quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

2011-2012: cinema em franca ebulição



O ano de 2011 foi intenso para o cinema, que sem dúvida refletiu o processo de transição mundial. Dado o panorama de eventos políticos, sociais e econômicos, não deixa de ser sintomática a recorrência de superproduções escapistas como Harry Potter, Amanhecer e Transformers, que ocuparam os cinemas do mundo com a mesma sanha imperialista de uma incursão no Oriente Médio.

A estratégia deve crescer em 2012, principalmente com as franquias O espetacular Homem-Aranha, Batman - O Cavaleiro das Trevas ressurge, A era do gelo 4, Madagascar 3, O legado Bourne, G.I. Joe 2, Homens de Preto 3, Os Vingadores e Motoqueiro Fantasma 2. Grandes diretores apresentarão novas obras, a começar por Steven Spielberg (Cavalo de guerra), Guy Ritchie (Sherlock Holmes 2), Peter Jackson (O Hobbit) , Clint Eastwood (J. Edgar, com Leonardo DiCaprio), David Fincher (Homens que não amavam as mulheres, com Daniel Craig), Ridley Scott (Prometheus), Ang Lee (The life of pee) e David Cronenberg (Um método perigoso).

Em 2012, o 3D ganhará o reforço dos mestres Spielberg e Peter Jackson, que assinam As aventuras de Tintim, com estreia de janeiro; em fevereiro, é a vez de Martin Scorsese com A invenção de Hugo Cabret; em março, Wim Wenders faz tributo à coreógrafa Pina Bausch. Star Wars, Titanic, Procurando Nemo e A Bela e a Fera serão relançados, devidamente adaptados à técnica.

Eventos como a primaveira árabe, a crise financeira europeia e o drama político-social na Rússia pouco afetaram as produções norte-americanas. A grande exceção é Margin Call - O dia antes do fim, drama corporativo com Kevin Spacey e Jeremy Irons sobre o crash de 2008 (ainda inédito no Recife). No mais, a preferência foi por conflitos do passado, como a guerra fria (Missão Impossível 4) e a Segunda Guerra (Capitão América e X-Men - Primeira classe). Já os alienígenas nos deixariam em paz não fossem o nostálgico Super 8 e o horroroso Lanterna verde. E por falar em heróis, além dos X-Men, os melhores momentos vieram de personagens não-originários dos quadrinhos: Besouro Verde de Michel Gondry e Sucker Punch, de Zack Snyder.

2011 também foi o ano de Woody Allen, que Meia-noite em Paris, filme mediano e adorável, bateu seu recorde de bilheteria no Brasil. Ao contrário das produções hollywoodianas, o escapismo dourado de seu alter-ego (Owen Wilson) faz todo o sentido, pois leva à libertação. Terrence Malick é outro grande destaque do ano. Com A árvore da vida, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, tirada das mãos de Lars Von Trier, que não conseguiu fazer graça com o nazismo e foi expulso do festival. Mesmo sem o prêmio máximo do cinema mundial, Melancolia se impõe como melhor filme do ano. Não somente pelos atributos estéticos (principalmente a fotografia e a atuação de Kirsten Dunst), mas pela pertinência filosófica que melhor traduz o espírito de nossa época.

Sim, coube ao cinema europeu e asiático escancarar as contradições do presente. De Isto não é um filme, manifesto do iraniano Jafar Panahi enclausurado pelo governo de seu país, a A pele que habito, prospecção psicológica de Pedro Almodóvar sobre o fetiche da cirurgia plástica. De Cópia fiel, em que Kiarostami expõe as fragilidades do jogo afetivo-social, preso a papéis pré-definidos, ao russo Um sábado inocente, em que funcionários de Chernobyl não conseguem fugir do desastre enquanto se embriagam numa festa de casamento. Após o desastre de Fukushima, o filme ganhou estranha atualidade. Como diria Buñuel: a realidade é bem maior que os olhos podem enxergar.

Cinema nacional se multiplica

Dos dez maiores mercados do país, o Recife é o que mais prestigia o cinema nacional. De acordo com o portal de análise do mecado FilmeB, 19,5% do público da capital pernambucana assistiram a filmes brasileiros em 2011. Prova de que a vitalidade da produção nacional não está somente no potencial criativo dos filmes independentes, que neste ano tiveram mais espaço no latifúndio exibidor graças ao projeto Vitrine. Está também na capacidade de atrair muita gente para as salas de cinema.

No cinema comercial, comédias e melodramas predominam. Com um público de 3,5 milhões, De pernas pro ar, de Roberto Santucci, é a maior bilheteria do ano. Cilada.com, Qualquer gato vira-lata, O homem do futuro, Bruna Surfistinha e Assalto ao Banco Central também ultrapassaram a marca de um milhão de espectadores. A tendência deve se repetir em 2012, em filmes como As aventuras de Agamenon, o repórter, com Marcelo Adnet e Luana Piovani; E aí, comeu?, com Bruno Mazzeo; Tainá 3 – A origem; e À beira do caminho, de Breno Silveira.

Se, por um lado, Tropa de Elite 2 e seus 11 milhões de espectadores se confirmaram como caso isolado, a boa nova é que, entre tantos filmes com os dois pés no entretenimento televisivo (e por isso tachados de “globochanchadas”), fomos surpreendidos pela sensível viagem cinematográfica de O Palhaço, escrito, dirigido e estrelado por Selton Mello, que ano que vem estrela as comédias Reis e ratos e Billi Pig.

Dois grandes nomes do Brasil apresentam novos trabalhos no mercado internacional: Fernando Meirelles, com 360, e Walter Salles, com On the road. De pernambuco, Era uma vez Verônica, de Marcelo Gomes e Febre do rato, de Cláudio Assis, são duas prováveis produções a ter carreira internacional, assim como Praia do Futuro, de Karim Aïnouz. Também vêm aí, A hora e a vez de Augusto Matraga, com Fernanda Montenegro, João Miguel e José Wilker (em 2012, Wilker estreia como diretor em Giovanni Improtta); Xingú, de Cao Hamburger; Corações sujos, de Vicente Amorim; e Paraísos artificiais, de Marcos Prado, com produção de José Padilha.

Nos 15 anos de morte de Renato Russo, os fãs da Legião Urbana não podem reclamar. Neste ano, ganharam o documentário do mestre Vladimir Carvalho Rock Brasília – Era de ouro. E, ano que vem, estreiam Faroeste Caboclo e Somos tão jovens, a cinebiografia de Russo. Os dez anos de morte de Cássia Eller também serão lembrados em documentário de Paulo Henrique Fontenelle (Loki). E Raul Seixas ganha o filme O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho.

Em Pernambuco, o cenário não poderia estar melhor. Com o novo edital do audiovisual (R$ 11,5 milhões), a produção deve se fortalecer. Começamos 2012 com três longas em 35mm na agulha: Verônica, Febre do rato e O som ao redor, de Kleber Mendonça. E 2011 certamente ficará na memória dos cinéfilos que, nos 40 anos de Laranja Mecânica puderam assistir a todos os filmes de Stanley Kubrick no São Luiz, um luxo só equiparado à mostra promovida em Paris, pela cinemateca francesa.

Maiores bilheterias (Brasil)

1. Rio
2. Amanhecer - parte 1
3. Harry Potter e as relíquias da morte - parte 2
4. Os Smurfs
5. Piratas do Caribe
6. Enrolados
7. Transformers: o lado oculto da lua
8. Carros 2
9. Velozes e furiosos 5
10. Capitão América: o primeiro vingador

Fonte: Filme B

Os dez melhores de 2011 (estrangeiros)

1. Melancolia, de Lars Von Trier
2. Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas, de Apichatpong Weerasetakhul
3. Cópia fiel, de Abbas Kiarostami
4. A pele que habito, de Pedro Almodovar
5. A árvore da vida, de Terrence Malick
6. O lutador, de David Russell
7. Homens e Deuses, de Xavier Beauvois
8. Super 8, de J.J. Abrams
9. Meia noite em Paris, de Woody Allen
10. X-Men - primeira classe, de Matthew Vaughn

Os dez melhores de 2011 (nacionais)

1. Trabalhar cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas
2. Estrada para Ythaca, de Luiz e Ricardo Pretti e Guto Parente
3. O Palhaço, de Selton Mello
4. Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro
5. Estrada Real da Cachaça, de Pedro Urano
6. Pacific, de Marcelo Pedroso
7. As canções, de Eduardo Coutinho
8. Ex-isto, de Cao Guimarães
9. Transeunte, de Erick Rocha
10. O céu sob os ombros, de Sérgio Borges

(Diario de Pernambuco, 28/12/2011)

Um comentário:

Anônimo disse...

eu achei que Tio Boonmee fosse o melhor de 2011... :)