sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Série Novos Olhares // Diretores discutem o Recife com testemunho audiovisual

A interferência urbana provocada por um condomínio de apartamentos erguido no bairro de São José serviu de mote para cerca de 40 realizadores se agruparem em torno de Projeto Torres Gêmeas. Mais ligados ao tema do que às torres em si, eles produziram de forma anônima pequenas obras em video, foto, música e texto. O material foi reunido em HD único e enviado para Fortaleza, onde será editado por Guto Parente, Felipe Bragança, Fred Benevides e Ivo Lopes, do coletivo Alumbramento (Estrada para Ythaca). No caminho inverso, eles produzirão imagens sobre um projeto milionário que implantará em Fortaleza o maior aquário da América Latina. O filme será montado no Recife.

O intercâmbio nasceu no último Janela Internacional de Cinema, onde cearenses e pernambucanos trocaram ideias sobre cinema coletivo. “O olhar deles pode se agregar ao nosso e descortinar do Recife guiado pelas nossas imagens e discursos”, diz Felipe Calheiros, um dos idealizadores do projeto. “Paralelamente, eu estava produzindo material sobre as torres com João Maria, soube que Tião fez algo, Luiz Joaquim lançou o filme Eiffel. Sentei com eles e começamos a formatar esse modelo coletivo”. Desde então, entre outros, entraram no grupo Marcelo Pedroso, Leo Lacca, Marcelo Lordello, Nara Normande, Ana Lira, Camilo Soares, Rodrigo Almeida, Chico Lacerda, Luis Fernando Moura, Jonathas de Andrade, Leo Falcão, Leo Leite, Luís Henrique Leal, Mariana Porto, Mayra Meira, Virgínia Maria Carvalho e Wilson Freire.

“Produzimos uma pluralidade de pontos de vista sobre a transfiguração urbanística no Recife, que precisa ser mais debatida inclusive na imprensa, que aparentemente não se importa. Não se trata de um problema apenas paisagístico, mas de modelo de cidade”, diz Pedroso. Não se sabe de que forma o material bruto será utilizado. Muito menos se
Torres gêmeas será um curta, média ou longa-metragem. Mesmo assim, todos os participantes irão assinar o filme, mesmo que seu material não entre.

“As discussões fazem parte do resultado”, diz Luís Fernando. “O discurso das construtoras e da especulação imobiliária está alinhado com o dos grandes veículos. Me incomoda esse modelo de expansão arquitetônica para poucos, com muros, clubes privados e ambientes fechados que nos tornam cada vez mais distantes. Me interessam filmes que problematizam isso”.

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