Um esqueleto neanderthal vestido com blusa da Benneton, um soldado soviético, o último pescador esquimó, e pingüins extintos no século 19. Estes são os principais elementos de "Umbra", de Stephen Murphy e Micheal Hawthorne. Explica-se: a nova HQ lançada pela Devir Livraria se passa na gelada ilha da Islândia, um dos países mais isolados do mundo. Daí a peculiaridade com que os personagens foram batizados: Askja, Bjorn, Arni, Freyja.
Tudo gira em torno de Askja Thorasdottir, uma jovem cientista da polícia, apaixonada por ciência e viciada em Ativan (tranquilizante mais conhecido no Brasil como Lorazepan) e Branevin (licor forte, à base de batata, típico do país). Obcecada pelo mistério, ela trabalha até cansar, e enquanto dorme, recebe revelações sombrias através de sonhos.
Originalmente publicada em quatro revistas, "Umbra" chega ao Brasil em volume único e capa cartonada. O roteiro, escrito por Stephen Murphy ("As Tartarugas Ninja") alterna entre o suspense investigativo, o romance (entre Askja e sua chefe) e a estranheza gerada por segredos e personagens bizarros que habitam o mundo dos sonhos.
De acordo com Murphy, o livro surgiu em 1999, a partir de um sonho que teve durante uma visita de três dias à Islândia. Devido à mudança de fuso horário, seu sono estava desregulado. Outra inspiração foi sua visão da cantora Björk no meio da noite, "caminhando pelas ruas de Rekyjavik, com seus cabelos esvoaçando em todas as direções, o que lhe deu a aparência de um tipo de fada com toques de Medusa", diz o autor, no prefácio do livro em quadrinhos.
Por sua vez, os desenhos em preto-e-branco de Micheal Hawthorne demonstram um bom domínio do contraste luz e sombra como recurso dramático, o que faz aumentar o ar de mistério criado pelo roteirista. Apesar do fraco desfecho, vale conferir "Umbra". Fica melhor ainda ao som de Bjôrk ou, quem sabe, os conterrâneos do grupo Sigur Rós.
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