sábado, 5 de fevereiro de 2011

Layka não ladra, nem morde



O elo perdido entre a pessoa que sofre e a que goza é uma cadela. No curta A vida plural de Layka, a primeira adaptação de uma história em quadrinhos feita em Pernambuco, dois vizinhos levam vidas bem diferentes. Enquanto um rememora a vida sexual, outro trabalha duro para bancar as despesas da família.

Em fase de finalização, o curta de 15 minutos é baseado em HQ de mesmo nome publicada em 2003 pela Livrinho de Papel Finíssimo Editora. Os autores, Greg (da equipe de arte do Diario) e Henrique Koblitz (que hoje mora em São Paulo), participaram de todas as etapas do projeto, do storyboard às sequências de animação.

“É a vida do brasileiro, um se dá bem, o outro não”, diz o diretor neco tabosa, que assina assim mesmo, com letras minúsculas. O Viver assistiu uma prévia do filme, com algumas animações já inseridas. As sequências combinam planos sombrios e a escatologia de banheiros, depósitos e corredores sujos com cenas de “sexo elegante” (como define o diretor) lindamente fotografadas. Outro fator que chama a atenção é a captação e mixagem de som, que privilegia ruídos e efeitos estranhos com gemidos de todo tipo.

Interpretada pela cadela Cléo B. Collier, assim batizada após participar das filmagens de Lula - o filho do Brasil, Layka não ladra, nem morde. Seus olhos são doces e escuros como jaboticaba. Ela é a estrela da produção mas está longe de ofuscar a performance da parcela humana do elenco. No longa sobre a vida do ex-presidente, é ela quem corre atrás do pau de arara que parte do agreste a São Paulo. “Cléo é uma profissional completa. Tem mais experiência do que eu, que ainda não fiz um longa”, brinca o diretor nascido na Bahia, filho de pernambucanos e que vive no Recife desde 1992.

Antes de se dedicar a Layka, tabosa dirigiu o clipe Tá como o diabo gosta, remix do Re:combo para o projeto Micróbio do Frevo e De andada, série de sete vídeos sobre os lugares que inspiraram canções do manguebeat.

Layka foi contemplado em 2008 com o prêmio Ary Severo e com R$ 80 mil (impostos inclusos) foi rodado em locações do bairro da Boa Vista. Agora pleiteia recursos no Funcultura para finalização e transfer do digital para 35mm. Não é barato trabalhar com animações e elas são essenciais para a identidade do projeto. “Quero manter o filme fiel ao discurso dos autores”, diz o diretor.

Se a intenção é manter o aspecto original, o caminho é esse. Os traços dos desenhos animados feitos pela Quadro a Quadro (de Rafael Barradas e André Rodrigues) estão bem parecidos com os de Greg e Henrique. Para quem leu o quadrinho, é como se o filme expandisse o conceito, recriado nos domínios do cinema experimental.

Ficha Técnica

Direção: neco tabosa
Produção executiva: Nara Aragão
Produção: Sara Hazin, neco tabosa e Mariana Valença
Roteiro: Greg, Henrique Koblitz, diogo todë e neco tabosa
Chefe de iluminação: João Sagatio
Direção de fotografia: Roberto Iuri
Arte: Greg, Henrique Koblitz , diogo todë, Carlota, Jorge e Moa
Montagem: Priscila Maria e Mariana Valença
Animações: Quadro a Quadro (2D), Cauê Cavernas (3D), Nara Normande e Maurício Nunes (stop-motion)
Som: Phelipe Kabeça
Desenho de som: Moa
Elenco: Sâmara Cipriano, Iris e Iara Campos, Patrícia Fernandes, Luciana Canti e Júnior Águiar e a cadela Cléo B. Collier
Vozes: Greg e Jr. Black
Finalização: Guilherme Sarinho

(Diario de Pernambuco, 08/02/2011)

Um comentário:

neco tabosa disse...

excelente matéria, dib.
e que caras bonitos, mermão!!

eu só trocaria “É a vida do brasileiro, um se dá bem, o outro não” para "É a vida do brasileiro, entre fuder e se fuder"

:D

valeu!