quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Mulher prendada no cangaço
Nascida em 8 de março de 1911, Maria Gomes Oliveira, a Maria Bonita, foi a primeira mulher a entrar para o cangaço. Mais que companheira de Lampião, uma das maiores lendas do Nordeste. “Ela é a mulher de guerra mais representada simbolicamente pelo povo brasileiro. Bonita, divertida – adorava dançar – e prendada: boa na agulha e nas linhas”, afirma e o historiador Frederico Pernambucano de Mello, que hoje, às 19h, realiza a palestra Maria Bonita: a mulher e o nome, no Museu do Estado (Graças).
Esse deve ser o último evento comemorativo do centenário de Maria Bonita em 2011. Como a cereja do bolo, o historiador contará a origem de seu nome. “Vou defender uma tese baseada em informações reveladas em 1983, por Melchiades da Rocha, o jornalista que primeiro cobriu a morte de Lampião, em 1938, quando trabalhava para o jornal A Noite e a revista A Noite Ilustrada”, diz Frederico.
O Diario de Pernambuco, à época dirigido por Aníbal Fernandes, produziu uma das fotos mais emblemáticas de Maria Bonita, a quem intitulava de Madame Pompadour do Cangaço. No entanto, o apelido que a eternizou veio de mais longe. Frederico afirma que Maria Bonita foi assim batizada pela imprensa carioca, que se inspirou em romance homônimo de Júlio Afrânio Peixoto. “Quando entrevistei Melchiades ele estava com mais de 80 anos. Me explicou a origem do nome e disse que, para checar a veracidade, bastava checar o livro, publicado em 1914 e o filme adaptado, de 1937”.
Autor de diversos estudos sobre o cangaço - o mais recente, Estrelas de couro - estética do cangaço (Escrituras), foi publicado em 2010 - Frederico analisa a alcunha de Maria Bonita como o recorrente processo da vida imitando a arte. “Ao contrário de Lampião, cujo vulgo parte da cultura popular sertaneja, Maria Bonita nasce da cultura urbana para depois invadir o Sertão, coroada pela opinião pública do Sudeste. É certo que a sujeição completa do nome pelo apelido se dá ainda em vida da Rainha do Cangaço, de maneira a não haver lugar para o Maria Gomes Oliveira, ou mesmo para cognomes anteriores”.
Maria Bonita encontrou seu Lampião em 1929, quando o bando circulava pelo Sertão da Bahia. Frederico detalha a geografia, de propriedade do casal José Gomes Oliveira e Maria Joaquina da Conceição, pais de Maria: “foi na sitioca da Malhada da Caiçara, vindo de mais uma visita de negócios”.
Após dois meses, Lampião levou a garota de 18 anos, recém-casada com um sapateiro. Pioneira, abriu caminho para outras mulheres entrarem no cangaço, uma delas quase tão famosa quanto Maria Bonita, a Dadá de Corisco. Frederico destaca a bravura, mas também a delicadeza do Rei do Cangaço como um dos fatores que a fizeram se encantar pelo pretendente. “Ninguém superava Lampião na máquina Singer de mesa”.
(Diario de Pernambuco, 14/12/2011)
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