quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Marca de Fantasia – exemplo de qualidade e independência editorial



Durante boa parte do dia, Henrique Magalhães trabalha na Universidade Federal da Paraíba, onde dá aula de laboratório de pequenos meios para estudantes de comunicação. Nas horas livres, em vez de descansar, ele começa outro expediente, dedicado a fazer livros e revistas em quadrinhos. Henrique é dono da Marca de Fantasia, a editora independente e absolutamente não-comercial, que há mais de dez anos vem prestando grande serviço aos quadrinhos nacionais.

A Marca de Fantasia começou como fanzine, que circulava em João Pessoa nos idos de 1985. Após voltar da França, onde se pós-graduou no tema, Henrique decidiu ampliar seu trabalho para um projeto editorial mais abrangente, que contemplasse inclusive livros teóricos sobre quadrinhos, fanzines e artes afins.


A NOVA ONDA DOS FANZINES, DE HENRIQUE MAGALHÃES

Para um independente, o catálogo de Henrique impressiona. Dos 70 títulos já publicados, cerca de 50 estão disponíveis em seu catálogo virtual, vendidos ao preço máximo de R$ 15.

Essa fantástica fábrica de revistas em quadrinhos funciona no conforto de um apartamento, na beira mar de João Pessoa. O equipamento – um computador conectado a uma impressora laser, está montado num quarto simples e tranquilo, ideal para a atividade. Nas paredes, estantes revelam o estoque de edições disponíveis para envio imediato. Ao redor há algumas telas, algumas assinadas por Shiko, uma das melhores revelações dos quadrinhos autorais brasileiros dos últimos anos.


MARGINAL, COLETÂNEA DO TRABALHO DE SHIKO EM FANZINES

Além de Shiko, cujo trabalho está na coletânea Marginal, a Marca de Fantasia publicou praticamente todos os artistas paraibanos em atividade: Mike Deodato, Cristóvão Tadeu, Emir Ribeiro, e o próprio Henrique, que além de editor e pesquisador, cria seus próprios quadrinhos.


TOP! TOP! 23 APRESENTA ENTREVISTA INÉDITA COM O GAÚCHO EDGAR VASQUEZ

Semestralmente, o fanzine Top! Top! (o nome vem da onomatopéia feita pelas mãos do Fradinho, o mais sacana personagem de outro Henrique, o grande Henfil) traz uma seleção de quadrinhos que inclui material estrangeiro, além de entrevistas com artistas e estudiosos - as mais recentes são com o paulista Marcio Baraldi, o gaúcho Edgar Vasquez (criador do antológico Rango), o pernambucano Jô Oliveira e o pesquisador paulista Gazy Andraus.


RANGO, UMA DAS CRIAÇÕES DE VASQUEZ

Aliás, dois anos após a morte de Henfil, Magalhães o homenageou fundando a gibiteca Henfil, que veio antes da localizada no Centro Cultural Vergueiro, São Paulo. “Tudo bem, Henfil merece várias gibitecas”, brinca, na entrevista abaixo, concedida pessoalmente, direto de João Pessoa.

O encontro se deu no ano passado, na mesma época do lançamento da Coleção Biografix, dedicada a publicar mestres dos quadrinhos brasileiros. Henrique estava bastante satisfeito em informar que o livro de estréia seria Lugares In-Comuns, de Jaguar, um belo resgate de uma obra há décadas fora de catálogo. Dois dias depois, a decepção: o título deveria ser retirado de circulação, por razões contratuais entre o artista e a editora Desiderata, atual detentora dos direitos de publicação de sua obra. No post abaixo, entre outros assuntos, Henrique fala sobre este frustrante e desnecessário episódio.

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