produção executiva). Um rigor já visto em outros trabalhos do diretor, como o média-metragem Balsa (2009). Novidade em uma produção mais ligada ao cinema documental, Pedroso está de volta ao terreno da ficção, exercitado nos primeiros anos da carreira.

“Ele tem uma proposta de jogar com o espectador. Todo o processo é real, mas ele quer de certa forma testar sua relação com o filme”, diz William Hinestrosa, curador da Mostra Brasil, para a qual Corpo presente foi selecionado. Os demais curtas pernambucanos chamaram sua atenção por diferentes motivos.

“Talvez o que há em comum entre eles seja um senso crítico aguçado e a liberdade criativa. Praça Walt Disney, por exemplo, é de um hibridismo que não se define enquanto gênero, mas por outro lado discute a verticalização de Boa Viagem”. No sentido de olhar para a cidade, o filme de PWD dialoga com outros filmes do mesmo programa, como do coletivo cearense Alumbramento, Raimundo dos Queijos e o mineiro Adormecidos, de Clarissa Campolina.

Outros pernambucanos na programação são Coco de improviso e a poesia solta no vento, de Natália Lopes, que integra a mostra online KinoOikos Formação do Olhar e Menino-Aranha, de Mariana Lacerda, que em 2008 estreou no festival e agora volta como parte da Mostra Feminino Plural, tema principal do evento este ano.

O cinema feito por mulheres é o tema principal do 22º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, que programou 44 produções brasileiras e internacionais para a mostra Feminino Plural. Mas o evento é muito maior do que isso. Até o dia 2 de setembro, 472 filmes de 48 países serão exibidos, com sessões gratuitas em oito salas espalhadas pela cidade. Há um sem-número de atividades paralelas, entre palestras, debates e oficinas. A grandiosidade do evento consiste em não só reunir os filmes, mas realizadores, imprensa e curadores dos principais festivais do país, de olho nas novidades.

Uma delas vem da Paraíba, que apresenta os primeiros resultados do coletivo Filmes A Granel. São curtas produzidos no sistema de cotas, em que 20 diretores investem R$ 50 cada. Uma vez por mês, o dinheiro é revertido para um deles. Como estímulo ao espírito empreendedor, o Sebrae entra mais R$ 1 mil. E assim surgiram Oferenda, de Ana Bárbara Ramos, e Lavagem, de Shiko.

Eles participam da Mostra Brasil, que este ano traz 56 curtas de 15 estados. Para chegar a eles, a equipe do curador William Hinestrosa assistiu mais de 600 produções. Ele diz que o objetivo é formar um painel da diversidade da produção atual. “O critério não é ‘gostei’ ou ‘não gostei’. Um bom sinal é se o filme dividiu opiniões. Não existe um único caminho”. Hinestrosa conta que um dos curtas que mais despertou debate foi Oma, de Michael Wahrmann, formado por imagens precárias feitas pelo diretor, em visitas à sua avó doente. “Se é exibível ou não, a gente vai discutir depois da sessão”.

Em seu sétimo ano, a mostra infantil é outro ponto interessante do festival. Além dos filmes (A mula teimosa e o controle remoto é um dos destaques), após a sessão há atividades em que as crianças fazem seus próprios filmes, editados na hora. Seu curador, Christian Saghaard, diz que educar para o audiovisual é questão de cidadania. “É uma linguagem que está em tudo ao redor. É preciso olhar para as imagens de forma crítica, para que sejam percebidas não como a realidade, mas como um entre os vários recortes possíveis”.

(Diario de Pernambuco, 30/08/2011)

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