sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estreia // "Um parto de viagem", de Todd Phillips


Downey-Galifianakis's road trip

Viajar está se tornando algo cada vez mais impessoal. Diariamente, milhares de pessoas se deslocam em aviões de forma automática, sem olhar para quem está ou sentir a distância percorrida. Para nossa própria segurança, basta apertar o cinto e esquecer qualquer oportunidade de mudança que o caminho possa oferecer.

Um parto de viagem (Due date, EUA, 2010), de Todd Phillips, é uma espécie de vingança cômica e anti-utilitarista, que força a inversão dessa lógica que mantém viajantes em bolhas assépticas, alheios em si. A vítima é o arquiteto vivido por Robert Downey Jr., que se desloca de Nova York a Los Angeles para assistir o nascimento do filho. O cavaleiro do apocalipse é o desmiolado pretendente a ator na pele de Zach Galifianakis, determinado a fazer sucesso em Hollywood com seu inseparável cachorro toy.

Apesar de acumular certa experiência no cinema e TV, Galifianakis se tornou conhecido por Se beber não case, um dos maiores sucessos de bilheteria do ano passado e não por acaso dirigido pelo mesmo Phillips. O novo vai pela mesma vibe de humor físico, incorreto e muitas vezes escatológico. É verdade que a versão nacional para o título não ajuda, mas creia, enquanto filme, este consegue ser melhor por evitar os excessos do anterior.

Após confusão no avião, onde se tornaram suspeitos de terrorismo, a dupla de protagonistas é obrigada a cruzar o país por terra. A partir daí, somos transportados para um filme de estrada, onde absurdos se acumulam, inclusive nos corpos dos personagens.

A graça do filme não está exatamente nos personagens, mas no contraste provocado pela convivência involuntária. Downey faz o executivo previsível, enquanto Galifianakis cai como uma luva em qualquer sitcom. Eles se encontram no filme errado e isso mostra o que há de ridículo em cada um.

O longa lembra e muito o clássico de John Hugues, Antes só do que mal acompanhado (Planes, trains and automobiles, 1987). Nele, Steve Martin tenta chegar em casa para o jantar de Ação de Graças, mas John Candy, um vendedor de bugigangas, o coloca numa maratona de acidentes. O "karma" só termina quando Martin, no limite, aceita o novo amigo.

A moral é a mesma para Um parto de viagem, só que atualizada para os novos tempos e com boas participações de Jamie Foxx, RZA e Juliette Lewis como a fornecedora de haxixe já vista em Dias Incríveis e que voltará a aparecer ano que vem, em Se beber não case 2. A trilha é igualmente interessante, com Sam & Dave, Neil Young, Pink Floyd, Cream e outros clássicos do rock 60-70, época em que viajar significava mais do que mero deslocamento geográfico.

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