sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Amores à flor da pele



Amores imaginários (Canadá, 2010) é um filme jovem, com tudo de bom e ruim que isso possa significar. É igualmente despido de pré-julgamentos sobre a vida sexual de seus personagens, embora o que mais se vê na tela são clichês e referências estéticas explícitas a penteados e figurinos de James Dean, Morrissey e Audrey Hepburn. Mesmo incapaz de se movimentar sem as muletas do cinema alheio (principalmente, Quentin Tarantino e Wong Kar Wai), o longa de Xavier Dolan, 22 anos, faz um retrato bastante coerente com os seres humanos de sua geração, cuja cartela de opções sexuais hetero-homo é definida em escala de seis.

Festas e bares são o habitat natural da fauna na casa dos 20 e poucos anos, gente bonita de Montreal, foco na dupla Marie (a bela Monia Chokri) e Francis (o próprio Dolan), ambos arrebatados pelo carisma e beleza de Nicolas (Niels Schneider). Um trio amoroso se esboça mas resvala em carências e sentimentos confusos. Nicolas é um coiote, livre de maiores dilemas, acostumado a ser o centro das atenções e imune a cobiça monogâmica. Inseguros, Marie e Francis, não sabem o que fazer com tanta liberdade.

Todos agem intensamente, como se o mundo fosse acabar e cada momento, o último. Fumam comom condenados. Se comunicam com fala acelerada e comportamento ansioso, inquieto. Ao mínimo sinal de que relações podem sair da superfície, entram em desespero, como se não soubessem o que fazer com algo íntimo onde possam repousar. O ritmo nervoso do filme corresponde, a não ser em sequências estilizadas em câmera lenta que remetem à plastica impecável de Kar Wai em Amor à flor da pele, com o adendo de filtros coloridos. Nesses momentos, Dolan usa uma versão em francês para Bang Bang, usada por Tarantino em Kill Bill, na voz de Nancy Sinatra. Ou em depoimentos que remetem a um dispensável ar documental, que felizmente se dissipa assim que a trama continua.

(Diario de Pernambuco, 03/02/2012)

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