sexta-feira, 6 de julho de 2007

Texto sobre "Passos perdidos - história desenhada", vencedor do HQMix 2007



Originalmente publicado em 16 de maio de 2006, no Diario de Pernambuco, na ocasião do lançamento do projeto:

Passos dos judeus em Pernambuco - por André Dib

A presença judaica em Pernambuco consta desde o Descobrimento. No século 16, novos cristãos provenientes da Peníssula Ibérica por aqui se instalaram, para depois serem expulsos junto com os holandeses ou se espalhar sertão adentro. Uma segunda leva - Ashkenazitas da Europa Central e Oriental - chegou em fins do século 19. Na época, muitas famílias deixaram a Polônia e a Romênia, fugindo do crescente anti-semitismo.

A trágica história dos que ficaram por lá é bem conhecida. Mas e os imigrantes, como se adaptaram à nova vida nos trópicos? E mais: como o Recife do início do século 20 reagiu aos novos moradores? Este é o tema de "Passos perdidos - história desenhada", uma história em quadrinhos que terá lançamento amanhã, às 19h, na Livraria Cultura (Paço da Alfândega - Recife Antigo). O evento inclui um recital de música Klezmer, uma vertente instrumental do judaísmo europeu, cujos intérpretes são Olga Sedycias, Fábio Lispector e Ricardo Brafman.

Primeiro volume de uma série de cinco, a publicação é uma iniciativa do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, que assim pretende não só satisfazer a comunidade judaica em Pernambuco, como oferecer um instrumento educacional. O livro será distribuído gratuitamente para escolas e bibliotecas públicas. "Ele deixa de ser um trabalho de judeu para judeu, porque foi apropriado por outras áreas de conhecimento. Ao se integrar à arte da histórias em quadrinhos, entra o aspecto lúdico como proposta didático-pedagógica", comenta a professoa Tânia Kaufman, autora da tese de doutorado que originou a história em quadrinhos: "Passos perdidos - história recuperada".

A idéia de traduzir as 300 páginas da tese para a liguagem da arte seqüencial veio de Amaro Braga aluno de graduação de Kaufman na disciplina Judaísmo, religião e cultura. Além de adaptar e escrever o roteiro, é dele a direção de arte do projeto. "Superamos a perspectiva de mera adaptação", diz Braga, que para conduzir o leitor inseriu uma conversa entre uma avó e a neta, inserindo assim características da cultura judaica. "Utilizamos recursos da tradição oral, que está dentro do arcabouço cultural judaico. Usei as informações sem me preocupar com uma lógica acadêmica que está no original".

Para além do texto de Kaufman, o livro resgata paisagens desconhecidas dos recifenses do século 21, desenhadas pela dupla de artistas Danielle Jaimes e Roberta Cyrne. "É um resgate arquitetônico e paisagístico do século 19, que funciona como cartões postais da década de 30, em grandes ângulos de abertura", compara Amaro.

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