quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Tropa de Elite 2 é o filme nacional mais visto da história. Será?
Quase 11 milhões de brasileiros já assistiram Tropa de Elite 2. Há nove semanas em cartaz, o longa de José Padilha superou na noite de ontem a marca obtida por Dona Flor e seus dois maridos (1976), de Bruno Barreto. Com isso, está sendo considerado o filme nacional mais visto da história.
Será?
Mais cauteloso e menos afoito do que a grande mídia, o portal FilmeB anuncia Tropa 2 como "o filme brasileiro de maior público das últimas décadas".
Isso porque o FilmeB considera que produções dos anos 40 e 50, período em que o cinema nacional reinava sem a concorrência da TV, podem ter sido mais vistas do que os atuais recordistas. Mas naquele tempo não havia contagem de corpos. E como nas histórias de detetive, sem corpo, não há crime. Na falta de provas, Tropa 2 passa a ser oficialmente o filme brasileiro mais visto da história.
Isso não exclui a possibilidade de O Ébrio (1946), por exemplo, ser o filme mais visto do cinema nacional. Alice Gonzaga, filha do produtor da Cinédia Adhemar Gonzaga, disse que O Ébrio deve ter acumulado um público de 14 a 20 milhões de pessoas. Não há como provar, mas não é difícil imaginar, em um circuito que contava com mais de 4 mil salas, espalhadas Brasil adentro.
O país tinha 50 milhões de habitantes, o que significa que entre 30 e 40% da população assistiu a O ébrio.
Em 2010, pouco mais de 10% dos brasileiros assistiram ou a Tropa 2, ou a Chico Xavier ou a Nosso Lar.
E isso não é pouco. Faz de 2010 um ano atípico. Três produções nacionais que juntas atraíram mais de 20 milhões de brasileiros aos cinemas.
Não é pouco dizer que Tropa 2 foi mais visto do que qualquer Avatar, Shrek, Eclipse ou Toy Story. Que, sozinho, arrecadou R$ 100 milhões.
É bom comemorar: o posto de filme mais visto está sendo ocupado por um filme de verdade, concebido por alguém que pensa cinema e não por qualquer seboseira oportunista ou globochanchada subtelevisiva.
Resta saber o que isso significa para o cinema nacional que vive longe da chancela da GloboFilmes e, portanto, das telas dos cinemas comerciais. Não é fácil passar pelo gargalo da distribuição.
Há dois meses, quando Tropa 2 entrou em cartaz, um realizador paulista com quem conversava disse que não há mais espaço para filmes médios no Brasil, só para os pequenos (até 100 mil espectadores) e grandes (acima de 1 milhão).
"Hoje, filme médio é o grande que deu errado", disse o cineasta, em referência a Lula - o filho do Brasil, que não passou dos 800 mil pagantes.
Por isso, Capitão Nascimento não salva o cinema nacional. Bom brasileiro, ele fez o dele. Salvou a pele. Bons blockbuster, Tropa 2, Chico Xavier e Nosso Lar cumpriuram o seu papel e ocuparam todos os espaços possíveis. Filmes nacionais com potencial de público, como Antes que o mundo acabe e Reflexões de um liquidificador, foram escanteados.
Em nota oficial, o ministro da cultura Juca Ferreira, parabeniza o cinema brasileiro pelo recorde de Tropa 2. Mas até que ponto estamos de parabéns? Nos anos 40 de O Ébrio e nos 70 de Dona Flor, havia público não para três ou quatro, mas para dezenas de filmes nacionais.
É verdade que não fosse um blockbuster brazuca a ocupar as salas, seria Hollywood a fazê-lo. Só que hoje temos por ano algo em torno de uma centena de longas feitos no Brasil. Estaremos de parabéns quando eles chegarem ao público que, via impostos, os viabilizam.
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