sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Olavo Bilac e companhia em HQs da Domínio Público



Renato L // Diario
renatol@diariodepernambuco.com.br

O projeto Domínio público - literatura em quadrinhos, idealizado pelos pernambucanos João Lin e Mascaro (editor de arte do Diario e do Aqui PE), colocou um desafio instigante diante de um grupo de jornalistas e quadrinistas: adaptar para o universo dos comics uma série de narrativas de autores brasileiros canônicos como Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac e Lima Barreto. Lançado de forma independente em 2006, o primeiro volume retorna às prateleiras pela editora DCL, com outro formato gráfico, que reforça a riqueza narrativa e visual das histórias selecionadas.

João Lin e Mascaro aproveitam no novo projeto a experiência adquirida com a revista Ragú, produzida por eles, que já está na sétima edição - um feito e tanto em um mercado rarefeito para os quadrinhos como o nordestino. O título da nova empreitada dá uma pista dos objetivos da dupla: driblar as restrições cada vez mais contestadas das leis de direito autoral e divulgar a obra de autores muito citados, mas, às vezes, pouco lidos. "Sempre acreditamos no potencial desse produto para sair do gueto underground. O acordo firmado com a DCL nos dá uma distribuição nacional mais eficiente", afirma Mascaro.

A entrada em cena da editora paulista tem uma explicação: o governo federal incorporou os quadrinhos ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), um projeto instituído em 1997 para facilitar o acesso de professores e alunos aos bens culturais. Esse mercado estatal, cobiçado por toda a indústria do livro brasileira, possibilita que uma obra como Domínio público alcance uma tiragem inicial em torno dos 15 mil exemplares. Agora, a estudantada - mas não só eles, claro - pode conhecer com mais facilidade as adaptações para quadrinhos de contos como O homem que sabia javanês (Lima Barreto), A cartomante (Machado de Assis) e O soldado Jacob (Medeiros e Albuquerque).

"Trabalhar com material desses nomes canônicos foi uma maneira de contornar a escassez de bons roteiros dos quadrinhos nacionais", afirma Mascaro. Para escolher as duplas de adaptadores e ilustradores, ele e João Lin levaram em conta a compatibilidade dos potenciais convidados com o estilo dos contos originais. "Em alguns casos, a adaptação foi feita antes da quadrinização. Em outros, se deu exatamente o contrário. As duplas tiveram autonomia para decidir sua maneira de funcionar", conta Mascaro. Vários jornalistas pernambucanos - ou radicados no Estado - estão entre os escolhidos pelos idealizadores, como Júlio Cavani e André Dib, ambos repórteres do Viver, e de Lydia Barros,ex-editora do Viver.

O segundo volume da série Domínio público, reunindo autores estrangeiros como Bram Stoker e Esopo, também foi publicado de forma independente e pode ser encontrado nas livrarias. Por enquanto, a DCL ainda não confirma seu relançamento nacional. Mas Lin e Mascaro não perdem tempo: eles planejam, agora, um terceiro volume, dedicado ao realismo fantástico.

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