No Recife há salas públicas e projetos mantidos por cinemas privados que formam um circuito paralelo de exibição. Algumas exibem filmes inventivos, estranhos, surpreendentes ou experimentais. Outras exibem filmes do circuito comercial, cujo acesso normalmente custaria até R$ 20, por módicos R$ 4.
Há pouco mais de dez anos, a realidade não era tão animadora. Na época, uma matéria escrita pelo crítico Luiz Joaquim (www.cinemaescrito.com), mapeou na cidade apenas três espaços do tipo. Desde 2001 programando os filmes do Cinema da Fundação ao lado de Kléber Mendonça Filho, Joaquim diz que o começo não foi fácil. Em 1998, quando a sala se tornou exclusiva para projeção de filmes, o público anual foi de 8 mil pessoas.
“Naquele tempo a gente precisava se apresentar e ganhar a confiança dos distribuidores. Já chegamos a exibir filme para apenas uma pessoa e nem por isso desistimos ou resolvemos passar Batman. Hoje temos a liberdade de escolher os filmes dentro do nosso critério de interesse”.
E foi através desse critério que a sala conquistou público fiel. Em 2010, 60 mil bilhetes foram vendidos. "Atualmente não podemos exibir todos os filmes que desejamos e acho que há uma demanda para eles. Como espectador, penso que deveria haver mais espaços de exibição para estes filmes"
Kleber Mendonça rejeita o rótulo de “cinema de arte” ou “cabeça” para classificar a programação do Cinema da Fundação, que já exibiu produções de Hollywood sem causar espanto. "Consideramos importantes alguns exibidos em cinemas comerciais, mas nem por isso vamos ajoelhar e rezar de acordo com a cartilha do mercado”.
O Recife também conta com dois cinemas municipais, sendo que um deles, o quase centenário Cinema do Parque, está fechado para reforma. Sérgio Dantas, atual gerente de audiovisual da Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR), diz que o Cinema Apolo vai combinar filmes autorais e mostras temáticas que começam com Godard, Herzog, Fellini, Polanski e David Lynch. “Também queremos apresentar a produção do Recife”, diz Dantas.
O Panorama Recife de Documentários também voltará à pauta do dia. Enquanto o Parque está em reforma, a prefeitura estuda a possibilidade de transferir o equipamento de projeção para o Teatro Barreto Junior, no Pina. “É uma reivindicação do bairro. Queremos que tenha o perfil popular do Parque. Talvez no futuro poderemos contar com três equipamentos”.
Nos cinemas privados também há espaço para filmes pequenos e notáveis. Das três salas do Cine Rosa e Silva, uma é exclusiva para eles. “Quis trazer um público diferente, com tom autoral e conciliar com o cinema comercial. Esta semana (começo de fevereiro) programamos Cisne negro, que acho que está dentro dessas duas vertentes”, diz a programadora Carol Ferreira.
Outro projeto especial é a Sessão de Arte do grupo UCI/Ribeiro, promovida há 15 anos por Pedro Pinheiro. “É uma forma de dar mais opção ao espectador que vai ao multiplex. Às vezes o público é pequeno, mas isso contribui para aumentar a qualidade da programação”.
Destino incerto para o Cinema São Luiz
Ano passado, o Recife teve o privilégio de ter de volta o Cinema São Luiz. A histórica sala, inaugurada em 1952 no centro da cidade, tinha tudo para se tornar igreja ou supermercado. Em vez disso, foi restaurado pelo governo estadual e hoje é um dos poucos cinemas de rua do país. No entanto, em termos de programação, o São Luiz viveu um 2010 conturbado pois se tornou um “pomo da discórdia” entre a Fundarpe, que gerencia o equipamento, e o então programador Lula Cardoso Ayres, destituído do cargo desde janeiro.
Durante seu mandato, Lula foi abertamente contra a exibição de filmes que já passaram pelo circuito comercial, assim como a sequência de eventos e festivais abrigados pelo local. Procurou lançar filmes inéditos na cidade e promoveu a Sessão Cinemateca, o que atraiu um público pequeno, mas fiel e ávido para assistir clássicos em 35 mm.
Enquanto o presidente da Fundarpe, Fernando Duarte, decide quem será o novo programador, os filmes são escolhidos pela coordenadora de cinema Carla Francine e o gerente do São Luiz, Cristiano Régis. “O público é o nosso termômetro. Começamos bem 2011, com Tropa de Elite 2, e vamos manter Megamente na matinê infantil”, diz Régis.
Desde que foi reinaugurada, a sala contabiliza mais de 50 mil pessoas em sessões normais, o que não inclui os projetos educativos CineCabeça, festivais e eventos - só o Festival Internacional de Cinema Infantil (Fici) realizado em outubro passado, atraiu quase 14 mil pessoas. “Isso está sendo bem positivo e atende a uma demanda real que observamos no cinema”, diz Carla Francine.
Geraldo Pinho, que já foi programador dos cinemas do Parque e Apolo, diz não enxerga problema algum em conciliar os dois perfis. “Não tenho preconceito com isso. No Parque eu cheguei a exibir 14, 15 filmes inéditos por ano, além de uma mostra de cinema iraniano. Mas boa parte era de filmes já exibidos na cidade. Costumava dizer que eles eram inéditos, pois se não passou no Parque, nosso público não tinha assistido”.
Serviço
Cinema da Fundação (200 lugares). Rua Henrique Dias, 609 - Derby. Ingressos: R$ 8 e R$ 4 (meia). 3073-6688.
Cinema Apolo (282 lugares) - Rua do Apolo, 121 - Recife Antigo. Ingressos: R$ 4 e R$ 2. 3355-3118.
Cinema do Parque (900 lugares - fechado para reforma) Rua do Hospício, 81 - Boa Vista. R$ 1. 3355- 3113.
Cines Rosa e Silva (127 lugares). Av. Rosa e Silva, 1406, Aflitos). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). 3207-0100.
Cinema São Luiz (900 lugares) Rua da Aurora, 175 - Boa Vista. R$ 4 e R$ 2.
(Diario de Pernambuco, 06/02/2011)
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