quinta-feira, 30 de abril de 2009

Costa-Gavras assiste ensaio da Orquestra do Coque

A manhã de ontem foi de sol, ,e ele bem que poderia ter ido à praia ou embarcado em algum programa turístico. No entanto, o cineasta Constantin Costa-Gavras decidiu acompanhar o ensaio da Orquestra Criança Cidadã, no Quartel do Cabanga.

Desde que travou o primeiro contato com o grupo, na abertura do Cine PE, o cineasta fez questão de conhecer de perto o projeto que ensina música erudita a 130 crianças e jovens da comunidade do Coque.

Acompanhado pela mulher, a produtora Michelle, o diretor ouviu atentamente o maestro Cussy de Almeida, que apresentou alguns alunos. Como conjecturar o que se passa quando os olhos do veterano diretor de Z e O quarto poder encontram os do menino Luan, que do alto dos seus quatro anos recém-completados, oferece uma esforçada performance de violino?

O próprio Gavras revelou que, enquanto assistia a um dos meninos tocando violoncelo, lembrou de uma sequência de seu filme Amém, que será exibido no próximo sábado, às 16h, no Cinema da Fundação. "Normalmente, só os filhos da burguesiapodem tocar um violino. Mas esses pequenos músicos que moram na favela são incríveis", disse Gavras ao Diario. "É um enorme prazer saber que há gênios ali. Ao mesmo tempo, é triste saber que outros tantos podem se perder por falta de apoio".

Durante uma hora, a orquestra interpretou músicas de Bach, Vivaldi, Ravel e do próprio Cussy. No fim da apresentação, Gavras aplaudiu e gritou "Bravo!". Antes, declarou que conhecer o projeto provocou uma grande emoção, talvez a maior de sua viagem ao Brasil.

* publicado no Diario de Pernambuco

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Entre a política e o espetáculo - lições de cinema de Costa-Gavras


Foto: Daniela Nader

A noite de abertura do Cine PE entrou para a história como a mais importante de todas as edições do evento. O motivo foi a presença do cineasta Constantin Costa-Gavras, que apresentou, Eden a l'ouest, filme em que dedica seu olhar contundente e perspicaz ao problema dos imigrantes ilegais na Europa, retratada como um paraíso para poucos.

Ontem, ele concedeu entrevista coletiva, que contou com participação ativa de sua mulher, a produtora Michelle Gavras. Entre declarações sobre opções estéticas, políticas e o futuro do cinema, uma curiosidade: o diretor conheceu o ex-governador Miguel Arraes em seu exílio na Europa. Além disso, não é a primeira vez que o cineasta visita Pernambuco. Gavras visitou o estado para pesquisar um personagem real aproveitado no filme Estado de sítio (1973) e, depois, em 1990, numa escala para o Chile. Não bastasse, Michelle revelou à imprensa um segredo de família: "tenho o sonho de que Costa faça um filme sobre sua origem na Grécia".

Os melhores momentos, transcritos a seguir, também servem de provocação para convocar o público para a sabatina a ser promovida por jornalistas da Folha de São Paulo hoje, às 15h, no Recife Palace Hotel (inscrições pelo e-mail eventofolha@grupofolha.com.br). A agenda do cineasta ainda conta com uma visita, às 9h, ao ensaio da Orquestra Cidadã dos Meninos do Coque. Gavras já pensa em colaborar com o projeto. Às 18h, ele será recebido no Palácio das Princesas pelo governador Eduardo Campos e família, com quem Gavras deve trocar boas histórias.

Formação política
Minha formação é literária e cinematográfica. Quanto à formação política, essa se deu com a vida. Vivi num país ocupado por nazistas, que depois passou por uma tremenda guerra civil, a guerra fria e suportou governos conservadores e ditatoriais. Quando fui para a França, descobri uma forma de liberdade que não conhecia. Encontrei pessoas que faziam oposição política de forma clara e precisa, sem dogmatismo. Sempre me interessei na forma como um sistema político maneja os civis. Enquanto estudava cinema, parecia que isso era algo que faltava nos filmes. Poderia me dedicar a fazer filmes românticos, mas acho que, de uma forma ou outra, todos os filmes são políticos.

Miguel Arraes

Tive uma relação próxima com Miguel Arraes. Em 1990, quando acompanhava uma delegação francesa no transporte dos restos mortais de Salvador Allende até Santiago, paramos no Recife por algumas horas e encontrei o governador. Ele falou mais comigo do que com os ministros franceses! Sem dúvida, havia uma relação interessante entre nós.

Eden à l'ouest

É um filme muito pessoal. Não chega a ser biográfico, pois sou um imigrante que chegou à França legalmente. Hoje a imigração ilegal é um problema enorme. É muito importante tomar partido. O tema já gerou muitos filmes, todos dramáticos. Quis colocar o problema de uma forma diferente, mais cotidiana, e mesclar o drama com um ritmo frenético. Jaques Tati disse que, para fazer comédia, basta retratar a sociedade como ela é. Quis fazer isso em O corte (2005) e me pareceu indispensável utilizar o mesmo recurso para tratar da imigração. Me pareceu mais positivo. Essa gente pode criar uma nova cultura e quis apresentá-la de forma adequada, pois a história de Elias (o protagonista), é a história de nós mesmos, da nossa sociedade.

Mídia e terrorismo

Hoje a palavra terrorismo é usada pela mídia de diferentes formas. Penso que é preciso refletir sobre o que isso significa pois, algumas vezes, é algo necessário. Claro que da forma praticada no Oriente Médio é algo negativo. Mas numa sociedade onde não há possibilidade de mudança da forma democrática, provavelmente a única maneira de fazê-lo é pelo terrorismo.

Ideias x entretenimento

Penso o cinema como um espetáculo. Não vamos ao cinema para receber lições políticas ou universitárias, vamos pelo sentimento. Para chorar, rir, odiar, amar. Tudo isso é ligado à vida cotidiana. Claro que a utilização do thriller, por exemplo, não é sempre necessária. Pode "matar" o conteúdo político e social e dar ao filme uma direção distinta do objetivo inicial. Por isso, Estado de sítio começa com a morte do personagem, o que acabou com um suspense desnecessário.

Novas linguagens
A cada nova tecnologia, o cinema muda muito esteticamente. Não podemos desconsiderar a influência da televisão e o advento da linguagem do videoclipe. Hoje, a capacidade dos espectadores seguir as elipses (recurso que faz cortes abruptos de tempo/espaço) é muito maior. Isso muda o estilo de se fazer um filme. Agora entramos em um novo paradigma, que é o digital, o que mudaa economia, a estética e a forma de apresentar um filme para o público. Essa é uma facilidade que esconde um perigo, pois pode aumentar a concentração de poder na exibição de filmes. Mas pouca gente sabe o que está por vir.

terça-feira, 28 de abril de 2009

A maratona do Cine PE começou


CONSTANTIN COSTA-GAVRAS, PRESTES A RECEBER HOMENAGEM, ONTEM, NA ABERTURA DO CINE-PE
Foto: Beto Figuerôa

Ontem, com a presença do cineasta Constantin Costa-Gavras e a exibição de seu novo filme, Eden à l’ouest, o Cine PE fez um providencial upgradepara continuar relevante no cenário de festivais brasileiros. Com o início da mostra oficial de curtas e longa-metragens, tem início uma maratona cinéfila, que segue até o próximo domingo, com a exibição de O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira. Somente hoje, serão nada menos que cinco horas de projeção no Teatro Guararapes (Centro de Convenções), com direito a pausa para homenagem a atriz Dira Paes.

Abre a competição de longa-metragens a ficção Mistéryos, de Pedro Merege e Beto Carminatti, dois representantes da nova geração de filmes feitos no Paraná. De acordo com os produtores, trata-se de um suspense surreal, baseado em O mez da grippe e outros livros (Companhia das Letras), de Valêncio Xavier. O “Y” grafado no título é uma referência ao português arcaico que Xavier fez uso na obra.

Em conversa por telefone, Merege diz que não houve dificuldade na adaptação para o cinema. “Classifico o livro como lítero visual, pois ao ler os contos, era como se estivesse assistindo a um filme cheio de links”.

A trama, que transita entre cinco contos do livro, começa com o desaparecimento de Jucélia Ramos (Sthefany Brito), que em 1969 entrou num trem-fantasma, para nunca mais sair de lá. Anos depois, o escritor VX (Carlos Vereza, que viveu Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere), a reencontra de forma um tanto inusitada, como uma das atrizes de Sapho, o amor entre as mulheres, filme erótico produzido em 1922. Ainda no elenco estão Leonardo Miggiorin, os paranaenses Marco Zeni, Janaína Spoladore e a veterana Lala Schneider (1926-2007), em sua derradeira atuação.

Merege ainda disse ao Diario que utilizou imagens de arquivo e de envelhecimento digital para simular o filme feito nos anos 20. “Buscamos a verossimilhança, mas a artificialidade do processo digital acabou entrando como mais um elemento de um jogo com infinitas relações”.

Programação intensa - As atividades do Cine PE começam logo cedo, às 9h30, no Recife Palace Hotel, com o seminário Desenvolvimento audiovisual – Os caminhos da co-produção internacional. Participam da mesa os produtores Paula Barreto, Assunção Hernandez, Alberto Flaksman (Ancine), Gualberto Ferrari (França/Argentina) e mediação do secretário do audiovisual do Ministério da Cultura, Silvio Da-Rin. A entrada é franca.

Às 18h30, começa a mostra competitiva. Os curtas digitais são Nello’s (SP), documentário de André Ristum; Teteco (RJ), ficção de Glauco Kuhnert; Eiffel (PE), documentário de Luiz Joaquim; e 6.5 Megapixels (CE), ficção de Michelline Helena, Gláucia Soares e Janaina de Paula. Logo após, serão exibidos os seguintes curtas 35 mm: Selos (CE), de Graciely Dias - produzido pela escola de audiovisual de Fortaleza; Distração de Ivan (RJ), de Cavi Borges e Gustavo Melo - novo trabalho do coletivo Nós do Morro; e Muro (PE), de Tião, premiado ano passado no Festival de Cannes. Nossos ursos camaradas, novo filme de Fernando Spencer, terá exibição hors concours.

Amanhã, das 15h às 17h, a Sabatina Costa-Gavras, promovida pelo jornal Folha de São Paulo, promete render pano pras mangas. Será no Recife Palace Hotel (Boa Viagem), e terá como entrevistadores os jornalistas Alcino Leite Neto, Silvana Arantes e Inácio Araújo. Até o fechamento desta edição, 50 vagas ainda estavam à disposição. A inscrição é gratuita, e deve ser feita pelo email eventofolha@grupofolha.com.br.

Em tempo: a organização do Cine PE informou ontem que, motivada pela grande procura, a exibição do filme Z, de Costa-Gavras, foi transferida do Cinema da Fundação para o Cineteatro Guararapes. Será na próxima sexta-feira, às 16h, com entrada franca.

*publicado no Diario de Pernambuco

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Júlio Bressane, hoje, no Recife



O cineasta carioca Júlio Bressane está no Recife para apresentar seu mais novo longa, A erva do Rato.

A sessão será hoje, às 20h, no Cinema da Fundação (Derby). Inédito no Recife, o filme é uma livre adaptação dos contos A causa secreta e O esqueleto, de Machado de Assis. Fotografia de Walter Carvalho, com Selton Mello e Alessandra Negrini no elenco. faz parte do Festival Les 3 Continents, que segue até sexta também no Teatro Apolo (Recife Antigo).

Aos 62 anos, Júlio Bressane é um dos poucos brasileiros a fazer cinema experimental, filosófico e até mesmo erudito. Talvez por isso mesmo seus filmes (Matou a família e foi ao cinema, Mandarim, Filme de amor) não são tão vistos ou conhecidos pelo grande público acostumado com feijão e arroz televisivo.

No último Festival de Gramado, ele recebeu um merecido prêmio pelo conjunto da obra e exibiu seus dois últimos filmes: Cleópatra, com Miguel Falabella e Alessandra Negrini, e o curta-documentário Passagem em Ferrara, em que visita o túmulo do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007).

Citando Niestzsche, Gaston Bachelard, Camões e filósofos gregos, ele participou de uma coletiva de imprensa, em que negou o conceito de cinema marginal (gênero em que foi enquadrado no fim dos anos 60) e defendeu sua arte com termos difíceis de decifrar, apresentando "imagem inconsciente do tempo" e "motivo fóssil" como chave de interpretação de seus filmes.

Bressane também falou sobre seu mais novo filme, A erva do rato, que seria exibido pela primeira vez na semana seguinte no Festival de Veneza, reduto onde seu trabalho é constantemente celebrado. Confira os melhores momentos da coletiva, originalmente publicados no Diario de Pernambuco. Palvras ditas de forma convulsiva, e que permitiram conhecer um pouco mais sobre o pensamento desse intrincado e indomável filósofo do cinema.

Cleópatra
Como queria uma versão em português, tive de fazer um deslocamento do mito de Cleópatra, não só no sentido geográfico, mas também narrativo. A força da língua portuguesa é a lírica, sobretudo a trovadoresca, e a versão que fiz é uma versão lírica, que vem de Camões até Dom Cabral, Drummond, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa. Coloquei tudo isso nessa colcha de detalhes da língua, e consegui uma respiração que até então não tinha encontrado. O resultado é o contraste, o paradoxo, o choque dentro dessa nova estrutura do mito.

Passagem em Ferrara
Meu encontro com Antonioni foi feito através da perspectiva. Ele era um homem que tinha essa consideração, e sabia que a perspectiva é o pensamento. É um filme de amor, pois eu tinha uma paixão muito grande por ele, que para mim foi um Deus. Deixei que o filme fosse feito fora de mim, sem minha interferência, esperando que isso dissesse alguma coisa dele próprio, e não de uma intenção minha. A minha idéia de Antonioni é a da imagem-sintoma, interrompida e recalcada. Essa minha apropriação me levou a pensar como eu queria um encontro com ele ainda vivo. Quando eu e um grupo de cineastas fomos ao túmulo, fui vítima do sintoma patológico. Tive uma sensação muito grande de mal-estar, porque eu senti o cheiro de seu corpo putrefato. Eu não sabia o que fazer ali, em desespero me dirigi a ele, pedi que me ajudasse. E, através desse gesto, desenvolvi o filme. Foi uma aproximação dos ossos do Antonioni, através de seu significante e daquela ordem geométrica que é o cemitério.

A erva do rato
O filme é uma sobrevivência a um motivo fóssil, e essa é uma chave de leitura importante para seu entendimento. O que nós precisamos ver ali é a imagem inconsciente do tempo, o que tem ali de memória inconsciente. O horror ao rato e o convívio com o esqueleto são dois enigramas - traços sensíveis e duradouros - que tirei de dois contos de Machado de Assis. A causa secreta é o horror ao rato, signo do apetite sexual, da morte e do tempo, lugar comum de toda a iconografia. Em O esqueletohá o convívio com essa figura caricatural da morte, que também é um sintoma de vida, porque a forma tem vida. Só que, depois de pronto, ele tomou outra dimensão. Faço filmes que não sei o que são. Se soubesse, não fazia, pois já estava resolvida a questão.

O "naufrágio" do espectador
Nós temos que reverter essa situação do naufrágio do espectador. É preciso um esforço grande [de interptetação, de compreensão de um filme] e isso foi abandonado em prol da juventude eterna e ereção prolongada. Isso não existe. Até para o grande prazer é preciso esforço, para sair da porcaria que a gente é. E geralmente a gente não sai, mas vale o esforço. Para buscar o filme, é preciso o abandono de si. Ou seja, evitar a tragédia humana que é a tendência à mediocridade. Fazer um esforço contrário à mediocridade seria o passatempo ideal na terra.

Cinema marginal e de baixo orçamento
Essa é uma questão completamente artificial. É uma tirania. O Brasil já é uma margem. Cinema marginal no Brasil só jogando no mar, e a idéia talvez tenha sido essa. Se não é marginal talvez um dia possa ser recuperado, como as imagens arrancadas do inferno. Nesse sentido, o projeto de cinema marginal se enquadra um pouco com o da exterminação nazista. Nunca postulei regime para fazer filmes de baixo orçamento, e nem sou a favor disso. Fiz filmes de baixo orçamento porque fui expulso do cinema brasileiro. Nunca tive filme lançado, nem peguei esses abacaxis que lançam em 200 cinemas e não pagam nem o durex que cola o cartaz. Em 1969, rompi com essa postura, de maneira talvez pouco diplomática, e isso me valeu uma condenação que dura até hoje.

Conheça os filmes da seleção oficial do Festival de Cannes



Foi divulgada hoje a lista de filmes que concorrem no 62ª Festival de Cannes. O evento sediado na Riviera francesa está marcado para o período entre 13 e 24 de maio. A presidente do júri será a atriz francesa Isabelle Ruppert.

Entre os escolhidos, estão novas produções de Almodovar, Tarantino, Michael Haneke, Ang Lee, Ken Loach e Lars Von Trier. Estranhamente, Watherver Works, de Woody Allen, ficou fora da seleção.

Anticristo, de Lars Von Trier, tem no elenco Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, que vivem um casal que se muda para uma cabana isolada após a morte do único filho. Esse é o primeiro filme de terror de Von Trier, e também traz a novidade de ser totalmente falado em inglês. No Brasil, ele estreia em agosto.

Looking for Eric (ainda sem título em português), de Ken Loach, conta a história de um carteiro fanático por futebol, que em meio a crises impostas pela vida, recebe conselhos de seu amigo imaginário, o jogador Eric Cantona. Estreia no Brasil em novembro.

O filme de abertura será Up, a nova animação da Pixar. Representando o Brasil está o longa À Deriva, do pernambucano Heitor Dhalia (O cheiro do ralo). Ele foi selecionado para a mostra "Un certain regard" (Um certo olhar), ao lado de outros 19 filmes do mundo todo.

Outra boa notícia para os pernambucanos é que o curta Superbarroco, de Renata Pinheiro, foi selecionado para a quinzena dos realizadores.

Vencedor do último Festival de Brasília, a produção conta com o talento do ator paraibano Everaldo Pontes, que contracena com a imagem dele próprio, atores coadjuvantes, objetos e da diva Dalva de Oliveira, projetadas nas paredes do cenário, um casarão à beira mar. O resultado do efeito especial impressiona, e deve ter sido um dos fatores que levaram a obra a Cannes.

Filme de abertura:
Up, de Peter Docter

Seleção oficial
Los Abrazos Rotos, de Pedro Almodovar (Espanha)
Fish Tank, de Andrea Arnold (Inglaterra)
Un Prophete, de Jacques Audiard (França)
Vincere, de Marco Bellocchio (Itália)
Bright Star, de Jane Campion (Nova Zelândia)
Map of the Sounds of Tokyo, de Isabel Coixet (Espanha)
A l‘Origine, de Xavier Giannoli (França)
Das Weisse Band, de Michael Haneke (Alemanha)
Taking Woodstock, de Ang Lee (Taiwan-EUA)
Looking for Eric, de Ken Loach (Inglaterra)
Spring Fever, de Lou Ye (China)
Kinatay, de Brillante Mendoza (Filipinas)
Soudain le Vide, de Gaspar Noe (França)
Bak-Jwi, de Park Chan-wook (Coreia do Sul)
Les Herbes Folles, de Alain Resnais (França)
The Time That Remains de Elia Suleiman (Palestina)
Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino (EUA)
Vengeance, de Johnnie To (Hong Kong)
Visages, de Tsai Ming-Liang (Malásia)
Antichrist, de Lars von Trier (Dinamarca)

Fora de competição
The Imaginarium of Doctor Parnassus, de Terry Gilliam (EUA)
Agora, de Alejandro Amenabar (Espanha)
L‘Armee du Crime, de Robert Guediguian (França)

Filme de encerramento:
Coco Channel & Igor Stravinsky, de Jan Kounen

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Macaco Bong, rock'n'roll e arte gráfica

Na hora dos shows entediantes, o stand da Monstro Discos se tornava o melhor lugar do Abril Pro Rock 2009.

Aproveitei o ensejo para comprar o CD da banda mato-grossense Macaco Bong. Já contava uma era que estava a fim de conhecer o som, e a arte da capa deu o gás que faltava.



Arte de Douglas Castro Pereira, do coletivo goiano Bicicleta Sem Freio. No Flickr do cara tem outros desenhos, nada caretas.

Não por acaso, o coletivo foi um dos dez convidados para criar gravuras inspiradas no APR. Até o fim do mês, elas estão expostas na Livraria Cultura (Paço Alfândega).

Além do Bicicleta Sem Freio, participam da exposição os artistas João Lin, Derlon, Mascaro, Juliana Notari, Paulo Meira e Thiago Amorim, além dos convidados de outros estados, Shiko (PB) e Silvia Rodrigues (BA).


ARTE DE SHIKO

Cá entre nós, faltou Paulinho do Amparo, que por sua vez devia estar ocupado fazendo o cartaz do Abril Pro Okki, festival underground que tira onda com o APR, tradição que vem desde o antológico Recife em Chamas no Bar Garagem. Este ano, a atração principal será a banda Cruor, antológica representante do metal pernambucano, em nova formação.

O evento rola na quinta, dia 30, na Cachaçaria Virgulino, Rua do Sol, Olinda. E salve-se quem puder.

Com vocês, a fina flor da rock art:

Concurso de poesia premia com R$ 9 mil em dinheiro

O site Talentos, que entrou no ar hoje, está lançando o que auto-proclamado maior concurso digital de poesia do país. São R$ 9 mil a serem divividos pelos três primeiros colocados, na seguitne proporção: R$ 5 mil para o primeiro colocado, R$ 3 mil para o segundo e R$ 1 mil para o terceiro. Além disso, as 70 poesias serão editadas em um livro.

Talentos é vinculado ao BrasilWiki!, site de jornalismo colaborativo que desde 2006 acumula mais de 10 mil notas, opiniões e informações postadas.

Um corpo de seis jurados ligados ao mundo das letras avaliará as poesias inscritas: Aercio Flavio Consolin, Cristine Gerk, Isabel Furini, João Lins de Albuquerque, Paulo Leandro Valoto e Welington Andrade. Mas não só eles darão as notas. As obras serão julgadas, também, pelos internautas, que poderão dar notas aos trabalhos. Essas notas serão compostas às dos jurados para definir a média final de cada trabalho, conforme o regulamento divulgado através do site.

Cada autor poderá inscrever até duas poesias. As seis primeiras poesias postadas são de autoria de grandes poetas brasileiros e estão ali apenas para demonstrar como os trabalhos serão apresentados.

As inscrições estão abertas até 7 de junho, quando também será encerrada a votação do popular. O resultado sai em 29 de junho.

domingo, 19 de abril de 2009

O humor simples e inteligente de "Mutts"



Estes são os personagens principais de Mutts - os vira-latas, o mais recente lançamento da Devir Livraria. O volume está nas lojas a R$ 23.

O livro reúne dezenas de tiras, publicadas diariamente em 700 jornais de 20 países. Dada a tradição cartunesca que remonta a personagens do tempo de Tom e Jerry, a graça na relação entre os vizinhos Duque e Chuchu (em inglês, Earl e Mooch) poderia estar estereotipada em alguma rivalidade ou perseguição involuntária.

No entanto, seu criador, o norte-americano Patrick McDonnell, os fez sinceramente amigos. Mais até, cúmplices de uma existência que se resume a comer, dormir e observar o mundo ao redor (leia-se: a natureza, os animais, as carnes do frigorífico, e claro, seus fiéis donos). A sedução em poucos quadros, o grande desafio do formato "tira", se dá pela simpatia e pelo convite a olhar a vida de forma mais simples.



Deu certo. Desde 1994, quando vieram ao mundo, Mutts vem cativando mais leitores - hoje são mais de 180 milhões. Tamanha popularidade é explicada por ninguém menos que Charles M. Schulz (1922-2000), o pai dos Peanuts (leia-se: Snoopy). No texto que serve de prefácio para o novo livro, ele confessou ter adorado as ideias de McDonnell.

"Mutts é exatamente o que uma tira em quadrinhos deve ser. É divertida de ler, e os dois personagens principais são maravilhosamente inocentes. Patrick criou um pequeno universo que existe dentro de si mesmo. Todo mundo em Mutts, do peixinho de estimação até o açougueiro atrás do seu balcão, é engraçado. Duque, é claro, mantém tudo isso firme e, como era de se esperar, é o jeito como ele é desenhado que o torna tão genuíno. É difícil de acreditar que, depois de 100 anos de quadrinhos, Patrick seria capaz de inventar um cachorrinho novo e perfeito", escreveu Schulz.

Vale salientar que Duque, o cão, e Chuchu, o gato, lembram mais a dupla Krazy Kat and Ignatz, criada em 1913 por George Harriman, do que a turma do Charlie Brown. E isso se revela não somente no comportamento dos personagens, mas no próprio traço de McDonnell, claramente influenciado pelo de Herriman, visionário dos quadrinhos que até hoje intriga pela atualidade e inventividade da narrativa.


KRAZY KAT, CLÁSSICO DE GEORGE HERRIMAN

Os melhores shows do Abril Pro Rock 2009 - noite de sábado, 18 de abril

Por ordem de entrada no palco:


HEAVY TRASH (EUA)

O show começou na surdina, sem aquela vinheta brega com contagem regressiva que colocam antes de cada atração. Além do que, na grade oficial, o Heavy Trash figurava entre Mundo Livre e Marcelo Camelo, só que a banda entrou logo depois da Retrofoguetes, o trio baiano de surf music e sotaque harcore.

Me dei conta de que havia começado porque Paulinho do Amparo deu o toque. É que, assim como em 2001, quando o Blues Explosion tocou depois do Textículos de Mary, o sound level estava tão abaixo do das outras bandas, que mais parecia som ambiente, equalizado com requinte. Quem não sabia, aprendeu que guitarra distorcida e berros no microfone não precisam furar os tímpanos para lembrar que estamos num festival de rock.

Jon Spencer e companhia foram direto ao ponto. Show clássico e contagiante. Bons músicos, palco despojado de qualquer elemento além do necessário. Fundo preto, equipamento, luz e atitude. Pra que mais?

Além de se garantir no gogó, Spencer se mostrou ótimo performer, pegada punk na medida que desconstrói os trejeitos do repertório rockabilly. O som é pesado e arrasador, algo como se Elvis, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis entrassem no palco montados num rolo compressor.

Uns 40 minutos depois, hora da despedida, novamente sem convenções desnecessárias: não houve bis, os quatro músicos simplesmente agradeceram e deixaram o palco. Mais do que isso, só marcando a data da volta.


MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU (DF)

Direto de Brasília, o maior carregamento de gás hilariante do novo pop nacional. O grupo é quase uma big band, com metais de todo o tipo e um crooner saltante. O palco parece uma feira do interior, com baldes de plástico coloridos pendurados no alto, e fitas coloridas escorrendo para o chão.

Móveis Coloniais injetou a energia que faltava num ambiente que, após show de Volver e Vanguart, alternava entre a apatia e a falta do que fazer.

É que os músicos pareciam estar se divertindo tanto sob um código particular, entrosado e íntimo, que foi fácil convecer o público a entrar na brincadeira. Muito bom perceber que, no meio de tanta melancolia de plástico, existe uma banda que faz um som legal, despretensioso e bem humorado.


MUNDO LIVRE (PE)

Já perdi a conta de quantos shows da Mundo Livre eu já assisti, e todos eles valeram demais. Desta vez, no ensejo dos 25 anos da banda mais famosa de Candeias Rock City (apenas para lembrar o nome da atração do APR que perdi, mas dizem que foi muito boa), tivemos um set list novinho em folha.

Grande show, músicos afiados, som tinindo de bom. Músicas novas tocadas logo no começo. Os clássicos do mangue beat da metade para o final. É incrível perceber que, assim como quando lançaram Samba Esquema Noise (1994) a força da composição de Fred Zeroquatro continua lá, combativa, jovial, e ainda sem equivalente ou paralelos na MPB.

Pelo tombamento das casas de madeira antigas


CASO RARO EM MARINGÁ. CASA DE MADEIRA TRANSFORMADA EM CENTRO CULTURAL NA ZONA 7

A regra é derrubar, e guardar a madeira, hoje preciosa.

Patrimônio histórico / cultural que se esvai em silêncio.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Jon Spencer, de volta ao Recife



Heavy Trash é o nome da banda.

O som, disponível no My Space, é de trincar os neurônios.

Banda criada por Jon Spencer (do Blues Explosion) e Matt Verta-Ray, programada para tocar amanhã no Recife, na segunda noite do Abril Pro Rock.



Pra quem se lembra do visual Jim Morrison de Spencer em 2001, quando tocou no APR com a Blues Explosion, agora a parada é outra: rockabilly na veia.

Ingressos a R$ 50 inteira, R$ 25 meia-entrada e R$ 30 + 1kg de alimento não perecível (ingresso social).

Back to the sun



Quase 30 dias depois, estou de volta ao Recife.

Readaptação difícil. Ajuda o fato de ser o fim de semana do Abril Pro Rock, que hoje traz Motorhead e amanhã, Heavy Trash, projeto rockabilly John Spencer, freak fundador da Blues Explosion.

No meu apartamento, acredite, não há água nas torneiras. O condomínio resolveu limpar o sistema de distribuição justamente numa sexta-feira, com um sol de lascar.

Oh dia... (Hardy Rar Rar).

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"X-Men Origins: Wolverne" - UCI vende ingressos antecipados


"CATZU, VAMO PARAR COM O BARULHO AÍ EM CIMA?"

O longa X-Men Origens: Wolverine estreia mundialmente no último fim de semana de abril. É o mais novo produto da Marvel para o cinema. A direção é do sul-africano Gavin Hood e a produção de David Benioff.

Hugh Jackman é a grande estrela, novamente no papel do invocado canadense que nasceu com habilidades especiais (instinto animal e fator de cura). Não bastasse, o mutante se tornou cobaia do projeto Arma-X, experiência governamental que implantou adamantium (elemento metálico fictício, tido como indestrutível) em seu esqueleto.

O filme deverá contar essa história, que precede ao período em que adotou o nome Wolverine (um animal típico do frio canadense), e passou a integrar os X-Men. Pelo menos dois vilões também terão seu passado revelado: Dentes-de-sabre e Emma Frost, a Rainha Branca.

A comoção e disputa por uma vaga já na sexta-feira 30 de abril deverá ser grande. Por isso, a rede de cinemas UCI inicia, a partir de hoje, a venda antecipada de bilhetes.

No Recife, os ingressos vão estar disponíveis nas bilheterias do UCI Ribeiro Recife, UCI Ribeiro Tacaruna e UCI Kinoplex Casa Forte, além do site www.ucicinemas.com.br.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Iron Maiden, o filme, aterrisa no Recife


BRUCE DICKINSON: "PREPARAR PARA DECOLAGEM"

Nem deu tempo para tomar fôlego.

Após devastadora passagem pelo Recife, o grupo inglês Iron Maiden está de volta, desta vez na silver screen do Cinema da Fundação.

Trata-se de Flight 666, o longa oficial da banda, e o assim batizado Boeing em que viajam pelo planeta, boa parte sob a condução do vocalista Bruce Dickinson.

Versão para o cinema da turnê Somewhere back in time, que terminou semana passada no Brasil, e passou por 13 países.

Sessão única, terça-feira, 21 de abril, às 20h.

Poderia ser uma highway to hell, mas a banda é outra.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Lírio Ferreira leva Humberto Teixeira a Paris



O Homem que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira, será exibido no Festival do Cinema Brasileiro de Paris.

O documentário, traduzido para o francês como L’Homme qui embouteillait les nuages, trata da vida de Humberto Teixeira (1915-79). Cearense de Iguatu, ao longo da vida Teixeira acumulou as funções de advogado, deputado, e principal parceiro de Luiz Gonzaga. Seu maior sucesso, Asa Branca, não deixa dúvida sobre seu talento. No entanto, não ofusca outras composições emblemáticas do cancioneiro nordestino, como Baião, Juazeiro, Respeita Januário, Qui Nem Jiló, Assum Preto, todas criadas com Gonzagão.

Entre 29 de abril a 12 de maio, a 11ª edição do Festival do Cinema Brasileiro de Paris traz para território francês 30 filmes, entre eles, Meu Nome Não é Johnny, de Mauro Lima, Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, O Mistério do Samba, de Carolina Jabor e Lula Buarque de Holanda, Jards Macalé: Um Morcego na Porta Principal, de Marco Abujamra, João Pimentel, Vinícius, de Miguel Faria, Se Nada Mais Der Certo, de José Eduardo Belmonte, Feliz Natal, de Selton Melo e Todo mundo tem problemas sexuais, de Domingos de Oliveira.

Programação completa aqui.

A Erva do Rato chega ao Recife


BRESSANE E ELENCO DE "A ERVA DO RATO"

Semana que vem, Júlio Bressane estará no Recife para apresentar seu novo filme, A Erva do rato.

Será no sábado, dia 23, às 20h.

Inédito no Recife, o longa faz parte do Festival Les 3 Continents, que aporta na cidade entre os dias 21 e 24 de abril.

A Erva do Rato é uma livre adaptação, ou como prefere o cineasta, tradução dos contos A causa secreta e Um esqueleto, de Machado de Assis. Fotografia de Walter Carvalho, com Selton Mello e Alessandra Negrini no elenco.

No último Festival de Gramado, Bressane recebeu um Kikito pelo conjunto da obra. Na coletiva de imprensa, onde citou Niestzsche, Bachelard, Camões e filósofos gregos, ele definiu a nova obra e revelou algumas "chaves" de leitura.

"É uma sobrevivência a um motivo fóssil. É a imagem inconsciente do tempo, no que ele tem de memória inconsciente. A causa secreta é o horror ao rato, signo do apetite sexual, da morte e do tempo, lugar comum de toda a iconografia. Em O esqueleto há o convívio com essa figura caricatural da morte, que também é um sintoma de vida, porque a forma tem vida.

Só que depois de pronto, ele tomou outra dimensão. Faço filmes que não sei o que são. Se soubesse, não fazia, pois já estava resolvida a questão".

O Festival Les 3 Continents será recebido pelos Cinemas da Fundação e Apolo. A sessão de abertura será com The Chaser, de Na Hong-jin, no Cinema Apolo, dia 21, às 19h.

Outros filmes da mostra são Depois da vida, de Kore-eda Hirokazu, Atos dos homens, de Kiko Goifman, Eles não usam black tie, de Leon Hirszman, Baara, de Souleymane Cissé e Grão, de Petrus Cariry. Serras da desordem também conta com a presença da diretora, Andrea Tonacci.

A programação completa, com data, local e horário de cada sessão, será divulgada na próxima sexta.

A versão pernambucana do Festival Les 3 Continents é uma das atividades do Produire au Sud, uma parceria entre a Associação Les 3 Continents (Nantes), Fundação Joaquim Nabuco, Fundação de Cultura da Cidade do Recife e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

Mostra de Ouro Preto - inscrições abertas até 30 de abril



A CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto abre inscrições de filmes brasileiros até o dia 30 de abril para longas, médias e curtas película e digital, concluídos a partir de 2008.

As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo site oficial do evento – www.cineop.com.br.

Este ano, o evento cuja maior foco está na resauração e preservação do patrimônio cinematográfico nacional, integra o calendário do Ano da França no Brasil.

Informações detalhadas: (31) 3282.2366 – Universo Produção
email: cineop@universoproducao.com.br

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Da série "As melhores duplas do Brasil"

Fuçando nas minhas coisas que ainda estão em Maringá, encontrei essa pérola em vinil, do tempo em que mantinha um sebo na universidade.



É de 1980, e traz na contracapa propaganda de produtos agrícolas. Pesticidas, agrotóxicos, e afins.

Deve ter música boa, mas o que dizer do visual dos caras? Zezé di Camargo, Bruno e
Marrone e Victor e Leo tremei... a velha guarda is comming!















segunda-feira, 6 de abril de 2009

Wim Wenders e o Cinema além das fronteiras do croma key



Porto Alegre (RS) - Lá fora, vento frio e chuva fina. Dentro, no silêncio de um teatro lotado, ecoa a voz de uma única pessoa, de fala pausada e movimentos leves como os anjos: nada menos do que o cineasta alemão Wim Wenders, que esteve em Porto Alegre na última segunda-feira, a convite do projeto Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem. Em seu discurso quase sempre inspirador está um recado bem claro: o da necessidade em valorizar o território em que se pisa, e a importância do cinema nessa busca pela cultura local. "Falo não como intelectual ou filósofo, mas como quem aprende olhando, ouvindo e viajando", disse, durante o evento mediado pelo realizador gaúcho Carlos Gerbase. Para ilustrar suas idéias, exibiu Crimes invisíveis, curta-metragem de sua autoria sobre mulheres violentadas nas zonas de conflito africanas, sob encomenda para a organização Médicos Sem Fronteiras.

Nascido na Alemanha do pós-guerra, desde jovem Wenders quis conhecer outros países.Ainda criança, viajou para a Holanda de bicicleta. Adolescente, trocou seu saxofone por uma câmera 16mm, dando início à carreira de cineasta em permanente trânsito. "Às vezes é preciso viajar para longe para redescobrir e aceitar o que está perto", disse, durante a conferência. Poucas horas antes, ele concedeu uma generosa entrevista coletiva, com a presença de veículos da imprensa de Portugal, Uruguai, Argentina e Brasil. Entre eles, o Diario de Pernambuco marcou presença. Frente à frente com o mestre, uma pessoa serena e centrada a refletir antes de cada frase, é possível entender um pouco mais sua obra. Um pensamento que, assim como seus filmes, convida a conhecer a si e o chão em que se pisa - sem pressa alguma.

OLHAR DO VIAJANTE
Praticamente todos os meus filmes surgiram do meu interesse em descobrir algum lugar. Nasci em Oberhausen, poucos meses depois da 2ª Guerra Mundial, num país devastado e sem esperança, perdido em vergonha e culpa. Desde cedo percebi que havia algo de errado naquele país, e quis saber como outras pessoas viviam. Através do cinema recebi as primeiras mensagens de lugares distantes. Aos 16 anos, faltava a escola a cada três dias para assistir filmes. Primeiro, assisti a Memórias do subdesenvolvimento, de Tomas Gutierrez Alea. Depois, um filme argentino de Fernando Solanas. Depois, o incrível Deus e diabo na terra do sol, de Glauber Rocha. E logo após, Terra em transe, que se instalou profundamente no meu cérebro e colocou o Brasil no meu mapa. Foi como uma revelação: eu precisava estar lá. A mesma revelação tomou conta da minha vida quando assisti Tokyo story, de Yasujiro Ozu. Quando vi um western de John Ford e Anthony Mann, descobri a América. Esses filmes me fizeram sentir vontade de conhecer o mundo. A partir de então, viajar se tornou minha profissão.

ASAS DO DESEJO (1987) - "Os lugares têm memória"
Fiz esse filme sem roteiro algum, a partir de lugares que gosto em Berlim. Quando voltei dos EUA, tentei redescobrir meu próprio país, minha própria língua. Quis filmar uma história sobre Berlim, mas não conseguia encontrar um personagem para contá-la. Pensei em bombeiros, médicos, carteiros, mas nenhum deles poderia fazer justiça à cidade como um todo. Foi quando, olhando ao redor, a cidade evocou seus próprios protagonistas: havia figuras de anjos nos monumentos, na decoração, nas ruas. A cidade falou por si. O mesmo aconteceu em Paris Texas (1984), que praticamente se escreveu sozinho. Acredito que os lugares têm histórias próprias para contar. Aprendi a respeitar a autonomia dos lugares. Daqui a milhares de anos, quando ninguém se lembrará de nós, os lugares estarão aí. E se lembrarão de nós, porque os lugares têm memória.

CINEMA E FRONTEIRAS
Não tenho o menor interesse em histórias que poderiam acontecer em qualquer lugar. Entedio-me mortalmente com filmes feitos na "Terra de ninguém", com atores que não se encontram e não vão a lugar algum. Quero histórias movidas pela experiência, pela descoberta. Com a globalização, o sentido de local está desaparecendo. Muitos lugares no planeta estão se tornando iguais. Nós podemos mantê-los diferentes, e somente o senso de lugar permite que façamos alguma coisa. As pessoas viajam pelo mundo em trilhas marcadas, vão onde supõe-se que devam ir, fotografam onde deve-se fotografar. Essa é a diferença entre turista e viajante. Por mais que se desloque, o turista fica irremediavelmente em casa. Mas nem tudo está perdido. Podemos aprender a preservar e cultivar nosso sentido de lugar. E o cinema pode nos ensinar a respeitar e aceitar fronteiras e ouvir o que os lugares têm a nos dizer.

CINEMA E IDENTIDADE
As imagens são as armas mais poderosas do século 21. Na medida em que avançamos para um futuro global, precisamos valorizar nossas fronteiras, preservando nossa identidade. Ter identidade é repousar em si mesmo, saber quem você é e a que lugar pertence. Identidade é formada e definida por limites, escolhas e experiências. Nações prosperarão não apenas pela força econômica, mas pelo sentido de identidade, e o cinema tem uma tarefa enorme nesse sentido. Desisti de esperar isso da TV, que causa mais dano do que tudo por ter se tornado a voz do consumismo. Só esse cinema específico pode comunicar algo diferente, e é ele que deve viajar pelo mundo. Só o cinema permite essa voz misteriosa que fala com o público numa relação mágica.

CINEMA GLOBAL X LOCAL
Há dois tipos de cinema. O maior, poderoso, é distribuído quase simultaneamente no mundo todo. Esse cinema sem fronteiras, não considera as experiências da vida. Ele é feito, antes de tudo, da experiência de outros filmes. Acredito no outro, diferente, pequeno, mas de grandes pretensões, feito em todos os lugares, e que precisa ser cuidadosamente preservado. Honestamente, prefiro assistir Central do Brasil vinte vezes do que ver uma segunda sessão de Superman, Matrix ou Harry Potter. Eles podem divertir, mas não conseguem alimentar nossos espíritos. Os olhos podem se acostumar com fast food, mas precisam de comida saudável para ficar em forma.

MESTRES E APRENDIZES
Quando era um jovem diretor, meus pais artísticos eram todos os pintores. Por causa da situação histórica da Alemanha, os cineastas não tinham pais, somente avós no cinema. Levou tempo para que eu estabelecesse uma relação com F.W. Murnau e Fritz Lang, por exemplo. Só que, de repente me tornei uma espécie de pai para uma nova geração de cineastas. E por mais que eu tenha gratidão aos mestres, estou mais interessado nos novos. Já faz 20 anos que leciono, mas as aulas não são sobre história, mas sobre o futuro do cinema. O que eles aprendem comigo é dar ouvidos à própria voz.

NICK'S MOVIE (1978)- "A morte é o maior tabu que existe na indústria cinematográfica"
O que ficou foi mais a experiência do que o filme como produto. Desenvolvemos o conceito juntos, com a idéia de um filme de ficção onde Nicholas Ray continuaria a fazer o papel de O amigo americano (1977). Começamos a filmar sem roteiro, seguindo nosso pensamento, na esperança de chegar no filme de ficção. Só que o câncer de Nick foi mais forte, e o filme virou um tipo de documentário sobre sua morte. Quis parar, mas o médico pediu para continuar. Só paramos de filmar depois do funeral. Foi assustador filmar o processo de morte. Esse assunto voltou no meu último filme, Palermo shooting, uma ficção em que a morte aparece como uma pessoa, furiosa com um homem que a fotografou. A morte é o maior tabu que existe na indústria cinematográfica.

ROCK'N'ROLL
Às vezes desejo fazer um filme como se fosse um rock. Infelizmente os filmes tomam mais tempo. Na verdade Alice nas cidades (1974) começou com uma música de Chuck Berry. Muitas vezes invejo os músicos do rock. Muitos músicos de rock são autores, como alguns cineastas, só que com mais liberdade criativa.

MANOEL DE OLIVEIRA
Continuo mantendo contato com Manoel e espero encontrá-lo no Festival de Veneza. Conheço-o há 20 anos, em dezembro do ano passado o vi pela última vez, e fizemos uma grande festa para comemorar os 99 anos de idade. Imaginem o que vai acontecer em dezembro, quando ele será o único cineasta que continua trabalhando aos 100 anos, fazendo filmes inventivos e inteligentes.

CHAMBRE 666 (1983) E O FUTURO DO CINEMA
Às vezes o melhor é admitir que não temos razão. A história mostrou que meu pessimismo estava equivocado sobre o futuro do cinema. Naquela época, ninguém dava a mínima para o cinema europeu. Só que ele se reencontrou e está melhor do que nunca. A maior parte dos que falaram naquele filme estavam errados. O único otimista foi Antonioni.

CRÍTICAS DA IMPRENSA
Depois de ter feito cinco filmes, fui aos EUA mostrar O Amigo americano. Naquela época, ainda lia críticas. Depois, percebi que todas diziam a mesma coisa: "esse alemão faz filmes que tratam de medo, alienação e América". E me dei conta que não poderia continuar assim. Aos poucos durante os anos que vivi nos EUA, aceitei que tinha o espírito romântico alemão, e depois disso meus filmes perderam a alienação. Em Asas do desejo, é possível encontrar até mesmo alguma felicidade.

publicado em 20 de agosto de 2008 no Diario de Pernambuco

domingo, 5 de abril de 2009

Let's Get Lost (Chet Baker)



Let's get lost, lost in each other's arms
Let's get lost, let them send out alarms
And though they'll think us rather rude
Let's tell the world we're in that crazy mood.
Let's defrost in a romantic mist
Let's get crossed off everybody's list
To celebrate this night we found each other, mm, let's get lost