domingo, 27 de agosto de 2006

Terroristas somos nós


Caché, o subversivo exercício de cinema de Michael Haneke, continua perturbando o público do Cinema da Fundação. Tanto que seus longos, ortodoxos e precisos planos fixos ganharam mais uma semana em cartaz. Seu retrato duro e trágico da relação terrorismo versus “mundo civilizado” exige atenção, pois vale mais do que qualquer noticiário internacional.

O filme conta o drama de um casal classe média (Daniel Auteuil e Juliette Binoche), na busca do autor de imagens de casa onde moram, entregues em fitas VHS embrulhadas em tenebrosos desenhos infantis. Evidências levam a crer que ele é um ressentido ex-amigo do marido, filho de argelinos que trabalhavam para seus pais enquanto criança. Na paranóia regada a medo e culpa, é o primeiro mundo contra a “barbárie” aplicada ao cotidiano. Assim como na geopolítica, o lado mais fraco é quem leva a fama de mau - e a pior.

É filme aberto, com mais perguntas do que respostas. Ou não. Um amigo meu jura que o autor dos vídeo-atentados é o diretor, partidário da prática do terrorismo. Um pouco mais além, quem sabe terroristas somos nós, voyeurs na sala escura, consumidores passivos, ou audiência que completa o sentido das imagens. Salve, Mateus! Salam, Haneke!

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