sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Lourenço Mutarelli no Recife
O senhor acima se chama Lourenço Mutarelli. A reprodução é um auto-retrato publicado em A arte de produzir efeito sem causa, seu novo livro, e o primeiro editado pela Companhia das Letras.
Ele chegou ontem ao Recife, para uma série de atividades a convite do 6º Festival Recifense de Literatura - A Letra e a Voz. Uma delas será o debate Literatura Quadro a Quadro, ao lado de João Lin (coletânea Domínio Público - ver post abaixo) e Artur Rogério (coletivo Nós-Pós). Anote aí: será amanhã, às 15h, no auditório da Livraria Cultura (Paço Alfândega). Após o debate, sessão de autógrafos.
Ontem tive o prazer de conhecer Mutarelli. Foi durante o debate sobre literatura e cinema ao lado de Homero Fonseca e Fernando Monteiro. Entre outros assuntos, ele disse que não se sente proprietário de seus trabalhos, por isso não precisa ter controle sobre as adaptações de seus livros para o cinema, como no caso de O cheiro do ralo (dirigido por Heitor Dhalia) e O natimorto (dirigido por Paulo Machline). Ele considera este último, com estréia prevista para o começo de 2009, como um filme estranho e mais condizente com sua estética. Mas há a ressalva: "eu não faria tão pesado".
Assim como em O Cheiro do Ralo, Mutarelli participa da produção como ator, desta vez, o protagonista. Para compor o personagem, ele teve que perder peso e se submeter a um preparador de elenco. "Ele disse para usar o constrangimento a meu favor. Não costumo me orgulhar do que faço, mas gostei do resultado", confessou.
Sobre a carreira de quadrinista, ele diz ter desistido por estar preso a uma teia de cobranças da antiga editora (Devir). "Entrei numa crise que me deixou um ano e meio sem desenhar", contou. "Me especializei tanto em bico de pena que não havia mais descobertas. Voltei a desenhar há pouco tempo, com materiais precários, onde não tenho tanto controle do resultado".
Saiba mais sobre Mutarelli e a coleção Domínio Público clicando aqui ou nos posts abaixo.
Lourenço Mutarelli traz arte múltipla ao Recife
André Dib // Especial para o Diario
andrehdib@gmail.com
A influência mútua entre literatura e quadrinhos volta à pauta da programação do Festival recifense de literatura - A letra e a voz, promovido pela Fundação de Cultura da Prefeitura do Recife. Para discutir essa relação cada vez mais íntima e seus possíveis desdobramentos, o evento promove a mesa Literatura quadro a quadro, com participação de Lourenço Mutarelli, João Lin e Artur Rogério. O encontro está marcado para amanhã, às 15h, no auditório da Livraria Cultura (Paço Alfândega).
Entre outras considerações, João Lin deve trazer à mesa sua experiência em editar a Domínio Público, coletânea de contos adaptados para os quadrinhos, que acaba de ganhar nova edição pela editora paulista DCL (veja matéria abaixo). Por sua vez, Artur Rogério representa o Nós-pós, promissor coletivo da nova geração da literatura recifense. Logo após o debate, Mutarelli autografa A arte de produzir efeito sem causa (Companhia das Letras), terceiro romance de uma carreira que começou nas artes gráficas e hoje se estende à seara cinematográfica, inclusive como ator principal da adaptação de seu primeiro livro, O Natimorto, transformado em comédia noir pelo diretor Paulo Machline.
O novo livro do autor de O cheiro do ralo conta a história de um homem que abandona a família e o emprego para se hospedar na casa do pai. O elemento autobiográfico é pressentido na semelhança do protagonista com o autor: ambos têm 43 anos e foram batizados com o nome do pai. Em entrevista ao Diario, o autor confessa que, apesar de utilizar cenas e detalhes reais como matéria prima, os dois "Júnior" vivem momentos diferentes.
Na ficção, "Sênior" se preocupa com "Júnior", que desenvolve a afasia, grave doença degenerativa que aos poucos acaba com a capacidade cognitiva, principalmente de pensar e compreender as palavras. "Me inspirei em William Burroughs, que tinha em sua obra uma tentativa em destruir a linguagem". Isso se traduz visualmente no próprio livro, na presença de estranhos gráficos desenhados porJúnior / Mutarelli com caneta esferográfica azul. As interferências visuais instigam e comprometem um bocado o conceito convencional de diagramação.
Apesar do reconhecimento obtido no mundo dos quadrinhos, Mutarelli não pretende voltar à atividade, com ressalva para trabalhos puramente experimentais e sem a rigidez dos prazos editoriais. "Estava me tornando um profissional, tinha que entregar uma HQ por ano", justifica o escritor. "A literatura abriu outras portas para mim. Eu já estava cansado de fazer quadrinhos, então não foi difícil parar". Claro que as chuteiras (temporariamente?) penduradas não o impedem de falar sobre o assunto. "Minha literatura é fruto das histórias em quadrinhos. Aprendi a escrever com síntese por causa do espaço pequeno dos balões, a descrever um cenário com poucos elementos. Até a forma de abordar e aprofundar os personagens é influenciada por esse universo".
Esse texto radicalmente condensado, principalmente nos diálogos, estabelece um ritmo que encontra paralelo não somente nosquadrinhos, mas nos roteiros de cinema, o que faz deste A arte de produzir efeito sem causa um produto atípico e potencialmente renovador do fazer literário.
Serviço
A arte de produzir efeito sem causa, de Lourenço Mutarelli
Editora: Companhia das Letras
Preço médio: R$ 39,50
Olavo Bilac e companhia em HQs da Domínio Público
Renato L // Diario
renatol@diariodepernambuco.com.br
O projeto Domínio público - literatura em quadrinhos, idealizado pelos pernambucanos João Lin e Mascaro (editor de arte do Diario e do Aqui PE), colocou um desafio instigante diante de um grupo de jornalistas e quadrinistas: adaptar para o universo dos comics uma série de narrativas de autores brasileiros canônicos como Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac e Lima Barreto. Lançado de forma independente em 2006, o primeiro volume retorna às prateleiras pela editora DCL, com outro formato gráfico, que reforça a riqueza narrativa e visual das histórias selecionadas.
João Lin e Mascaro aproveitam no novo projeto a experiência adquirida com a revista Ragú, produzida por eles, que já está na sétima edição - um feito e tanto em um mercado rarefeito para os quadrinhos como o nordestino. O título da nova empreitada dá uma pista dos objetivos da dupla: driblar as restrições cada vez mais contestadas das leis de direito autoral e divulgar a obra de autores muito citados, mas, às vezes, pouco lidos. "Sempre acreditamos no potencial desse produto para sair do gueto underground. O acordo firmado com a DCL nos dá uma distribuição nacional mais eficiente", afirma Mascaro.
A entrada em cena da editora paulista tem uma explicação: o governo federal incorporou os quadrinhos ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), um projeto instituído em 1997 para facilitar o acesso de professores e alunos aos bens culturais. Esse mercado estatal, cobiçado por toda a indústria do livro brasileira, possibilita que uma obra como Domínio público alcance uma tiragem inicial em torno dos 15 mil exemplares. Agora, a estudantada - mas não só eles, claro - pode conhecer com mais facilidade as adaptações para quadrinhos de contos como O homem que sabia javanês (Lima Barreto), A cartomante (Machado de Assis) e O soldado Jacob (Medeiros e Albuquerque).
"Trabalhar com material desses nomes canônicos foi uma maneira de contornar a escassez de bons roteiros dos quadrinhos nacionais", afirma Mascaro. Para escolher as duplas de adaptadores e ilustradores, ele e João Lin levaram em conta a compatibilidade dos potenciais convidados com o estilo dos contos originais. "Em alguns casos, a adaptação foi feita antes da quadrinização. Em outros, se deu exatamente o contrário. As duplas tiveram autonomia para decidir sua maneira de funcionar", conta Mascaro. Vários jornalistas pernambucanos - ou radicados no Estado - estão entre os escolhidos pelos idealizadores, como Júlio Cavani e André Dib, ambos repórteres do Viver, e de Lydia Barros,ex-editora do Viver.
O segundo volume da série Domínio público, reunindo autores estrangeiros como Bram Stoker e Esopo, também foi publicado de forma independente e pode ser encontrado nas livrarias. Por enquanto, a DCL ainda não confirma seu relançamento nacional. Mas Lin e Mascaro não perdem tempo: eles planejam, agora, um terceiro volume, dedicado ao realismo fantástico.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Let the sunshine in - Wood & Stock na Antologia Chiclete com Banana
Podes crer, não é flashback. Wood & Stock, os últimos dos dinossauros, são a capa da Antologia Chiclete com Banana nº 6 (Devir / Jacarandá, R$ 6,90).
Além da dupla hippie, outros personagens fazem a cabeça do leitor, neófito ou nostálgico: o Pequeno Lobatinho (a fotonovela), Walter Ego, New Imbeciw, e claro, os impagáveis Los Três Amigos.
A seguir, uma seleção do Quadro Mágico faz uma prévia da viagem que está a nova revista.
sábado, 23 de agosto de 2008
Um longo Despertar
Separações levam a pensar nas diferenças entre o antes e o depois de uma relação, e como a recente experiência será levada (ou o levará) até o fim dos dias. Agora que tudo terminou, não sou mais o mesmo, assim como vejo o outro - e o mundo - com outros olhos.
Neste mês de agosto se encerra a longa relação entre leitores brasileiros e a mais famosa criação do escritor inglês Neil Gaiman. Sandman - despertar (Conrad, R$ 69,90) é o décimo e último livro desta série em quadrinhos que marcou época, e que desde 2004 estava sendo republicada pela Conrad em definitivos volumes de luxo.
Até então, a série tinha sido lançada em 75 números no formato comics. No Brasil, a primeira edição data de 1989, pela Editora Globo. Naquela época (assim como hoje, talvez), não havia nada tão elaborado conceitualmente nos quadrinhos.
Sandman (Homem da areia) é um personagem da cultura popular européia, que sopra areia nos olhos para as crianças dormirem. Reinventado por Gaiman, ele assume a identidade de Lorde Morpheus, mestre do Sonhar, reino habitado por todos nós em algum momento da vida. Para saber mais sobre Sandman e seus irmãos Perpétuos, clique aqui.
Um universo paralelo certamente fantasioso, porém tão detalhado em nuances que parece real. Me lembro bem da minha primeira percepção involuntária dessa realidade não aconteceu enquanto lia a HQ, mas no ato corriqueiro de preparar uma comida. Naquele momento percebi que obras de arte são assim, permanecem vivas após o contato.
Para existir, uma relação precisa levar a lugares novos, neste caso, no mínimo, estranhos. De forma que o fim chega envolto de melancolia e certa resistência, como naqueles sonhos bons que, a despeito dos ânimos, insistem em terminar.
sábado, 9 de agosto de 2008
Calvin e Haroldo de volta em "Yukon Ho!"
A Conrad Editora acaba de lançar Yukon Ho!, mais um volume das "obras completas" de Calvin e Haroldo. Este é o quarto título nacional dedicado à criação mais famosa do cartunista Bill Waterson.
Desde os anos 80 suas tirinhas freqüentam jornais de todo o mundo.
Muitas vezes, uma tira em quadrinhos é algo descartável, que vai pro lixo junto com seu suporte, o jornal. Em alguns casos, no entanto, o material é tão bom que chega a doer vê-lo como papel pra embrulhar peixe. É o caso do trabalho de Waterson, que agora ganha o tratamento que merece.
Calvin é um menino irriquieto, o típico "pestinha" que inferniza a vida dos pais. Filho único de um casal classe média norte-americano, ele tem em seu tigre de pelúcia, Haroldo (em inglês, Hobbes, em homenagem ao filósofo), um cúmplice sutil e sensível com o qual vivencia uma realidade paralela própria das crianças.
Ao contrário do que parece, Calvin e Haroldo dialoga mais com adultos do que crianças. Seu universo representa um paraíso perdido para os crescidos, e aí reside o carisma poético e por vezes melancólico de sua leitura.
A trabalhos assim costuma-se atribuir um nome: clássico.
Abaixo, leia uma das tirinhas selecionadas pelo Quadro Mágico.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
A Turma da Mônica, 40 anos depois
sábado, 2 de agosto de 2008
The Spirit, o filme vem aí
Marcado para dezembro a estréia mundial de The Spirit, o herói de Will Eisner trazido às telas por Frank Miller.
O trailer já circula na internet, e demonstra sérias semelhanças com Sin City, co-dirigido por Miller ao lado de Robert Rodriguez.
No elenco, Gabriel Macht (Spirit), Eva Mendez (Silken Floss) e Samuel Jackson (The Octopus).
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