sábado, 31 de março de 2007
300 de Esparta: divagações sobre a suposta "fidelidade" do cinema aos quadrinhos
"Fidelidade" é uma palavra que tem sido repetida orgulhosa e infinitamente por Zack Snyder, diretor do filme "300", inspirada na graphic novel homônima de Frank Miller. Muito bem divulgado pela imprensa, "300" está à disposição do público desde ontem, em 550 salas brasileiras. Por um lado, vitória para os quadrinhos, arte geralmente diminuída, aqui enobrecida pelo tratamento de luxo e evidência nunca desfrutada em sua centenária trajetória.
Por outro, problemas no tocante ao processo de adaptação me saltam aos olhos. Nas cenas acima, não resta dúvida. "Igualzinho", não é?
Não é bem o caso da pintura abaixo, veja bem como os espartanos foram retratados:
Nada tão "macho" quanto os guerreiros de Miller.
Enquanto escrevia uma crítica de "300" para o site da Continente Multicultural, me questionei bastante sobre a utilização da linguagem dos quadrinhos no cinema. Naturalmente não cheguei a muitas conclusões. Como explicar a artificialidade e falta de fluidez de filmes como "300", meu caro Watson? Foi inevitável, enquanto assistia ao filme, fiquei o tempo todo comparando: "nossa, é igualzinho mesmo!".
Bom, tenho que admitir que a cópia transposta por Snyder é muito bem feita. Realmente, o filme conseguiu manter intacta a estética original. Não tão obsessivamente quanto Robert Rodriguez e o próprio Frank Miller fizeram em "Sin City", clonagem quadro-a-quadro que chega a dar náuseas após duas horas de projeção. "300" utiliza mais recursos de cinema, graças a Zeus.
Talvez as melhores adaptações dos quadrinhos para o cinema sejam as assumidamente traduzidas para a linguagem audiovisual, ou seja, são cinema antes de tudo. Tomem, por exemplo, os filmes de super-heróis. Eles parecem bem resolvidos quanto a isso. Neles, a fidelidade está em, durante o processo de tradução estética entre uma linguagem (HQ) para outra (cinema), preservar as características dos personagens, o contexto em que foram criados, enfim, sua essência. Filmes como "Ghost World", "Hulk", "Homem-Aranha", "X-Men" e "Quarteto Fantástico" vem fazendo isso muito bem.
Claro que não é o caso de invalidar experiências como "300" e "Sin City". Elas não são meros subprodutos das HQs. Pelo contrário, apontam para um diálogo de linguagens onde só o equilíbrio pode gerar bons frutos. Quando este for alcançado, teremos filmes bem mais interessantes de se assistir. Um bom exemplo neste sentido é o não tão recente "American Splendor" (Robert Pulcini), que conta a história do roteirista de quadrinhos Harvey Pekar.
Júlio Bressane, em seu ótimo livro-ensaio "Cinemancia", trata do processo de tradução de uma forma mais livre e essencial. De uma língua para outra, analisando o caso de São Jerônimo, que converteu a Bíblia do Sânscrito para o grego. E da literatura para o cinema, exemplificando com sua então recém lançada adaptação de Machado de Assis, "Brás Cubas". Quem assistiu ao filme, sabe que ele é uma viagem de sons e luzes ao universo machadiano. Nem de longe passa por uma transposição literal de diálogos e descrições de ambiente contidos no romance original. O sentido e a maneira machadiana de olhar para a realidade, no entanto, brilha no filme inteiro.
Isso porque para Bressane, a recriação é imprescindível no processo de tradução. Tanto que seu Brás Cubas reinventado para o cinema é diametralmente oposto (e infinitamente superior) ao interpretado por Reginaldo Faria no filme de André Klotzel, que se dispôs a adaptar "fielmente" o livro de Assis. O máximo que uma obra assim pode atingir é o da reverência ao original. Um culto que termina em si, que não extrapola como arte.
De volta aos espartanos, o "fiel" (como um escravo?) diretor Snyder demonstra com orgulho ter reproduzido a luz, a textura, os diálogos, enquadramentos, exatamente como na HQ original, esta servindo como o mais perfeito storyboard do planeta. Um sinal de respeito e tributo, mas também de engessada submissão, característica limitante do potencial que um bom filme pode atingir.
Caro Watson, onde está Wally (Snyder)? Cadê o seu olhar como tradutor?
Por fim, como bem provou Mary Shelley, ao criar seu Frankenstein há quase dois séculos, encerro com a máxima nada matemática: a soma das partes nunca é igual ao todo.
sexta-feira, 30 de março de 2007
Cinema da Fundação - programação da semana
CINEMA da FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Promoção: Diretoria de Cultura - Rua: Henrique Dias, 609, Derby 3073.6688 e 3073.6689 - cinema@fundaj.gov.br
Ingressos: R$ 6,00 (inteira) – R$ 3,00 - (acima de 60 anos/estudantes)
“Sessão Bossa Mestre” - Todas as quartas-Feiras, professor apresentando documentação tem entrada franca no Cinema da Fundação,
Programação de 30 de março a 5 de abril 2007
Pré-Estréia, Sábado, 31 de Março, 20h30
Em Direção ao Sul (Vers le Sud, França/Canadá, 2005). De Laurent Cantet. Com Charlotte Rampling. Uma professora (branca) de literatura nos seus 50 e poucos anos visita o Haiti, nos anos 70. Desencantada com a rotina normal, ela descobre um novo prazer nos belos corpos de rapazes negros da praia paradisíaca que visita, corpos que podem ser comprados por quantias irrisórias. O diretor Laurent Cantet investiga a divisão entre mundo rico e mundo pobre, questões de raça e sexualidade nesse filme que vira a mesa em temas geralmente vistos como “delicados” quando o ponto de vista é masculino. Seleção Festival de Veneza.
105 min. / Imovision / Dolby SR / Inédito / 16 anos / Tela Plana
2a. Semana
Pro Dia Nascer Feliz(Brasil, 2006). De João Jardim. Depois de investigar o olhar no bem sucedido Janela da Alma (lançado no Recife em 2002 pelo Cinema da Fundação), o cineasta João Jardim registra o adolescente brasileiro e sua relação com a escola. São meninas e meninos, ricos e pobres, em situações que revelam precariedade, preconceito, violência e esperança. Em três estados brasileiros (Pernambuco, Rio, São Paulo), em classes sociais distintas, adolescentes falam da vida na escola, seus projetos e inquietações numa fase crucial da formação. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades no país a partir da realidade escolar. Prêmio especial do júri no Festival de Gramado 2006.
Exibição em digital / Tela Plana / Dolby / 88 min. / Copacabana Filmes / Livre
HORÁRIO
Sexta: 17h / 18h45
Sábado: 16h45
Domingo: 16h30 – 18h20
Terça e Quinta: 16h30
Qua (26 mar): 16h30 / 18h20
-----------------------------------------------------
2a. Semana
O HOMEM DUPLO/A Scanner Darkly (A Scanner Darkly, EUA, 2006). De Richard Linklater (diretor de “Antes do Pôr-do-Sol” e “Waking Life”). Com Keanu Reeves, Robert Downey Jr., Winona Ryder, Wood Harrelson. “A Scanner Darkly” é um ensaio fascinante sobre os estados alterados da mente humana, em especial através de drogas químicas. Ambientado em pelo menos quatro camadas possíveis de realidade, o filme adapta a obra de Philip K. Dick (cujos escritos também inspiraram Blade Runner – O Caçador de Andróides) como uma análise da percepção inusitada do mundo, e a tristeza da mais dura loucura. Com imagens na técnica Rotoscope (animação sobreposta a imagens ‘live-action’) também usada em “Waking Life”, o filme nos leva ainda a uma Los Angeles de um futuro não muito distante, quando um policial usa um novo sistema de disfarce para investigar os seus próprios amigos. E a ele próprio. Seleção Festival de Cannes 2006 – Fora de Competição.
100 min. / Tela Plana / Dolby SR / Inédito / Warner / 16 anos.
---------------------------------------------
HORÁRIO
Sexta: 20h30
Sábado: 18h30
Domingo: 20h
Ter & Qui: - 18h20 / 20h20
Qua: 20h20
Promoção: Diretoria de Cultura - Rua: Henrique Dias, 609, Derby 3073.6688 e 3073.6689 - cinema@fundaj.gov.br
Ingressos: R$ 6,00 (inteira) – R$ 3,00 - (acima de 60 anos/estudantes)
“Sessão Bossa Mestre” - Todas as quartas-Feiras, professor apresentando documentação tem entrada franca no Cinema da Fundação,
Programação de 30 de março a 5 de abril 2007
Pré-Estréia, Sábado, 31 de Março, 20h30
Em Direção ao Sul (Vers le Sud, França/Canadá, 2005). De Laurent Cantet. Com Charlotte Rampling. Uma professora (branca) de literatura nos seus 50 e poucos anos visita o Haiti, nos anos 70. Desencantada com a rotina normal, ela descobre um novo prazer nos belos corpos de rapazes negros da praia paradisíaca que visita, corpos que podem ser comprados por quantias irrisórias. O diretor Laurent Cantet investiga a divisão entre mundo rico e mundo pobre, questões de raça e sexualidade nesse filme que vira a mesa em temas geralmente vistos como “delicados” quando o ponto de vista é masculino. Seleção Festival de Veneza.
105 min. / Imovision / Dolby SR / Inédito / 16 anos / Tela Plana
2a. Semana
Pro Dia Nascer Feliz(Brasil, 2006). De João Jardim. Depois de investigar o olhar no bem sucedido Janela da Alma (lançado no Recife em 2002 pelo Cinema da Fundação), o cineasta João Jardim registra o adolescente brasileiro e sua relação com a escola. São meninas e meninos, ricos e pobres, em situações que revelam precariedade, preconceito, violência e esperança. Em três estados brasileiros (Pernambuco, Rio, São Paulo), em classes sociais distintas, adolescentes falam da vida na escola, seus projetos e inquietações numa fase crucial da formação. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades no país a partir da realidade escolar. Prêmio especial do júri no Festival de Gramado 2006.
Exibição em digital / Tela Plana / Dolby / 88 min. / Copacabana Filmes / Livre
HORÁRIO
Sexta: 17h / 18h45
Sábado: 16h45
Domingo: 16h30 – 18h20
Terça e Quinta: 16h30
Qua (26 mar): 16h30 / 18h20
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2a. Semana
O HOMEM DUPLO/A Scanner Darkly (A Scanner Darkly, EUA, 2006). De Richard Linklater (diretor de “Antes do Pôr-do-Sol” e “Waking Life”). Com Keanu Reeves, Robert Downey Jr., Winona Ryder, Wood Harrelson. “A Scanner Darkly” é um ensaio fascinante sobre os estados alterados da mente humana, em especial através de drogas químicas. Ambientado em pelo menos quatro camadas possíveis de realidade, o filme adapta a obra de Philip K. Dick (cujos escritos também inspiraram Blade Runner – O Caçador de Andróides) como uma análise da percepção inusitada do mundo, e a tristeza da mais dura loucura. Com imagens na técnica Rotoscope (animação sobreposta a imagens ‘live-action’) também usada em “Waking Life”, o filme nos leva ainda a uma Los Angeles de um futuro não muito distante, quando um policial usa um novo sistema de disfarce para investigar os seus próprios amigos. E a ele próprio. Seleção Festival de Cannes 2006 – Fora de Competição.
100 min. / Tela Plana / Dolby SR / Inédito / Warner / 16 anos.
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HORÁRIO
Sexta: 20h30
Sábado: 18h30
Domingo: 20h
Ter & Qui: - 18h20 / 20h20
Qua: 20h20
quarta-feira, 28 de março de 2007
Ragú na Folha de São Paulo
A revista pernambucana Ragú foi assunto da Folha de São Paulo da última segunda-feira (26 de março). Na matéria, Pedro Cirne atribui à publicação qualidades como "atípica", "singular" e "independente". O mesmo texto ainda trata do lançamento da revista paulista Tulípio. Leia abaixo, a resenha, na íntegra:
Nova "Ragú" traz o diverso do Brasil
Revista de Pernambuco aposta em diferentes traços e temas; a gratuita "Tulípio" tem tiragem de 15 mil
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A revista vem de Pernambuco, mas os autores são de vários lugares do Brasil. O novo número da publicação independente "Ragú" acaba de ser lançado e, com ele, a oportunidade de ver trabalhos dos pernambucanos João Lin e Mascaro, do mineiro Lelis e dos gaúchos Fábio Zimbres e Gazzelli.
"Ragú" é uma revista atípica no mercado brasileiro. Além de trazer um alto número de artistas nacionais (17, além do alemão Hendrik Dorgathen), a publicação oferece uma grande variedade de estilos.
Assim a bonita e triste "O Pai", de Mascaro, é bem diferente da experimental "Fim - E Viveram Felizes para Sempre...", de Daniel Caballero.
Esta era uma das propostas dos criadores quando surgiu a "Ragú" número zero, em 2000, e que se mostra ainda forte sete anos depois: trazer quadrinho autoral, com a cara do criador.
Algo distante dos mangás ou das histórias de super-heróis e que às vezes é até difícil de enquadrar em algum gênero convencional, como o "Desenho Cop", de Jaca.
Outra proposta era mostrar a diversidade brasileira, dos estilos à seleção de temas. Não há menção a samba ou futebol, mas há uma história sobre meninos de rua, de Mascaro, e uma homenagem de Fábio Zimbres ao livro "Macunaíma", de Mário de Andrade.
Isso não significa que é necessário abordar, sempre, valores nacionais para sair em "Ragú". A maioria das histórias tem temas universais, como violência, e há até a adaptação de um texto escrito em sânscrito. Mas há uma identidade, uma independência na criação das histórias, que torna "Ragú" uma revista singular.
Tulípio
Há outra novidade entre os quadrinhos independentes, no eixo Rio-São Paulo: o quarto número da revista de humor "Tulípio", de Eduardo Rodrigues (texto) e Stocker (arte).
Autêntica "leitura de boteco", a revista de distribuição gratuita é estrelada por Tulípio, que sempre é retratado dentro de um bar, normalmente pedindo mais uma dose ao garçom ou tentando, em vão, atrair a atenção de mulheres bonitas.
"Tulípio" chega aos 15 mil exemplares. Além disso, irá, pela primeira vez, ser distribuída fora de São Paulo: em cinco bares no Rio, além de em 15 na capital paulista. Se Tulípio, o boêmio, de fato existisse, certamente brindaria a isso. Mais de uma vez.
segunda-feira, 26 de março de 2007
Os 300 de Esparta invadem o Jornal do Commercio
O Caderno C do Jornal do Commercio (Recife) trouxe ontem, dia 25 (domingo), duas matérias sobre Os 300 de Esparta, que já foi assunto deste blog em janeiro. Para ter acesso às matérias, é necessário ser assinante do jornal, ou do portal UOL.
Em "Heróis vestem vermelho", a repórter Carol Almeida trata do relançamento da série em quadrinhos em formato livro (capa acima), num belo trabalho da Devir Livraria. Na segunda, ela revela como foi o papo (no Rio de Janeiro) com o diretor da adaptação cinematográfica, Jack Snyder, e com Rodrigo Santoro, o único brasileiro a atuar na produção que estréia no Brasil neste dia 30 de março (sexta). Eles estarão no Brasil durante a semana toda, para promover a esperada adaptação da obra de Frank Miller.
Pra quem ainda não sabe, Rodrigo Santoro está quase irreconhecível interpretando Xerxes, o rei dos Persas, que em 480 a.C. invade a Grécia para ampliar seu império. Apesar de algumas interpretações enxergarem em Os 300 de Esparta uma crítica ao imperialismo norte-americano, o governo do Irã (país que fazia parte da Pérsia) condenou duramente a maneira como os persas são retratados, considerando o filme como um ataque à cultura iraniana, e atribuindo a ele "comportamento hostil, resultado de uma guerra psicológica e cultural". Ao que parece, um filme nunca é só um filme, até para os iranianos...
domingo, 25 de março de 2007
Lançamento do livro Frank Zappa - Detritos Cósmicos
Pra quem mora em São Paulo, a Conrad Editora convida para uma noite de autógrafos, com a presença de Fábio Massari e outros participantes da coletânea. Mais informações no post abaixo.
Lançamento do livro Zappa – Detritos Cósmicos
Quando: 29 de março (quinta-feira), a partir das 19h30
Onde: Livraria da Vila
Endereço: Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena – SP/ SP
Entrada franca
Lançamento do livro Zappa – Detritos Cósmicos
Quando: 29 de março (quinta-feira), a partir das 19h30
Onde: Livraria da Vila
Endereço: Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena – SP/ SP
Entrada franca
Site com paródia de Bob Dylan é retirado do ar
Não durou nem duas semanas. Quem tentar acessar o site Dylan Hears a Who, na busca das sete músicas que parodiam o folk sessentista de Bob Dylan, terá que encarar o recado acima. O conteúdo está categoricamente fora do ar há pelo menos seis dias, tempo suficiente para acumular a marca de 100 mil visitantes frustrados.
E olha que o cultuado bardo do violão e gaita não tem nada a ver com isso, apesar de ter bons motivos para tanto. O trote foi tão bom que alguns acreditaram ser mesmo seu novo disco.
Como a imagem indica, a proibição veio da Dr. Seuss Entreprises, a detentora dos direitos do desenhista e escritor homenageado pela brincadeira. Ao que parece, não gostaram da idéia, em plena comemoração dos 50 anos de Cat In The Hat, o personagem mais famoso de Dr. Seuss, ao lado do The Grinch. Se mesmo assim, o leitor quiser ouvir as canções, é só entrar em contato, pois consegui baixar tudo antes da censura...
Mais informações no post lá embaixo.
sábado, 24 de março de 2007
Animania - Novo programa de animação na TV
A TVE está exibindo nas últimas semanas o programa Animania, um novo espaço para notícias sobre animação brasileira. O programa deste domingo (hoje), às 19h, entrevista e exibe a produção do diretor César Cabral que, entre outras atividades cinematográfias, trabalha com animação stop-motion. Cabral falará sobre seu curta "O Dossiê Rê Bordosa", um dos selecionados para a exibição na mostra promovida pelo Museu da Imagem e do Som (MIS), e da produção do filme "Shpluph". Além do filme citado acima, o programa exibirá "Casquinhas: Ninja e Estrada".
sexta-feira, 23 de março de 2007
ECRGO - a maior loja de quadrinhos usados da internet brasileira?
Um gibi passa no máximo um mês na banca, para então, como diz o desenhista Spacca dois posts abaixo, "ser vendido como papel velho". Eu, que guardava minhas revistinhas com excessivo esmero - lavava as mãos antes de ler, e sentia cada amasso nas páginas como se fosse em mim -, sempre achei essa efemeridade um tanto cruel. Como criança dos anos 80, procurava os quadrinhos das décadas anteriores nos poucos pontos que se davam ao trabalho de vender, comprar e trocar gibis usados e muitas vezes embolorados.
Eis que ontem, pesquisando outro assunto no Google, descobri a ECRGO , uma loja virtual de compra e venda de gibis antigos. Na primeira página já dei de cara com reproduções de capas antigas como a acima, que me fizeram relembrar do tempo em que cuidava da minha velha coleção.
Sediada em Ribeirão Preto - SP, a ECRGO significa "Empresa Colecionadora de Revistas Gilciliano de Oliveira". Gilciliano, 35 anos, não tem por que se queixar dos negócios. Vende bem para o Brasil e também para Portugal. Tem 300 fiéis clientes cadastrados no site.
Somando mais de 6 mil itens invendáveis em sua coleção particular (chegou a pagar R$ 800 num site de leilões pela revista Mickey número um), em 1992 Gilciliano resolveu entrar no circuito de compra e venda de gibis. "Eu via um futuro promissor no mercado de revistas, haja vista que gastava um bom dinheiro comprando revistas para minhas coleções. Via como um negócio que no futuro se sustentaria por sí só. Na época eu até tinha emprego, mas não imaginava a dimensão que isto ia tomar, os negócios cresceram bem com a implantação das vendas via internet. No ano 2000 saí de meu emprego, e hoje trabalho apenas com isto", conta o empresário a este blog.
Gilciliano garante que tem a maior variedade de revistas em quadrinhos usadas e raras da internet brasileira: dispõe para venda cerca de 2 mil gibis antigos. Tem informações detalhadas sobre cada um: reprodução da capa, conservação e até peso (cerca de 50 a 100 gramas cada). Os preços variam de R$ 3 a R$ 150, dependendo da raridade da peça - a mais antiga data de 1950 (o faroeste Super X).
No meio de tantos relançamentos de luxo, é interessante encontrar redutos de gibis antigos como o de Gilciliano. E você, conhece algum?
O novo Capitão América?
Não é George Bush, mas poderia ser um de seus soldados do mal. Pois é, no começo deste mês mataram o vovô dos quadrinhos Capitão América. O assassinato pode ter ocorrido por razões ideológicas, já que, como bem colocou Nirlando Beirão em resenha da revista Carta Capital, somente Dick Cheney tem estômago pra fazer o jogo sujo.
Interpretações à parte, já se fala na volta triunfante. O site da Marvel colocou no ar mais lenha em torno do mistério da volta do mais imperialista dos justiceiros encapuzados: sem palavras, sugere que Frank Castle, o personagem cujo alter-ego é o truculento Justiceiro, incorpore a identidade assumida durante 60 anos pelo patriota Steve Rogers. Uma boa provocação por parte da editora: de qualquer maneira, a figura acima simboliza a nova América bem melhor do que a inocência moralista do antigo Capitão que, quem diria, deixará saudades.
História (do Brasil) em quadrinhos: entrevista com Spacca
É notável o crescimento da produção de HQs sobre episódios da História do Brasil. Nos últimos anos, tivemos "Hans Staden" (pelo pernambucano Jô Oliveira), "As Aventuras de Chalaça, o amigo do Imperador", e até um quadrinho sobre a presença judaica em Pernambuco no século 20 ("Passos Perdidos, História Desenhada"). A mais recente adaptação histórica em quadrinhos será a Revolta da Chibata, assinada pelos cearanses Olinto Gadelha (roteiro) e Hemetério (arte), a ser lançada ainda este ano pela Conrad - em breve, publicarei um texto somente sobre eles aqui no Quadro Mágico.
Para tratar do assunto com propriedade, nada como a palavra de quem faz. Autor de "Santô e os pais da aviação" (biografia de Santos Dumont) e "Viagem Quadrinhesca ao Brasil" (sobre a presença do artista francês Jean-Baptiste Debret na terra brasilis), o veterano João Spacca fala, com exclusividade para este blog, sobre os meandres da criação e da viabilidade deste tipo de projeto que mistura educação, arte e, claro, diversão. Seu currículo inclui a criação de desenhos publicitários, educacionais, infantis, participação na revista Níquel Náusea de Fernando Gonzales, e quase dez anos de charge editorial na Folha de São Paulo.
Alguns trechos da entrevista, realizada pelo jornalista e compositor recifense, Germano Rabello, serão utilizadas numa futura matéria, ainda sem nome. A ele e a Spacca, obrigado pela generosidade vertida em palavras.
É presumivelmente mais trabalhoso fazer um trabalho sobre temas históricos. Compensa realizar?
É realmente muito mais trabalhoso. Há várias maneiras de se trabalhar com temas históricos: pode-se usar a história somente como ponto de partida e fantasiar o resto (por exemplo, a minissérie "Quinto dos Infernos"); pode-se escolher uma época bem manjada que todos sabem como funciona (como o Velho Oeste Americano). Minha proposta, ou melhor dizendo: o meu jeito de trabalhar, é ser bastante fiel aos fatos ocorridos; é aproveitar os eventos reais, e montar com eles uma boa história, usando a seleção e o recorte, e raramente a invenção.
No meu caso, tenho trabalhado com épocas menos abordadas pela ficção, o que me obriga a pesquisar muitas informações, sobre tudo: questões políticas, hábitos do cotidiano, as tecnologias disponíveis, a moda, o jeito de falar, a moeda.
Por exemplo, quanto a uniformes militares: a Primeira Guerra Mundial é muitíssimo melhor documentada do que o período 1890-1910. Felizmente na internet há "nerds" e colecionadores que se ocupam de todos os assuntos... Depois de localizada a informação, deve-se desenhar isso de maneira ao mesmo tempo clara e natural: os personagens devem usar os objetos com naturalidade, não como se estivessem visitando um museu.
Se compensa? Bem, comparando com outros trabalhos, o ganho financeiro é muito menor, claro. Seis quadros de storyboard para publicidade dariam 1.200,00 reais: se o Santô me rendesse isso, eu deveria ganhar 144 páginas X 1.200,00 = 172 mil reais, o que eu talvez ganhe um dia se vender uns 40 mil livros em livraria, haha! (foram vendidos cerca de 3 mil, o que é considerado uma boa marca).
O que me move é o desejo de realizar, de ser lido, e de ser um bom negócio a
médio e longo prazo - ou seja, de ter um dia a possibilidade de trabalhar só
com isso em outros álbuns de quadrinhos. O que, considerando a possibilidade de alguns desses projetos serem adquiridos em grande quantidade por escolas e pelo governo, é uma esperança viável. O "Santô" foi adquirido em um projeto de bibliotecas públicas para todo o Brasil (PNBE).
Sente que isso lhe dá uma certa "legitimidade"? A HQ precisa desse referencial para ser aceita em círculos intelectuais ?
Sim, eu busco um tipo de legitimidade ao apoiar minha narrativa em uma pesquisa sólida, verificada nos mínimos detalhes. O que não impede de errar... por exemplo, no Debret eu desenhei o Conde da Barca retratado pelo Debret muito jovem. Estou mais ou menos desculpado porque, em ultima análise, é o Conde visto pelo Debret, e o artista era muito grato ao ministro de D.João. Mas o fato é que em 1816 Barca já estava meio alquebrado. Aprendi isto na pesquisa para o trabalho seguinte, que estou fazendo agora (D.João VI no Brasil). Então me preocupo com essas coisas, pensando não só na crítica dos leitores de quadrinhos, mas dos especialistas, historiadores etc.
Mas é uma coisa minha. Não sei se HQ "precisa desse referencial para ser aceita em círculos intelectuais". Tenho a impressão de que a HQ precisa desse e outros referenciais para ser aceita por quase todo mundo. A HQ, tradicionalmente, é um fruto da indústria cultural, uma revista barata de entretenimento descartável.
Mas como nos filmes B de Hollywood, surgiram autores que se destacaram e conseguiram fazer evoluir essa linguagem ao "estado da arte". Houve poucos períodos áureos (de grande vendagem ou de grande qualidade) nos quadrinhos. Ou ela era marginalizada porque era vista como lixo cultural; ou como obra de entretenimento puramente infantil; ou mais recentemente, como comunicação anacrônica, lutando para sobreviver na era dos games e da internet. Como sou leitor de algumas HQs muito boas, sei que essa linguagem pode alcançar níveis altos de qualidade.
E essa é a minha referência, quero fazer histórias cada vez melhores, tendo os grandes mestres como modelo. Espero que ela seja aceita, primeiro, como entretenimento, como leitura gostosa, prazeirosa para qualquer leitor. Em primeiro lugar também, como uma HQ de qualidade para quem conhece e gosta (espero conseguir isto, é sempre uma meta). Fora disto, o que vier é lucro.
Porque acha que tantos trabalhos sobre história estão surgindo ?
Não sei! Tomara que seja um efeito dominó: alguns lançamentos vão surgindo, conseguem ter boas vendas e repercussão, o que motiva outros autores e editores a apostar nesse filão etc. Pessoalmente, acho importante (além de gostar) porque a História nos informa sobre a nossa identidade, quem somos, de onde viemos.
Nos anos 30-40 do século XX houve também um boom de trabalhos históricos; algumas narrativas da época hoje nos parecem um pouco ingênuas e patrióticas num sentido deturpado; por isso há necessidade hoje de recontar a História de um jeito mais franco, mais objetivo.
O meu "Santô" neste sentido, creio, conseguiu evitar a armadilha do ufanismo para contar de forma mais imparcial e complexa a história de "quem voou primeiro" ou "quem é o pai da Aviação".
Será o efeito benéfico sobre os quadrinhos nacionais? Como você encara a abundância de títulos em livrarias e ausência de títulos (nacionais) nas bancas?
Eu aprendi a ler quadrinhos nas bancas, por isso lamento muito que não dê mais para fazer isso, da mesma forma. O cenário mudou muito: as bancas vendem de tudo - viraram uma loja de conveniência - vendem até revista... e ao mesmo tempo, deixaram de ser a principal fonte de informação barata - a internet ganha de longe.
O esquema de distribuição nas bancas, no entanto, parece que é o mesmo; só tem vez a publicação que vende muito e tem respaldo de outras mídias; além disso, um gibi fica pouco tempo na banca, corre o risco de ficar escondido e é recolhido logo e é vendido como papel velho...
Acho inviável, acho que é um esquema que acabou (por enquanto, pelo menos). O livro de quadrinhos na livraria é mais perene. Acabou virando um "alternativo de luxo": o que não tem poder para venda massiva, vai tentar a sorte na livraria. Acho que é o que é possível, hoje. E tem vida mais longa.
Em que nível a Cia. Das Letras interferiu no seu trabalho? Eles
encomendaram o "Viagem quadrinhesca" depois do sucesso de "Santô", ou você
propôs o tema?
Isso nasceu de um jeito meio inesperado. Logo em seguida ao "Santô", eu propus à editora uma biografia de Monteiro Lobato, na mesma levada do Santô, com 120 páginas. E o projeto foi aceito e eu comecei a tocar. Mas ao mesmo tempo, eles me pediram uma HQ de 18 páginas com o tema "viagem".
Podia ser qualquer coisa - o objetivo era comemorar os 20 anos da Cia numa edição coletiva, com outros quadrinhistas. Eu é que propus algo sobre História do Brasil, porque havia lido vários diários de viagem de estrangeiros ao Brasil no tempo do Império (Saint-Hilaire e outros). Aí pensei em Debret, e eu não conhecia direito a história dele. Li por alto e, apesar de não ter sido uma vida muito aventureira, encontrei alguns ganchos dramáticos que me ajudariam a construir uma narrativa interessante. Como o assunto é justamente o que a Lili Schwarcz (dona da editora) conhece profundamente, a primeira versão, com a qual eu não estava satisfeito, não
foi aceita. Ela fez muitas observações, e de fato eu tentei colocar muita coisa em apenas 18 páginas e ficou confuso.
Refiz o roteiro, focalizando mais o aspecto do pintor neoclássico nos trópicos, e ela gostou muito. Foi divertido, como se eu estivesse fazendo uma tese e ela fosse a orientadora. Nisso, a edição coletiva dançou. Mas eles já tinham aprovado a hitória e ela estava em produção, então eu sugeri a eles que fizessem da HQ um álbum,
completando com gravuras do Debret e cronologia etc. Eles toparam, e acabou ficando uma edição com cara de livro didático, que está sendo muito bem aceita pelos professores. E o Lobato continua de pé.
Para tratar do assunto com propriedade, nada como a palavra de quem faz. Autor de "Santô e os pais da aviação" (biografia de Santos Dumont) e "Viagem Quadrinhesca ao Brasil" (sobre a presença do artista francês Jean-Baptiste Debret na terra brasilis), o veterano João Spacca fala, com exclusividade para este blog, sobre os meandres da criação e da viabilidade deste tipo de projeto que mistura educação, arte e, claro, diversão. Seu currículo inclui a criação de desenhos publicitários, educacionais, infantis, participação na revista Níquel Náusea de Fernando Gonzales, e quase dez anos de charge editorial na Folha de São Paulo.
Alguns trechos da entrevista, realizada pelo jornalista e compositor recifense, Germano Rabello, serão utilizadas numa futura matéria, ainda sem nome. A ele e a Spacca, obrigado pela generosidade vertida em palavras.
É presumivelmente mais trabalhoso fazer um trabalho sobre temas históricos. Compensa realizar?
É realmente muito mais trabalhoso. Há várias maneiras de se trabalhar com temas históricos: pode-se usar a história somente como ponto de partida e fantasiar o resto (por exemplo, a minissérie "Quinto dos Infernos"); pode-se escolher uma época bem manjada que todos sabem como funciona (como o Velho Oeste Americano). Minha proposta, ou melhor dizendo: o meu jeito de trabalhar, é ser bastante fiel aos fatos ocorridos; é aproveitar os eventos reais, e montar com eles uma boa história, usando a seleção e o recorte, e raramente a invenção.
No meu caso, tenho trabalhado com épocas menos abordadas pela ficção, o que me obriga a pesquisar muitas informações, sobre tudo: questões políticas, hábitos do cotidiano, as tecnologias disponíveis, a moda, o jeito de falar, a moeda.
Por exemplo, quanto a uniformes militares: a Primeira Guerra Mundial é muitíssimo melhor documentada do que o período 1890-1910. Felizmente na internet há "nerds" e colecionadores que se ocupam de todos os assuntos... Depois de localizada a informação, deve-se desenhar isso de maneira ao mesmo tempo clara e natural: os personagens devem usar os objetos com naturalidade, não como se estivessem visitando um museu.
Se compensa? Bem, comparando com outros trabalhos, o ganho financeiro é muito menor, claro. Seis quadros de storyboard para publicidade dariam 1.200,00 reais: se o Santô me rendesse isso, eu deveria ganhar 144 páginas X 1.200,00 = 172 mil reais, o que eu talvez ganhe um dia se vender uns 40 mil livros em livraria, haha! (foram vendidos cerca de 3 mil, o que é considerado uma boa marca).
O que me move é o desejo de realizar, de ser lido, e de ser um bom negócio a
médio e longo prazo - ou seja, de ter um dia a possibilidade de trabalhar só
com isso em outros álbuns de quadrinhos. O que, considerando a possibilidade de alguns desses projetos serem adquiridos em grande quantidade por escolas e pelo governo, é uma esperança viável. O "Santô" foi adquirido em um projeto de bibliotecas públicas para todo o Brasil (PNBE).
Sente que isso lhe dá uma certa "legitimidade"? A HQ precisa desse referencial para ser aceita em círculos intelectuais ?
Sim, eu busco um tipo de legitimidade ao apoiar minha narrativa em uma pesquisa sólida, verificada nos mínimos detalhes. O que não impede de errar... por exemplo, no Debret eu desenhei o Conde da Barca retratado pelo Debret muito jovem. Estou mais ou menos desculpado porque, em ultima análise, é o Conde visto pelo Debret, e o artista era muito grato ao ministro de D.João. Mas o fato é que em 1816 Barca já estava meio alquebrado. Aprendi isto na pesquisa para o trabalho seguinte, que estou fazendo agora (D.João VI no Brasil). Então me preocupo com essas coisas, pensando não só na crítica dos leitores de quadrinhos, mas dos especialistas, historiadores etc.
Mas é uma coisa minha. Não sei se HQ "precisa desse referencial para ser aceita em círculos intelectuais". Tenho a impressão de que a HQ precisa desse e outros referenciais para ser aceita por quase todo mundo. A HQ, tradicionalmente, é um fruto da indústria cultural, uma revista barata de entretenimento descartável.
Mas como nos filmes B de Hollywood, surgiram autores que se destacaram e conseguiram fazer evoluir essa linguagem ao "estado da arte". Houve poucos períodos áureos (de grande vendagem ou de grande qualidade) nos quadrinhos. Ou ela era marginalizada porque era vista como lixo cultural; ou como obra de entretenimento puramente infantil; ou mais recentemente, como comunicação anacrônica, lutando para sobreviver na era dos games e da internet. Como sou leitor de algumas HQs muito boas, sei que essa linguagem pode alcançar níveis altos de qualidade.
E essa é a minha referência, quero fazer histórias cada vez melhores, tendo os grandes mestres como modelo. Espero que ela seja aceita, primeiro, como entretenimento, como leitura gostosa, prazeirosa para qualquer leitor. Em primeiro lugar também, como uma HQ de qualidade para quem conhece e gosta (espero conseguir isto, é sempre uma meta). Fora disto, o que vier é lucro.
Porque acha que tantos trabalhos sobre história estão surgindo ?
Não sei! Tomara que seja um efeito dominó: alguns lançamentos vão surgindo, conseguem ter boas vendas e repercussão, o que motiva outros autores e editores a apostar nesse filão etc. Pessoalmente, acho importante (além de gostar) porque a História nos informa sobre a nossa identidade, quem somos, de onde viemos.
Nos anos 30-40 do século XX houve também um boom de trabalhos históricos; algumas narrativas da época hoje nos parecem um pouco ingênuas e patrióticas num sentido deturpado; por isso há necessidade hoje de recontar a História de um jeito mais franco, mais objetivo.
O meu "Santô" neste sentido, creio, conseguiu evitar a armadilha do ufanismo para contar de forma mais imparcial e complexa a história de "quem voou primeiro" ou "quem é o pai da Aviação".
Será o efeito benéfico sobre os quadrinhos nacionais? Como você encara a abundância de títulos em livrarias e ausência de títulos (nacionais) nas bancas?
Eu aprendi a ler quadrinhos nas bancas, por isso lamento muito que não dê mais para fazer isso, da mesma forma. O cenário mudou muito: as bancas vendem de tudo - viraram uma loja de conveniência - vendem até revista... e ao mesmo tempo, deixaram de ser a principal fonte de informação barata - a internet ganha de longe.
O esquema de distribuição nas bancas, no entanto, parece que é o mesmo; só tem vez a publicação que vende muito e tem respaldo de outras mídias; além disso, um gibi fica pouco tempo na banca, corre o risco de ficar escondido e é recolhido logo e é vendido como papel velho...
Acho inviável, acho que é um esquema que acabou (por enquanto, pelo menos). O livro de quadrinhos na livraria é mais perene. Acabou virando um "alternativo de luxo": o que não tem poder para venda massiva, vai tentar a sorte na livraria. Acho que é o que é possível, hoje. E tem vida mais longa.
Em que nível a Cia. Das Letras interferiu no seu trabalho? Eles
encomendaram o "Viagem quadrinhesca" depois do sucesso de "Santô", ou você
propôs o tema?
Isso nasceu de um jeito meio inesperado. Logo em seguida ao "Santô", eu propus à editora uma biografia de Monteiro Lobato, na mesma levada do Santô, com 120 páginas. E o projeto foi aceito e eu comecei a tocar. Mas ao mesmo tempo, eles me pediram uma HQ de 18 páginas com o tema "viagem".
Podia ser qualquer coisa - o objetivo era comemorar os 20 anos da Cia numa edição coletiva, com outros quadrinhistas. Eu é que propus algo sobre História do Brasil, porque havia lido vários diários de viagem de estrangeiros ao Brasil no tempo do Império (Saint-Hilaire e outros). Aí pensei em Debret, e eu não conhecia direito a história dele. Li por alto e, apesar de não ter sido uma vida muito aventureira, encontrei alguns ganchos dramáticos que me ajudariam a construir uma narrativa interessante. Como o assunto é justamente o que a Lili Schwarcz (dona da editora) conhece profundamente, a primeira versão, com a qual eu não estava satisfeito, não
foi aceita. Ela fez muitas observações, e de fato eu tentei colocar muita coisa em apenas 18 páginas e ficou confuso.
Refiz o roteiro, focalizando mais o aspecto do pintor neoclássico nos trópicos, e ela gostou muito. Foi divertido, como se eu estivesse fazendo uma tese e ela fosse a orientadora. Nisso, a edição coletiva dançou. Mas eles já tinham aprovado a hitória e ela estava em produção, então eu sugeri a eles que fizessem da HQ um álbum,
completando com gravuras do Debret e cronologia etc. Eles toparam, e acabou ficando uma edição com cara de livro didático, que está sendo muito bem aceita pelos professores. E o Lobato continua de pé.
quinta-feira, 22 de março de 2007
Animação na tela da Fundaj
A partir desta semana, o Quadro Mágico passa a publicar a programação do Cinema da Fundação, sala que desde 1997 vem oferecendo aos cinéfilos do Recife uma, digamos, alternativa ao que passa nas salas comerciais. A começar por este que vos escreve, tantas vezes salvo por filmes como Touro Indomável, Funny Games, 2001, Invasões Bárbaras, Dançando no Escuro, Irreversível, Caché, etc, etc, e bote etc. nisso!
Ano passado, graças ao patrocínio da Chesf, a sala - e o público - ganhou o tratamento que merece: equipamento, climatização e poltronas de primeira, mais a reforma na estrutura.
A novidade mais recente é a aquisição do equipamento de projeção digital, que passa a funcionar este mês de março. Um sistema que desobriga aos cinemas se prenderem a títulos distribuídos em película. Agora, um filme pode ser exibido a partir de um HD, internet ou sinal de satélite.
A estréia da semana é
Scanner Darkly, de Richard Linklater, prossegue com a técnica iniciada pelo diretor em 2001 no filme Waking Life, a rotoscopia, técnica que transforma cenas "live action" em desenho animado ultra-realista. Desta vez, em corpos de gente famosa como Keanu Reeves (acima), Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Rider.
Abaixo, a programação completa:
-------------------------------------------------
CINEMA da FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Promoção: Diretoria de Cultura - Rua: Henrique Dias, 609, Derby 3073.6688 e 3073.6689 -cinema@fundaj.gov.br – Ingressos: R$ 6,00 (inteira) – R$ 3,00 - (acima de 60 anos/estudantes)
Semana 11
Programação de 23 a 29 de março de 2007
Lembramos que Todas as Quartas-Feiras, Professor apresentando documentação tem entrada franca no Cinema da Fundação, via “Sessão Bossa Mestre”
Pro Dia Nascer Feliz (Brasil, 2006). De João Jardim. Depois de investigar o olhar no bem sucedido Janela da Alma (lançado no Recife em 2002 pelo Cinema da Fundação), o cineasta João Jardim registra o adolescente brasileiro e sua relação com a escola. São meninas e meninos, ricos e pobres, em situações que revelam precariedade, preconceito, violência e esperança. Em três estados brasileiros (Pernambuco, Rio, São Paulo), em classes sociais distintas, adolescentes falam da vida na escola, seus projetos e inquietações numa fase crucial da formação. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades no país a partir da realidade escolar. Prêmio especial do júri no Festival de Gramado 2006.
Exibição em digital / Tela Plana / Dolby SR / 88 min. / Copacabana Filmes / Livre
HORÁRIO
Sexta (23mar): 17h / 18h45
Sábado (24mar): 18h30
Domingo, terça e quinta (25, 27, 29 mar): 16h30
Qua (26 mar): 16h30 / 18h20
--------------------------------------------
ESTRÉIA
De Richard Linklater - O HOMEM DUPLO (A Scanner Darkly, EUA, 2006). Com Keanu Reeves, Robert Down Jr., Winona Ryder, Wood Harrelson. “A Scanner Darkly” é um ensaio fascinante sobre os estados alterados da mente humana, em especial através de drogas químicas. Ambientado em pelo menos quatro camadas possíveis de realidade, o filme adapta a obra de Philip K. Dick (cujos escritos também inspiraram Blade Runner – O Caçador de Andróides) como uma análise da percepção inusitada do mundo, e a tristeza da mais dura loucura. Com imagens na técnica Rotoscope (animação sobreposta a imagens ‘live-action’) também usada em “Waking Life”, o filme nos leva ainda a uma Los Angeles de um futuro não muito distante, quando um policial usa um novo sistema de disfarce para investigar os seus próprios amigos. E a ele próprio. Seleção Festival de Cannes 2006 – Fora de Competição.
100 min. / Tela Plana / Dolby SR / Inédito / Warner / 16 anos.
HORÁRIO
Sexta, sábado (23, 24 mar): 20h30
Domingo (25mar): 18h20 – 20h30
Ter & Qui (27, 29 mar) : - 18h20 / 20h20
Qua (26 mar): 20h20
------------------------------------
7a. Semana – Sessão Especial
O Labirinto do Fauno (El Labirinto del Fauno, México, 2006), de Guillermo del Toro. Com Ivana Baquero, Sergi López, Maribel Verdu. Em 1944, logo após a guerra civil da Espanha, uma menina se muda para o norte do país com seu padrasto e sua mãe grávida. Ela se esconde da dura realidade, criando um mundo imaginário de fadas e contos. Vencedor de 3 Oscars. 16 anos / Warner / 112 min. / Dolby SR / Tela Plana
Horário
Sábado (24 mar): 16h10
Ano passado, graças ao patrocínio da Chesf, a sala - e o público - ganhou o tratamento que merece: equipamento, climatização e poltronas de primeira, mais a reforma na estrutura.
A novidade mais recente é a aquisição do equipamento de projeção digital, que passa a funcionar este mês de março. Um sistema que desobriga aos cinemas se prenderem a títulos distribuídos em película. Agora, um filme pode ser exibido a partir de um HD, internet ou sinal de satélite.
A estréia da semana é
Scanner Darkly, de Richard Linklater, prossegue com a técnica iniciada pelo diretor em 2001 no filme Waking Life, a rotoscopia, técnica que transforma cenas "live action" em desenho animado ultra-realista. Desta vez, em corpos de gente famosa como Keanu Reeves (acima), Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Rider.
Abaixo, a programação completa:
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CINEMA da FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Promoção: Diretoria de Cultura - Rua: Henrique Dias, 609, Derby 3073.6688 e 3073.6689 -cinema@fundaj.gov.br – Ingressos: R$ 6,00 (inteira) – R$ 3,00 - (acima de 60 anos/estudantes)
Semana 11
Programação de 23 a 29 de março de 2007
Lembramos que Todas as Quartas-Feiras, Professor apresentando documentação tem entrada franca no Cinema da Fundação, via “Sessão Bossa Mestre”
Pro Dia Nascer Feliz (Brasil, 2006). De João Jardim. Depois de investigar o olhar no bem sucedido Janela da Alma (lançado no Recife em 2002 pelo Cinema da Fundação), o cineasta João Jardim registra o adolescente brasileiro e sua relação com a escola. São meninas e meninos, ricos e pobres, em situações que revelam precariedade, preconceito, violência e esperança. Em três estados brasileiros (Pernambuco, Rio, São Paulo), em classes sociais distintas, adolescentes falam da vida na escola, seus projetos e inquietações numa fase crucial da formação. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades no país a partir da realidade escolar. Prêmio especial do júri no Festival de Gramado 2006.
Exibição em digital / Tela Plana / Dolby SR / 88 min. / Copacabana Filmes / Livre
HORÁRIO
Sexta (23mar): 17h / 18h45
Sábado (24mar): 18h30
Domingo, terça e quinta (25, 27, 29 mar): 16h30
Qua (26 mar): 16h30 / 18h20
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ESTRÉIA
De Richard Linklater - O HOMEM DUPLO (A Scanner Darkly, EUA, 2006). Com Keanu Reeves, Robert Down Jr., Winona Ryder, Wood Harrelson. “A Scanner Darkly” é um ensaio fascinante sobre os estados alterados da mente humana, em especial através de drogas químicas. Ambientado em pelo menos quatro camadas possíveis de realidade, o filme adapta a obra de Philip K. Dick (cujos escritos também inspiraram Blade Runner – O Caçador de Andróides) como uma análise da percepção inusitada do mundo, e a tristeza da mais dura loucura. Com imagens na técnica Rotoscope (animação sobreposta a imagens ‘live-action’) também usada em “Waking Life”, o filme nos leva ainda a uma Los Angeles de um futuro não muito distante, quando um policial usa um novo sistema de disfarce para investigar os seus próprios amigos. E a ele próprio. Seleção Festival de Cannes 2006 – Fora de Competição.
100 min. / Tela Plana / Dolby SR / Inédito / Warner / 16 anos.
HORÁRIO
Sexta, sábado (23, 24 mar): 20h30
Domingo (25mar): 18h20 – 20h30
Ter & Qui (27, 29 mar) : - 18h20 / 20h20
Qua (26 mar): 20h20
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7a. Semana – Sessão Especial
O Labirinto do Fauno (El Labirinto del Fauno, México, 2006), de Guillermo del Toro. Com Ivana Baquero, Sergi López, Maribel Verdu. Em 1944, logo após a guerra civil da Espanha, uma menina se muda para o norte do país com seu padrasto e sua mãe grávida. Ela se esconde da dura realidade, criando um mundo imaginário de fadas e contos. Vencedor de 3 Oscars. 16 anos / Warner / 112 min. / Dolby SR / Tela Plana
Horário
Sábado (24 mar): 16h10
sexta-feira, 16 de março de 2007
Hora de conferir as novas crias do DOCTV
Às 23h deste domingo tem início a exibição em rede nacional dos 35 documentários que fazem o programa DOCTV III, uma das melhores iniciativas culturais do governo Lula. Pra quem ainda não conhece o projeto, taí sua apresentação instituicional:
"O DOCTV é um Programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, Fundação Padre Anchieta / TV Cultura e Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais – ABEPEC, com apoio da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD, que tem como objetivos gerais a regionalização da produção de documentários, a articulação de um circuito nacional de teledifusão e a criação de ambientes de mercado para o documentário brasileiro".
Todo domingo, a partir de 18/03 e até o fim de 2007, na TV Cultura, cada estado brasileiro mostrará sua produção original e única, a compor a narartiva de um país continental. A primeira produção vem da Bahia: "Os Negativos", de Angel Dièz, enfoca a relação entre a fotógrafa Arlete Soares e o antropólogo Pierre Verger.
A contribuição pernambucana ao DOC deste ano é “Uma Cruz, uma História e uma Estrada” , cuja estréia na TV está marcada para 06/05. O diretor, Wilson Freire, recebeu do programa R$ 100 mil para percorrer 3.500 km do litoral ao sertão, e registrar histórias por trás das cruzes encontradas nas estradas.
Quem mora em Recife poderá assistir ao vídeo de Wilson Freire primeiro, nesta segunda-feira, às 19h, no Cinema da Fundação (Fundaj/Derby). Márcia Mansur (coordenadora do DOC Pernambucano) e Éthel Oliveira (organizadora do evento), convidam para a pré-estréia, onde se apresentarão cantadores do sertão que participaram das filmagens.
A conferir.
"O DOCTV é um Programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, Fundação Padre Anchieta / TV Cultura e Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais – ABEPEC, com apoio da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD, que tem como objetivos gerais a regionalização da produção de documentários, a articulação de um circuito nacional de teledifusão e a criação de ambientes de mercado para o documentário brasileiro".
Todo domingo, a partir de 18/03 e até o fim de 2007, na TV Cultura, cada estado brasileiro mostrará sua produção original e única, a compor a narartiva de um país continental. A primeira produção vem da Bahia: "Os Negativos", de Angel Dièz, enfoca a relação entre a fotógrafa Arlete Soares e o antropólogo Pierre Verger.
A contribuição pernambucana ao DOC deste ano é “Uma Cruz, uma História e uma Estrada” , cuja estréia na TV está marcada para 06/05. O diretor, Wilson Freire, recebeu do programa R$ 100 mil para percorrer 3.500 km do litoral ao sertão, e registrar histórias por trás das cruzes encontradas nas estradas.
Quem mora em Recife poderá assistir ao vídeo de Wilson Freire primeiro, nesta segunda-feira, às 19h, no Cinema da Fundação (Fundaj/Derby). Márcia Mansur (coordenadora do DOC Pernambucano) e Éthel Oliveira (organizadora do evento), convidam para a pré-estréia, onde se apresentarão cantadores do sertão que participaram das filmagens.
A conferir.
Revistas de cultura abrem espaço para humor e quadrinhos
Mais humor e quadrinhos invadindo revistas de cultura: a Continente Multicultural de março traz um especial sobre humor gráfico no Brasil, enquanto a Revista Cult dedicou seu dossiê de março à "revolução" dos quadrinhos.
Na Continente, três matérias tratam de caricaturistas e chargistas que fizeram e fazem história nos jornais e revistas brasileiras desde os anos 30 do século 19. A principal, assinada por Carlos Haag, traça um panorama nacional e cronológico sobre o assunto, a partir de 1837, quando um desenho de Manoel de Araújo Porto-Alegre denunciava um caso de corrupção nos Correios. Pioneirismo desmentido pelo cartunista e pesquisador Laílson Cavalcanti, que em sua matéria recorre à publicação primordial O Carcundão , jornal satírico publicado no Recife entre 25 de abril e 16 de maio de 1831 para indicar uma ilustração anônima de um burro corcunda destruindo a coices uma coluna grega como a primeira caricatura publicada no Brasil. Por sua vez, Diego Dubard se debruça sobre a pouco valorizada história do cartunismo pernambucano, uma trajetória que tomou vulto com a vinda da Corte Real ao Brasil, passou por Gilberto Freire assinando com um pseudônimo, por um talentoso menino que morou na rua, conhecido como Gato Félix, até desembocar no conhecido Papa-Figo e a produção atual. Abaixo, um desenho do Gato Félix:
Surpreendente o número de páginas dado pela Cult para tratar de quadrinhos, praticamente ausentes das páginas da revista especializada em literatura nos mais de dez anos de revista. Reflexo da mudança de editora, ou da mudança no mercado de quadrinhos? O pesquisador Gonçalo Jr. faz o diagnóstico no texto "Bancas em baixa, livrarias em alta", e conclui que a crise das revistas em quadrinhos de banca de jornal tem mais a ver com a falta de criatividade da atual produção do que com a suposta ameaça da internet e jogos eletrônicos. Afinal, nos anos 80, auge comercial dos gibis, já havia televisão... De quebra, matérias sobre a história das graphic novels, censura, musas eróticas das HQs, e uma entrevista com um Ziraldo um tanto antipático.
quinta-feira, 15 de março de 2007
Nova HQ de Art Spiegelman no Brasil
Não bastasse ter publicado HQs inéditas de Angeli, Laerte e ilustrações de Millôr em edições passadas, a revista Piauí deste mês se superou ao trazer um trabalho inédito do americano Art Spiegelman.
"Retrato do artista quando jovem" segue a linha biográfica-experimental já conhecidos no Brasil através dos famosos livros Maus e À sombra das torres ausentes. Aliás, a história tem a mesma proposta da que Angeli publicou meses atrás, sobre sua relação de amor obsessivo com um vinil dos Rolling Stones. Só que Spiegelman vasculha sua memória um tanto perturbada para contar como começou a desenhar. Um deleite, do começo ao fim.
Artistas pernambucanos em homenagem a Frank Zappa
A Conrad Editora acaba de publicar uma coletânea sobre Frank Zappa, "Zappa - detritos cósmicos", organizada por Fábio Massari, o crítico e pesquisador musical fissurado pelo guitarrista amalucado e bigodudo falecido em 1993. Longe do saudosismo "ah, que falta ele nos faz", o livro tem a participação de 38 músicos, escritores, jornalistas e artistas gráficos, entre eles Fernando Bonassi, Wander Wildner, Cláudio Tognolli, Angeli, Caco Galhardo, Alan Sieber, o bluseiro André Chrstovam, Rogério Skylab, e os pernambucanos Neilton (guitarrista da Devotos), Flavão e João Lin (do coletivo de ilustradores Ragú).
"Recebi o convite através de Neilton. O Massari, que conhece a Ragú, pediu para Neilton entrar em contato comigo, Flavão, Mascaro e Amaral (do Piauí). Topei de primeira, porque também gosto da música do Zappa, não conheço profundamente, mas curto muito o espírito de experimentação e o humor corrosivo da músca dele", disse João Lin, a este blog, para o qual enviou o nada careta desenho com o qual participa da coletânea:
Abaixo, a HQ de Alan Sieber (clique para ampliar):
"Recebi o convite através de Neilton. O Massari, que conhece a Ragú, pediu para Neilton entrar em contato comigo, Flavão, Mascaro e Amaral (do Piauí). Topei de primeira, porque também gosto da música do Zappa, não conheço profundamente, mas curto muito o espírito de experimentação e o humor corrosivo da músca dele", disse João Lin, a este blog, para o qual enviou o nada careta desenho com o qual participa da coletânea:
Abaixo, a HQ de Alan Sieber (clique para ampliar):
quarta-feira, 14 de março de 2007
Mais Dylan do que Bob Dylan!
Inebriante. É o que posso dizer após ouvir as músicas do projeto Dylan Hears a Who. Tudo indica que o que temos à frente á uma raridade revelada 40 anos depois. Ou então uma recaída de Bob Dylan às suas origens, em pleno 2007. Nada disso: as sete músicas que cantam os textos do escritor e cartunista norte-americano Dr. Seuss, são uma impecável e descarada imitação.
O site, no ar apenas há alguns dias, conta com vários milhares de visitantes, quem em blogs espalhados pelo mundo exclamam: weird! awesome! pretty good! O disco seria uma homenagem do jovem Bob Dylan ao Dr. Seuss, que completaria 103 anos no dia do lançamento do site, se estivesse vivo. E tambem à seu personagem mais famoso, Cat In The Hat, que comemora 50 anos de criação.
Sobre as músicas digo, como admirador confesso da fase sessentista de Mr. Zimmerman: acachapantes. É incrível como os envolvidos nessa farsa de luxo decomporam os elementos que fizeram a estética dylanesca estabelecida em Highway 61 Revisited, e gravaram composições inéditas, capazes de enganar o mais fiel fã do cantor. O que dá um nó na cabeça, é que tudo soa mais "Bob Dylan" do que o proprio cantor... inclusiva na subversão e ironia que tudo isso significa.
Mesmo oferecendo as faixas e a arte do livreto do CD para download gratuito, o site deixa em aberto dados básico, como data, estúdio, banda, e qualquer outro indício da procedência das gravações. Tudo para manter a ilusão de que o álbum faz parte da primordial e cultuada discografia dylanesca, sem ao mesmo tempo afirmar isso.
Falta, como diz o presidente, o "dado concreto" que confirme esta ou aquela explicação. Quem sabe esta seja uma peça pregada pelo próprio Dylan, num genial acesso de bom humor. Que venham outros!
quarta-feira, 7 de março de 2007
O Motoqueiro Fantasma - desperdício flamejante
Não sou fã do cara, por isso, peço licença e abro a roda para contestações: o Motoqueiro Fantasma é tão ruim que dói. A primeira adaptação de um personagem dos quadrinhos para o cinema neste ano de 2007 até que tenta dar dignidade ao herói, mas não passa de uma produção rasa, brega, cheia de clichês, interpretações dignas de novela mexicana, sem falar da música chinfrim.
Nos últimos anos assisti a tantos bons filmes baseados em HQ, que este filme parece voltar ao tempo em que só se fazia lixo como Elektra, Mulher Gato e Demolidor, ou pior: Spawn, Justiceiro, e a franquia Batman dos anos 90.
O Motoqueiro é um personagem com potencial, uma história e visual bem interessante para uma tela de cinema, e esta poderia ter sido sua chance de ser atualizado para o século 21. Mas o desastre foi tanto que nem a combinação Nicolas Cage – Peter Fonda – Sam Elliot conseguiu emprestar o mínimo de decência à produção dirigida por Mark Steven Johnson. E olha que o primeiro é fã tatuado do Motoqueiro, o segundo é o eterno Easy Rider, e o terceiro, um veterano do western.
Personagem surgido nos anos 70, com muitas correntes, caveiras, demônios e super máquinas, o Motoqueiro Fantasma logo caiu nas graças e da então nascente cultura Hell Angel, assim como dos sado-masoquistas. Fazendo referência a esses universos bem particulares, um brilho surge em certas seqüências, como o Motoqueiro e espalhando fogo pela cidade e pilotando pelo deserto (ao lado do cavaleiro Sam Eliott). No entanto, as lutas com o demônio filho de Lúcifer são, no mau sentido, um horror. E nas cenas românticas então? A caveira flamejante diminui a chama como fosse a boca de um fogão Dako.
Melhor esquecer o assunto. A fila anda. Por sorte, ainda este mês estréia Os 300 de Esparta e, até a metade do ano, Homem-Aranha 3 e Quarteto com Surfista Prateado.
sexta-feira, 2 de março de 2007
Quadrinhos de graça na Palestina, Líbano e Iraque
Vejam só. Revistas em quadrinhos estão sendo distribuídas de graça para jovens árabes vítimas da guerra. Quem dá o recado é de Naif Al Mutawa, criador do THE 99, a HQ que circula no Oriente Médio desde o ano passado. São vinte mil exemplares grátis, fruto de uma parceria entre a editora kwaitiana Teshkeel, a transportadora Aramex e a Unesco.
“Quando criança, livros e quadrinhos eram minha maior proteção contra os problemas. Me ensinaram que a verdade, justiça e amizada são admiráveis qualidades. Acredito que as crianças de nossa região que foram atingidas pela guerra, desapropriação e pobreza precisam desta mensagem mais do que nunca”, diz Mutawa.
THE 99 é o nome dado ao grupo de super-heróis islâmicos concebidos nos moldes da americana Marvel Comics. O agrupamento é formado por jovens do mundo todo (tem um brasileiro na parada), que desenvolveram poderes especiais concedidos por Alah, e previstos no Alcorão.
O uso da estética Marvel em The 99 não é mera coincidência: Mutawa, através de sua editora, a Teshkeel, detém os direitos de publicação de personagens como o Homem Aranha, Super-homem e X-Men nos países de língua árabe. Todos estes títulos fazem parte do pacote concedido à Unesco, onde Mutawa acumula prêmios como escritor de livros infantis.
Militante do diálogo pacífico entre os hemisférios, Mutawa não vê conflito algum em conciliar super-heróis muçulmanos e norte-americanos na mesma editora. Pelo contrário, é justamente neste cruzamento de culturas que sua busca se realiza: diminuir o preconceito em torno do islamismo.
No ano passado entrevistei Naif Al Mutawa para o Diario de Pernambuco (nunca publicada), em virtude de sua primeira visita ao Brasil, durante a edição 2006 do FIHQ-PE. Não traduzi (preguiçoso), mas vale a pena gastar o inglês. Tá bom, traduzi apenas uma frase, que considero bem importante. "O cristianismo não deve ser reduzido ao nazismo ou à membros da Ku Klux Klan, assim como o islamismo não deve ser reduzido à Al-Qaeda". Salam!
What is The 99 most important quest?
The most important quest is showing the readers-both Muslim and non-Muslim-the many wonderful attributes of Allah that need to be emulated. Attributes like compassion and mercy and wisdom and creativity, etc... Their most important quest is that they teach readers the many wonderful attributes and not think of Islam as kidnappings in Iraq or Al-Qaeda. Equating Islam to these terrible agendas is like linking Christianity to Nazism. The 99’s most important quest is to win the readers-both Muslims and non-Muslims- into believing in the good in Islamic culture.
Did you define how´s going to be the brazilian hero?
Not yet. But we will be running a competition on our website for the ones that we have not defined yet. This competition will run on www.the99.org
How does THE 99 can reduce prejudice against Islam?
I certainly hope so. Both from without and from within. Extremists are not Islam’s fault. They are the fault of extremists. Christianity should not be reduced to Nazis and members of the Ku Klux Klan and neither should Islam be reduced to Al-Qaeda. I have taken it upon myself to go into the Quran and mine it for positive elements that can be used in creative storylines. I firmly believe that what you put into a text has a lot with what you get out of it. If you look at a text with hate, you will see hate. And if you look with compassion and love and tolerance...you will have ideas like The 99.
Why the Muhammed cartoon incident between Dennmark and Middle East is, in your opinion, fundamentalism in both parts?
Because both parties are pointing to a codified law to support their actions which were deplorable on both counts. The Danish newspaper (and other Western newspapers) somehow felt it was their God given right to publish images of the prophet as a terrorist and cited Freedom of Speech and the Moslems who reacted violently somehow felt it was their right to react violently to protect the prophet. The Danish paper could have easily used another person to get the same message across, not the prophet and the Muslims who jumped on the bandwagon could have easily reacted the way the prophet himself acted when his legitimacy was challenged 1500 years ago. He did so with political acumen, a smile, and formed alliances with the strongest of the strong. He didn’t act like a helpless rioter shouting in the streets. I think people’s emotions were manipulated and they rightly felt offended but there are ways that one can address these violations.
And the biggest loser was the Danish government. The Muslims wanted the Danish government to apologize for a private sector violation because they are used to the press being controlled by their own governments. And the poor Danish government, the biggest supporter of Human Rights and Political Torture Survivors worldwide (which incidentally happens disproportionately in the Islamic World) were being forced to apologize for something outside their control.
My favorite reaction which perhaps was the most absurd was some nobody Belgian philosopher who was quoted as saying that the Muslims should be exposed to such comics every week so that they could get used to them. Such arrogance only comes from the lips of a true fundamentalist.
Is there any explicit political orientation in your work?
None whatsoever. My only concern is to mine Islamic religion and culture for themes and archetypes to speak positively to both Muslims and non-Muslims alike. I believe very strongly that what you put into something has a lot to do with what you get out of it. I am putting my education and passion into the Quran and emerging with positive messages that are being woven as archetypes. I keep away from religion and politics in the books. But the ongoing conceit is of two poles fighting to gain control of The 99 stones..each of which has a divergent agenda. One wants to destroy and dominate-one wants to heal and unify. I do not judge the characters. I only present them.
quinta-feira, 1 de março de 2007
Edgar Navarro no Recife
Hoje, às 19h, no Cinema da Fundação (Fundaj - Derby), tem a pré-estréia de Eu Me Lembro, o primeiro longa do diretor baiano Edgar Navarro (O Rei do Cagaço, Porta de Fogo, O Super-Outro). Ele chegou hoje de manhã no Recife para participar da sessão e falar um pouco sobre o filme, vencedor de sete prêmios no Festival de Brasília 2005.
Autobiográfico, Eu Me lembro é uma volta felliniana ao passado do diretor, durante os anos 60 e 70, ou seja, sexo, drogas e muito cinema. O filme entra em cartaz a partir de amanhã (sexta).
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