sexta-feira, 10 de novembro de 2006
O nome dele é Robert Crumb...
...e ele acaba de lançar a sublime compilação “R. Crumb’s Heroes of Blues, Jazz & Country”, em que o cartunista underground mais cultuado das galáxias desenha seus ídolos da música. O livro inclui introdução de Terry Zwigoff (músico, cineasta e amigo das antigas), e um CD bônus com uma seleção de 21 oldies originalmente gravadas entre 80 e 100 anos atrás. Babou? Ta fácil. Tem no Amazon.com, por US$ 13.
Quem conhece um pouco de Robert Crumb sabe que o velhinho que hoje mora no sul da França sempre desprezou/odiou o comportamento rock’n’roll. Apesar de ter flertado com a lisergia do fim dos anos 60 e produzido capas de discos para Janis Joplin e Rolling Stones, sua viagem sempre foi jazz e blues, mais especificamente, dixieland, bluegrass, hillbillie, bebop e derivados.
A série foi desenhada nos anos 80, quando Crumb decidiu fabricar séries de 36 cartões colecionáveis retratando na frente, e biografando no verso, músicos que ouve apaixonadamente na sua famosa coleção de discos de 78 RPM. Pra se ter uma idéia, os nomes mais “conhecidos” são “Bix” Beiderbecke, Blind Willie Johnson (recentemente biografado por Wim Wenders na série de documentários The Blues), Big Bill Broonzy, Bennie Goodman, Fats Waller e Duke Ellington.
Os demais despertam, no mínimo, curiosidade antropológica: que tal o som de Barbecue Bob, Memphis Minnie ou Uncle Dave Macon and his Fruit-jar Drinkers? Em uma só palavra: cool!
Scorsese, Wenders, Almodóvar...
Não é sempre que a programação de cinema do Recife se dá ao luxo de oferecer, ao mesmo tempo, os novos filmes de Pedro Almodóvar, Martin Scorsese e Wim Wenders – respectivamente, “Volver”, “Os Infiltrados” (ambos no circuito comercial) e “Estrela Solitária” (somente no Apolo). Assisti “Os Infiltrados” (The Departed), e fiz uma lista com alguns motivos que o tornam imperdível, se você gosta de cinema com C:
1. É a volta magistral de Scorsese ao universo gângster, demarcado em 1990 com “Os Bons Companheiros”;
2. Jack Nicholson, pela primeira vez nas mãos de Scorsese;
3. Poesia pop de primeira grandeza: ouvir a melancólica Let it Loose, dos Rolling Stones, tocar num bar pulguento de um bairro escuro, enquanto um decadente Nicholson, o godfather do crime local, bebe sentado no balcão. Já integra a enciclopédia audiovisual contemporânea;.
4. Jack Nicholson batendo em Leonardo Di Caprio;
5. Mark Whalberg batendo em Leonardo Di Caprio;
6. Matt Damon batendo em Leonardo Di Caprio (e vice-versa);
Por fim, três comentários fúteis:
1. O filme se passa em Boston, Massachussets, mas parece Nova York. Por que será?;
2. Di Caprio vem sendo chamado de “o novo Robert de Niro”, já que estrela as três últimas produções do padriño Martin. É mole?; e, por fim,
3. Não recomendo “Os Infiltrados” para celular-fóbicos. Os aparelhinhos quase aparecem mais do que os atores, e são mais decisivos na trama do que a maioria das pessoas. Tem personagem que morre em sangue, e não solta o telefone de jeito nenhum...
1. É a volta magistral de Scorsese ao universo gângster, demarcado em 1990 com “Os Bons Companheiros”;
2. Jack Nicholson, pela primeira vez nas mãos de Scorsese;
3. Poesia pop de primeira grandeza: ouvir a melancólica Let it Loose, dos Rolling Stones, tocar num bar pulguento de um bairro escuro, enquanto um decadente Nicholson, o godfather do crime local, bebe sentado no balcão. Já integra a enciclopédia audiovisual contemporânea;.
4. Jack Nicholson batendo em Leonardo Di Caprio;
5. Mark Whalberg batendo em Leonardo Di Caprio;
6. Matt Damon batendo em Leonardo Di Caprio (e vice-versa);
Por fim, três comentários fúteis:
1. O filme se passa em Boston, Massachussets, mas parece Nova York. Por que será?;
2. Di Caprio vem sendo chamado de “o novo Robert de Niro”, já que estrela as três últimas produções do padriño Martin. É mole?; e, por fim,
3. Não recomendo “Os Infiltrados” para celular-fóbicos. Os aparelhinhos quase aparecem mais do que os atores, e são mais decisivos na trama do que a maioria das pessoas. Tem personagem que morre em sangue, e não solta o telefone de jeito nenhum...
Chegou o rock´n´roll!!
Não se sabe quando estréia no Recife o divertido “Wood & Stock – sexo, orégano e rock’n’roll”, a animação do gaúcho Otto Guerra baseada nos personagens de Angeli. Quem assistiu sua estréia nacional, durante o Cine-PE deste ano, sabe que o filme não é careta, não. Ao contrário, é uma homenagem à altura – e tiração de onda no estilo “O Grande Lebowsky” (como bem lembrou o crítico Kleber Mendonça) – à cada vez mais distante geração flower power.
Quem ainda não assistiu, pode ir matando a larica ouvindo a trilha sonora, recém-lançada pela carioca DeckDisc. No mesmo CD, tem a velha guarda tresloucada muito bem representada por Rita Lee, Arnaldo Baptista, Novos Baianos e Tom Zé, e os novos doidões psicodélicos do Mopho, Flu (ex-De Falla) e o recentemente nomeado cidadão recifense Júpiter Maçã. Ou nas lojas, ou para download em www.deckpod.com.br.
E tem mais novidade no front sulista de animação. Além de estar em viagem por festivais da Europa com “Wood & Stock”, onde venceu na categoria melhor longa de animação no Animacor, em Córdoba, Otto Guerra acaba de ser contemplado pelo BNDES para produzir o musical animado “Fuga em ré menor para Kraunus e Pletskaya”. “Desta vez com censura livre, pra variar um pouquinho”, brinca a produtora executiva Marta Machado, já que não teve jeito – "Wood & Stock" foi censurado para menores de 18 anos. Por que será...?
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
Caminhando contra o vento...
Em 1967-68, um jornal de contracultura circulou diariamente nas bancas do Rio de Janeiro. Com apenas seis meses de vida, ele foi uma das experiências pioneiras em imprensa alternativa no Brasil. Seu nome era “O Sol”, batismo inspirado na música de Caetano, Alegria, Alegria (“o sol nas bancas de revista”). Escreveram nele intelectuais e artistas, da combativa esquerda revolucionária, ou da turma do desbunde libertário, unidos contra a ditadura cada vez mais escancarada, às vésperas de horrorizar com o AI-5. Pra se ter uma idéia, enquanto a mídia mundial anunciava “Che pode estar morto”, a manchete do Sol foi: “Che pode estar vivo”. Outra pérola provocativa: “Paz ameaça Vietnã”.
Quase 40 anos depois, eis que a história é contada em documentário, com depoimentos de quem a viveu: Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony, Gabeira, Hugo Carvana, Ruy Castro, Arnaldo Jabor, Henfil, Ziraldo, Chico, Caetano e o ministro Gil. O Sol - o filme, tem direção de Tetê Moraes e Martha Alencar, e estréia na próxima sexta no Box Guararapes.
Tetê, que também dirigiu Terra para Rose, estará no Recife nesta terça (12/09), às 15h, para uma sessão-debate gratuita no Cineclube Revezes (sala 511 da Unicap – Boa Vista). Participam da mesa a cineasta Kátia Mesel, o crítico de cinema Celso Marconi e o jornalista Marcelo Mário de Melo, com mediação do professor Alexandre Figuerôa. Mais tarde, às 21h30, o filme terá pré-estréia, no Box Guararapes. Quem quiser ganhar convite, é só escrever para mim. Mais informações sobre O Sol em www.osolfilme.com
domingo, 3 de setembro de 2006
Fique, FIHQ!
O 8º Festival Internacional de Humor e Quadrinhos acabou no fim de julho, contabilizando 200 trabalhos selecionados dos quatro cantos do mundo, e um fluxo de 6 mil visitantes só nas três primeiras semanas (dados da Fundarpe). É o maior evento do gênero no nordeste, e tem cacife pra ser um dos melhores do Brasil. Posto isto, vale a pena fazer um balanço do evento, não só pela relevância conquistada nestes oito anos, mas também porque é a primeira edição em que a Acape (Associação dos Cartunistas de Pernambuco) assumiu 100% o evento, sempre ao lado da Fundarpe. Explico: o presidente da Fundarpe, Bruno Lisboa, cumpriu a promessa anunciada um ano atrás, e o cartunista Laílson de Hollanda, idealizador do evento e atual produtor do festival Porto de Humor (Porto de Galinhas), passou a bola do FIHQ definitivamente pra Acape.
De volta ao balanço: em qualidade, o evento em nada ficou devendo às edições anteriores, e foi além em alguns detalhes. Um deles foi a criação de uma quinta categoria competitiva (sem trocadilhos, claro), a da ilustração editorial, tão pouco lembrada nos festivais brasileiros. Já os tradicionais convidados de peso parecem ter sido escolhidos não só pela fama, mas pelo reconhecimento no meio, e o conseqüente potencial de estímulo em oficinas e palestras. Formação e fomento foram as palavras do FIHQ este ano. Daí a presença dos mestres da ilustração infantil Ângela Lago e Moacir Vale, do consagrado cartunista Nani, de Érica Awano e Marcelo Cassaro (criadores do mangá Holy Avenger), Gualberto Costa (criador do prêmio HQMix), do ilustrador brasiliense Kléber Sales, e do guru underground Fábio Zimbres.
Quanto aos convidados internacionais, colocar Peter Kuper (EUA) e Naif Al Mutawa (Kwait) lado a lado foi golpe de mestre. Em tempos de conflito no Oriente Médio, o encontro foi uma ponte cultural, algo diferente do que se vê nos jornais: Kuper é anti-Bush de carteirinha, e Mutawa, bem, é um empresário, e prega a tolerância dos dois lados. Separadamente, cada um tem importância suficiente no panorama mundial: entre milhares de trabalhos, Kuper edita a revista World War 3, assina a série Spy vs Spy (para a MAD) e lidera um sindicato de cartunistas; por sua vez, Mutawa luta pra lançar The 99, a HQ de super-heróis muçulmanos estilo Marvel Comics.
A última – e bem vinda - novidade é o catálogo impresso do FIHQ, que acaba de ficar pronto. São mil cópias, distribuídas aos selecionados do festival, festivais de vários países, imprensa, cartunistas, bibliotecas públicas e algumas escolas. É bom ressaltar que, nos últimos anos, ele vinha sendo apresentado somente em CD, o que prejudicava a visibilidade do festival e dos artistas. De acordo com João Lin, presidente da Acape, não se trata apenas de registrar: “o artista do desenho de humor tem uma relação histórica com as mídias impressas, como o livro, o jornal e a revista, entre outros. Ter seu trabalho impresso com boa qualidade representa o fechamento de um ciclo na profissão de qualquer artista gráfico”.
Quanto à escolha do auditório do Diario de Pernambuco (Santo Amaro) para sediar as palestras, alguns pontos são dignos de consideração. O local é “show de bola” pra qualquer evento do tipo. Porém, fica por demais deslocado geograficamente para o público jovem e pedestre, ou seja, os potenciais interessados no assunto. Pra quem mora na Zona Norte ou Zona Sul, são dois coletivos pra chegar lá. Resultado: apesar da boa divulgação, a platéia foi atenta, mas pequena, tendo em vista o porte dos convidados. No mais, parabéns à Acape, Fundarpe, e vida longa ao FIHQ!
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A Casa Monstro
Há vários motivos para assistir A Casa Monstro, que estreou esta semana no Brasil. A animação é um filme de terror bacana, pra todas as idades. Os adultos, em particular os que foram criança nos anos 80, vão adorar rever um mundo sem aparelhos celular, controle remoto ou computador. Com carros quadrados, TV de seletor, rádio-despertador, fliperama, pipa e triciclo de ferro. Claro que tudo isso fica implícito: as crianças não perceberão a diferença, já que o roteiro não situa o tempo em momento algum.
A produção é da Columbia Pictures, em parceria com a Amblin, a produtora de Steven Spielberg, que também assina a produção executiva ao lado de Robert Zemeckis. A combinação destes monstros do cinema de fantasia deu num filme com muitas qualidades e adjetivos: inteligente, engraçado, envolvente, nostálgico e... assustador.
O clima de realismo ao contar a história DJ, um garoto de 12 anos obcecado pelo casarão velho do outro lado da rua, vem da técnica de animação adotada pelo filme, a captura de movimento de atores reais, em cenários gerados por computador. Steve Buscemi, por exemplo, fez os movimentos e a voz de Epaminondas, o morador da casa assombrada, que adora roubar os brinquedos que caem no seu gramado.
Segundo Zemeckis, em entrevista à Folha de São Paulo, estes são apenas os primeiros passos (que começaram com O Expresso Polar) de algo que vai revolucionar a maneira de fazer filmes. As notas de produção ainda dizem que A Casa Monstro não foi pensado como animação, mas acabou sendo porque não seria fácil dar movimento à casa de outra maneira.
Só um lamento: no Recife, só cópias dubladas, então nada de vozes originais de Buscemi, Jason Lee e Kathleen Turner. Uma salinha pelo menos, né gente?
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Caché, última semana
O melhor filme em cartaz na Recife continua sendo Caché, de Michael Haneke, que chega incólume à sexta – e derradeira – semana no Cinema da Fundação. Terça (dia 5), às 16h, e quinta (dia 7), às 16h.
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Super Thurman
Todo nerd um dia já sonhou em conhecer uma super-heroína, e é disso que trata Minha Super Ex-Namorada. Não se deixe enganar: apesar do cartaz sofrível e do título chinfrim, o filme de Ivan Reitman (Os Caça-Fantasmas), é bem legal.
A receita, misturar comédia romântica com filme de super-herói, faz parte de uma culinária bastante em voga em Hollywood – o cruzamento de gêneros. Com o perdão da metáfora, se o filme de Reitman fosse um bolo, Uma Thurman seria o recheio, cobertura, confeitos e o morango por cima de tudo. Isso porque os efeitos não são de primeira, as atuações achatadas, e o roteiro, previsível. Thurman, no entanto, deita e rola no papel da super G. Girl, sem problemas pra salvar o mundo, mas sem talento pra manter um namorado - o nerd em questão é um arquiteto de personalidade apagada (Luke Wilson, o irmão de Owen).
O roteiro parte do pressuposto de que todos nós (o público) já tivemos um par romântico inseguro, ciumento, controlador, barraqueiro, vingativo até a última conseqüência. Adicione a esta... criatura o poder de voar e quebrar tudo, e temos boas piadas – especialmente as com tubarões.
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Ninfas e lobos
De repente, você está lá, torcendo pra que uma bela ninfa aquática encontre seu receptáculo humano, pegue carona numa águia, e conduza uma nova era universal, antes que seja impedida por um lobo bidimensional com grama nas costas. Tudo com a ajuda de um zelador de condomínio e alguns moradores. Este é o plot resumido de A Dama na Água, a nova produção “espiritual” do indiano M. Night Shyamalan. Baseado numa história de ninar oriental, o filme tem Paul Giamatti no papel principal, e engraçados toques de metalinguagem. É que um dos condôminos é um pretenso crítico, raça a qual o diretor parece ter encontrado a oportunidade de se vingar desde que seu filme anterior, A Vila foi mal recebido. Ai, que saudades de O Sexto Sentido...
domingo, 27 de agosto de 2006
Quadrinhos-bomba
Paulinho do Amparo tira é onda. Inventou de fazer quadrinhos, e já tem material pra uma revista inteira. Quem conhece seu trabalho, sabe que ele sempre usou bastante a linguagem das HQs em telas, capas de CDs do selo 3Ets Records! e cartazes espalhados cidade afora.
A novidade é que, de uns meses pra cá, Paulinho vem fazendo justamente o contrário: quadrinhos sobre música e artes plásticas. Mais precisamente, sobre pessoas e lugares da “cena” cultural da cidade, em situações quase sempre constrangedoras e, garante o próprio, nada fictícias. Tudo funciona como uma coluna social às avessas, já que Paulinho “bota quente” mostrando os podres da galera. Verdade ou invenção, o que importa é que a série já soma 10 páginas de uma estranha e engraçada forma de ver o mundo.
Os personagens? O músico Fábio Trummer, Roger de Renoir, fiscais da Ordem dos Músicos e, entre outros ilustres, Satanás em pessoa, que abriu escritório no bar Garagem. O desenho continua sujo e improvisado, e agora com influência assumida das leituras que andaram fazendo sua cabeça – de Frank Miller (a surrealista Elektra Assassina e o preto e branco alto contraste de Sin City), aos elementos orientais de Takehiro Inoue em Vagabond.
Em setembro uma destas historinhas será publicada no zine Fusão, que teve 500 cópias bancadas pela Semana de Artes Plásticas 2006(SPA). Nada menos do que uma aventura etílica estrelada por Reginaldo Rossi e a turma da Mônica. Até o Pelezinho entrou na jogada. A caminho também está um gibi pornô-hardcore com grupo feminino Backin’ Ballcats Barbis Vocals. Paulinho prevê esta pérola do undergroud recifense circulando durante o festival No Ar: Coquetel Molotov, dias 1 e 2 de setembro. Ou dia 12 no mais tardar, durante sua oficina de serigrafia, no SPA.
Por enquanto, você, leitor deste blog, confere em primeira mão um dos primeiros atentados deste homem-bomba com uma caneta na mão. Em breve, tem mais. Clique na imagem acima para ampliar.
Esta é a sua vida
Click, de Frank Coraci, é uma comédia excessivamente american way, em que Adam Sandler (cada vez mais parecido com Jerry Lewis) é Michael Newman, um estressado e esforçado pai de família. Na busca de um controle remoto universal, ele ganha um com o poder de pausar, adiantar e voltar no tempo, como se a vida fosse um menu interativo de DVD, com capítulos, extras e tal. Adivinha se ele usa a invenção pra melhorar o mundo? O cara aperta “pause” pra, err, peidar na cara do chefe, e pressiona “mute” pra calar a boca da amiga chata da esposa. Até que o aparelho se rebela, conduzindo o cidadão a um destino cruel.
Idas e vindas no tempo não são novidade no cinema de Hollywood. O crítico de cinema Kleber Mendonça lembrou muito bem o clássico de 1946, A Felicidade Não Se Compra, em que James Stewart vislumbra seu passado, assim como As Neves do Kilimanjaro (1952), em que o adoentado escritor vivido por Gregory Peck volta melancolicamente a episódios da vida. No campo da comédia, é inevitável lembrar da trilogia De Volta Para o Futuro. Em Click, o carro-máquina-do-tempo Delorean virou controle remoto; e o cientista maluco de Christopher Lloyd agora é de Christopher Walken.
A moral é da história é piegas, do tipo, “família acima de tudo”. Não chega a atrapalhar, mas, se há algo a aprender com a triste e patética vida de Newman, é constatar como a imensa maioria de nós, bem intencionados seres humanos, joga a vida fora em trabalhos insuportáveis e relações anestesiadas com poucos intervalos de lucidez.
Santo pastelão, Batman!
Já se vão 40 anos desde que a batmania conquistou o mundo. A época era propícia. Se nem os vampiros escaparam da comédia, no excelente A Dança dos Vampiros, de Roman Polanski, que dirá Batman, o morcego que anda com a sunga por cima da calça? É bom lembrar: nos anos 30, Bob Kane e Bill Finger criaram o personagem em homenagem ao conde Drácula. Batman era pra dar medo, e não risada.
Mas o ano era 1966, e os ícones da telinha eram os Beatles e James Bond. Quando Batman entrou no ar, a TV ficou repleta de onomatopéias, geringonças de plástico, vilões com planos mirabolantes e piadas infames. Com exceção dos autores, ninguém acreditou que a fórmula faria sucesso. Nem mesmo os chefões da rede ABC, que só transmitiram a primeira temporada porque o pacote já estava pago e anunciado em rede nacional. Ficaram sem entender como algo tão ridiculamente mal feito virou febre. Claro que o comentário não vale pra Yvone Craig, a pin up que fez a Bat-moça...
Para comemorar a data, a Opera Graphica acaba de lançar SOCK! POW! CRASH!, um livrão de 320 páginas com fotos raras, biografias, bastidores, análises e a ficha técnica dos 120 episódios, mais o longa metragem para o cinema, além de um panorama da cultura pop e costumes da década de 60, no Brasil e nos EUA. Assinado pelo pesquisador Jorge Ventura, o livro ainda traz estatísticas bizarras como o fato de Burt Ward, o Robin, ter exclamado “santo isso!” ou “santo aquilo!” (algumas vezes adaptado para o português como “santo fumacê!” e “santa xaropada!”) exatas 347 vezes.
E este foi o maior sucesso comercial dos quase 70 anos do personagem. Nem mesmo os filmes de Tim Burton, as HQs de Frank Miller (que na continuação do Cavaleiro das Trevas também apelou pra comédia) ou a série animada dos anos 90 conseguiram alcançar a façanha. A marca Batman se multiplicou em milhares de bugigangas. E tome bat-brinquedos, bat-sapato, bat-achocolatado... Saca só: Até nosso Abelardo Barbosa, o Chacrinha, entrou na onda e fez mais de um programa vestindo o bat-uniforme!
É desesperador - por mais profundidade psicológica que o personagem tenha atingido em seus 70 anos, o Batman mais lembrado ainda é vivido Adam West (hoje com 78 anos): um bobo alegre, munido do famigerado cinto de utilidades (que inclui até mata-moscas e espanador de pó), bat-cóptero, bat-lancha, e ainda corre ao som de “parara-rara-rara-rara Bat-man”! Na tentativa de dar alguma dignidade isso tudo, a série foi postumamente classificada como “Camp”, estética onde tudo é artificial, exagerado, e a ironia surge travestida de falsa seriedade. Santa filosofia, Batman!
Mas o ano era 1966, e os ícones da telinha eram os Beatles e James Bond. Quando Batman entrou no ar, a TV ficou repleta de onomatopéias, geringonças de plástico, vilões com planos mirabolantes e piadas infames. Com exceção dos autores, ninguém acreditou que a fórmula faria sucesso. Nem mesmo os chefões da rede ABC, que só transmitiram a primeira temporada porque o pacote já estava pago e anunciado em rede nacional. Ficaram sem entender como algo tão ridiculamente mal feito virou febre. Claro que o comentário não vale pra Yvone Craig, a pin up que fez a Bat-moça...
Para comemorar a data, a Opera Graphica acaba de lançar SOCK! POW! CRASH!, um livrão de 320 páginas com fotos raras, biografias, bastidores, análises e a ficha técnica dos 120 episódios, mais o longa metragem para o cinema, além de um panorama da cultura pop e costumes da década de 60, no Brasil e nos EUA. Assinado pelo pesquisador Jorge Ventura, o livro ainda traz estatísticas bizarras como o fato de Burt Ward, o Robin, ter exclamado “santo isso!” ou “santo aquilo!” (algumas vezes adaptado para o português como “santo fumacê!” e “santa xaropada!”) exatas 347 vezes.
E este foi o maior sucesso comercial dos quase 70 anos do personagem. Nem mesmo os filmes de Tim Burton, as HQs de Frank Miller (que na continuação do Cavaleiro das Trevas também apelou pra comédia) ou a série animada dos anos 90 conseguiram alcançar a façanha. A marca Batman se multiplicou em milhares de bugigangas. E tome bat-brinquedos, bat-sapato, bat-achocolatado... Saca só: Até nosso Abelardo Barbosa, o Chacrinha, entrou na onda e fez mais de um programa vestindo o bat-uniforme!
É desesperador - por mais profundidade psicológica que o personagem tenha atingido em seus 70 anos, o Batman mais lembrado ainda é vivido Adam West (hoje com 78 anos): um bobo alegre, munido do famigerado cinto de utilidades (que inclui até mata-moscas e espanador de pó), bat-cóptero, bat-lancha, e ainda corre ao som de “parara-rara-rara-rara Bat-man”! Na tentativa de dar alguma dignidade isso tudo, a série foi postumamente classificada como “Camp”, estética onde tudo é artificial, exagerado, e a ironia surge travestida de falsa seriedade. Santa filosofia, Batman!
Terroristas somos nós
Caché, o subversivo exercício de cinema de Michael Haneke, continua perturbando o público do Cinema da Fundação. Tanto que seus longos, ortodoxos e precisos planos fixos ganharam mais uma semana em cartaz. Seu retrato duro e trágico da relação terrorismo versus “mundo civilizado” exige atenção, pois vale mais do que qualquer noticiário internacional.
O filme conta o drama de um casal classe média (Daniel Auteuil e Juliette Binoche), na busca do autor de imagens de casa onde moram, entregues em fitas VHS embrulhadas em tenebrosos desenhos infantis. Evidências levam a crer que ele é um ressentido ex-amigo do marido, filho de argelinos que trabalhavam para seus pais enquanto criança. Na paranóia regada a medo e culpa, é o primeiro mundo contra a “barbárie” aplicada ao cotidiano. Assim como na geopolítica, o lado mais fraco é quem leva a fama de mau - e a pior.
É filme aberto, com mais perguntas do que respostas. Ou não. Um amigo meu jura que o autor dos vídeo-atentados é o diretor, partidário da prática do terrorismo. Um pouco mais além, quem sabe terroristas somos nós, voyeurs na sala escura, consumidores passivos, ou audiência que completa o sentido das imagens. Salve, Mateus! Salam, Haneke!
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