sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Série Novos Olhares // Um cinema feito à mão



Nos últimos três anos, um casarão do Recife Antigo serviu de set para o curta-metragem de animação Dia estrelado. O projeto é idealizado por Nara Normande que, com papel e massa de modelar construiu cenários, objetos e personagens praticamente sozinha. O movimento é obtido com a técnica stop-motion, em que milhares de imagens são capturadas digitalmente para depois serem alinhadas em sequência no computador. Para cada minuto de animação, são necessárias, no mínimo, 720 fotos.

Nara me recebeu no estúdio montado no segundo andar do Canal das Artes, onde criou um mundo árido onde habitam seus personagens. São três ambientes externos e dois internos. Um deles mostra o leito seco de um rio com um casebre. Com exceção das flores, todos os objetos são artificiais. "Quis representar o quadro Noite estrelada, de Van Gogh, com outras cores", diz.

Aos poucos, a jovem realizadora (24 anos) montou equipe formada por Marcelo Lordello (fotografia),Tião (assistência de direção), Raphaela Spencer (direção de produção), Lívia de Melo (produção executiva), Manuela Costa (finalização), Nicolas Hallet (som), João Maria (montagem) e os animadores Renata Claus, Maurício Nunes e Fábio Yamaji (de O divino, de repente). A trilha sonora será de Fernando Catatau (Cidadão Instigado).

Para a artista não importa o longo período demandado pelo projeto. "Com o tempo, a essência é a mesma e o roteiro amadurece. Fazer em 3D é mais fácil e rápido, mas não atinge o mesmo efeito, fica perfeito demais. Sempre gostei de filmes mais rústicos, artesanais, que dão margem para que se veja que aquilo é maquete, que tem uma pessoa por trás".

Para aprender o ofício, Nara passou longe dos cursos de animação oferecidos na cidade. Formada em jornalismo pela Universidade Católica, Nara gosta de modelar e de cinema desde criança. Bastou um curso com Peter Peak, do estúdio ingês Aardman (de Wallace and Grommitt e A fuga das galinhas), contatos e informações via internet e a leitura de alguns livros. Como referências estão Jan Svankmajer e Michaela Pavlátová, da República Tcheca. Com a última, estabeleceu contato e trocou ideias à distância.

Concebido para o formato de tela cinemascope, Dia estrelado foi viabilizado com recursos de editais da Fundarpe e do SIC municipal, ao custo de R$ 140 mil, incluindo o transfer para película 35mm. Nara já vem colaborando com outros filmes como A vida plural de Laika, de Neco Tabosa, Animal político, de Tião, e Praça Walt Disney, de Renata Pinheiro, todos em fase de produção. Já fez experimentos próprios, mas considera este o seu primeiro trabalho autoral. Depois de Sem coração, curta live action que dirigirá com Tião, Nara quer experimentar o desenho animado direto na película, riscando e colando objetos como nos primórdios da animação.

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