domingo, 27 de agosto de 2006
Quadrinhos-bomba
Paulinho do Amparo tira é onda. Inventou de fazer quadrinhos, e já tem material pra uma revista inteira. Quem conhece seu trabalho, sabe que ele sempre usou bastante a linguagem das HQs em telas, capas de CDs do selo 3Ets Records! e cartazes espalhados cidade afora.
A novidade é que, de uns meses pra cá, Paulinho vem fazendo justamente o contrário: quadrinhos sobre música e artes plásticas. Mais precisamente, sobre pessoas e lugares da “cena” cultural da cidade, em situações quase sempre constrangedoras e, garante o próprio, nada fictícias. Tudo funciona como uma coluna social às avessas, já que Paulinho “bota quente” mostrando os podres da galera. Verdade ou invenção, o que importa é que a série já soma 10 páginas de uma estranha e engraçada forma de ver o mundo.
Os personagens? O músico Fábio Trummer, Roger de Renoir, fiscais da Ordem dos Músicos e, entre outros ilustres, Satanás em pessoa, que abriu escritório no bar Garagem. O desenho continua sujo e improvisado, e agora com influência assumida das leituras que andaram fazendo sua cabeça – de Frank Miller (a surrealista Elektra Assassina e o preto e branco alto contraste de Sin City), aos elementos orientais de Takehiro Inoue em Vagabond.
Em setembro uma destas historinhas será publicada no zine Fusão, que teve 500 cópias bancadas pela Semana de Artes Plásticas 2006(SPA). Nada menos do que uma aventura etílica estrelada por Reginaldo Rossi e a turma da Mônica. Até o Pelezinho entrou na jogada. A caminho também está um gibi pornô-hardcore com grupo feminino Backin’ Ballcats Barbis Vocals. Paulinho prevê esta pérola do undergroud recifense circulando durante o festival No Ar: Coquetel Molotov, dias 1 e 2 de setembro. Ou dia 12 no mais tardar, durante sua oficina de serigrafia, no SPA.
Por enquanto, você, leitor deste blog, confere em primeira mão um dos primeiros atentados deste homem-bomba com uma caneta na mão. Em breve, tem mais. Clique na imagem acima para ampliar.
Esta é a sua vida
Click, de Frank Coraci, é uma comédia excessivamente american way, em que Adam Sandler (cada vez mais parecido com Jerry Lewis) é Michael Newman, um estressado e esforçado pai de família. Na busca de um controle remoto universal, ele ganha um com o poder de pausar, adiantar e voltar no tempo, como se a vida fosse um menu interativo de DVD, com capítulos, extras e tal. Adivinha se ele usa a invenção pra melhorar o mundo? O cara aperta “pause” pra, err, peidar na cara do chefe, e pressiona “mute” pra calar a boca da amiga chata da esposa. Até que o aparelho se rebela, conduzindo o cidadão a um destino cruel.
Idas e vindas no tempo não são novidade no cinema de Hollywood. O crítico de cinema Kleber Mendonça lembrou muito bem o clássico de 1946, A Felicidade Não Se Compra, em que James Stewart vislumbra seu passado, assim como As Neves do Kilimanjaro (1952), em que o adoentado escritor vivido por Gregory Peck volta melancolicamente a episódios da vida. No campo da comédia, é inevitável lembrar da trilogia De Volta Para o Futuro. Em Click, o carro-máquina-do-tempo Delorean virou controle remoto; e o cientista maluco de Christopher Lloyd agora é de Christopher Walken.
A moral é da história é piegas, do tipo, “família acima de tudo”. Não chega a atrapalhar, mas, se há algo a aprender com a triste e patética vida de Newman, é constatar como a imensa maioria de nós, bem intencionados seres humanos, joga a vida fora em trabalhos insuportáveis e relações anestesiadas com poucos intervalos de lucidez.
Santo pastelão, Batman!
Já se vão 40 anos desde que a batmania conquistou o mundo. A época era propícia. Se nem os vampiros escaparam da comédia, no excelente A Dança dos Vampiros, de Roman Polanski, que dirá Batman, o morcego que anda com a sunga por cima da calça? É bom lembrar: nos anos 30, Bob Kane e Bill Finger criaram o personagem em homenagem ao conde Drácula. Batman era pra dar medo, e não risada.
Mas o ano era 1966, e os ícones da telinha eram os Beatles e James Bond. Quando Batman entrou no ar, a TV ficou repleta de onomatopéias, geringonças de plástico, vilões com planos mirabolantes e piadas infames. Com exceção dos autores, ninguém acreditou que a fórmula faria sucesso. Nem mesmo os chefões da rede ABC, que só transmitiram a primeira temporada porque o pacote já estava pago e anunciado em rede nacional. Ficaram sem entender como algo tão ridiculamente mal feito virou febre. Claro que o comentário não vale pra Yvone Craig, a pin up que fez a Bat-moça...
Para comemorar a data, a Opera Graphica acaba de lançar SOCK! POW! CRASH!, um livrão de 320 páginas com fotos raras, biografias, bastidores, análises e a ficha técnica dos 120 episódios, mais o longa metragem para o cinema, além de um panorama da cultura pop e costumes da década de 60, no Brasil e nos EUA. Assinado pelo pesquisador Jorge Ventura, o livro ainda traz estatísticas bizarras como o fato de Burt Ward, o Robin, ter exclamado “santo isso!” ou “santo aquilo!” (algumas vezes adaptado para o português como “santo fumacê!” e “santa xaropada!”) exatas 347 vezes.
E este foi o maior sucesso comercial dos quase 70 anos do personagem. Nem mesmo os filmes de Tim Burton, as HQs de Frank Miller (que na continuação do Cavaleiro das Trevas também apelou pra comédia) ou a série animada dos anos 90 conseguiram alcançar a façanha. A marca Batman se multiplicou em milhares de bugigangas. E tome bat-brinquedos, bat-sapato, bat-achocolatado... Saca só: Até nosso Abelardo Barbosa, o Chacrinha, entrou na onda e fez mais de um programa vestindo o bat-uniforme!
É desesperador - por mais profundidade psicológica que o personagem tenha atingido em seus 70 anos, o Batman mais lembrado ainda é vivido Adam West (hoje com 78 anos): um bobo alegre, munido do famigerado cinto de utilidades (que inclui até mata-moscas e espanador de pó), bat-cóptero, bat-lancha, e ainda corre ao som de “parara-rara-rara-rara Bat-man”! Na tentativa de dar alguma dignidade isso tudo, a série foi postumamente classificada como “Camp”, estética onde tudo é artificial, exagerado, e a ironia surge travestida de falsa seriedade. Santa filosofia, Batman!
Mas o ano era 1966, e os ícones da telinha eram os Beatles e James Bond. Quando Batman entrou no ar, a TV ficou repleta de onomatopéias, geringonças de plástico, vilões com planos mirabolantes e piadas infames. Com exceção dos autores, ninguém acreditou que a fórmula faria sucesso. Nem mesmo os chefões da rede ABC, que só transmitiram a primeira temporada porque o pacote já estava pago e anunciado em rede nacional. Ficaram sem entender como algo tão ridiculamente mal feito virou febre. Claro que o comentário não vale pra Yvone Craig, a pin up que fez a Bat-moça...
Para comemorar a data, a Opera Graphica acaba de lançar SOCK! POW! CRASH!, um livrão de 320 páginas com fotos raras, biografias, bastidores, análises e a ficha técnica dos 120 episódios, mais o longa metragem para o cinema, além de um panorama da cultura pop e costumes da década de 60, no Brasil e nos EUA. Assinado pelo pesquisador Jorge Ventura, o livro ainda traz estatísticas bizarras como o fato de Burt Ward, o Robin, ter exclamado “santo isso!” ou “santo aquilo!” (algumas vezes adaptado para o português como “santo fumacê!” e “santa xaropada!”) exatas 347 vezes.
E este foi o maior sucesso comercial dos quase 70 anos do personagem. Nem mesmo os filmes de Tim Burton, as HQs de Frank Miller (que na continuação do Cavaleiro das Trevas também apelou pra comédia) ou a série animada dos anos 90 conseguiram alcançar a façanha. A marca Batman se multiplicou em milhares de bugigangas. E tome bat-brinquedos, bat-sapato, bat-achocolatado... Saca só: Até nosso Abelardo Barbosa, o Chacrinha, entrou na onda e fez mais de um programa vestindo o bat-uniforme!
É desesperador - por mais profundidade psicológica que o personagem tenha atingido em seus 70 anos, o Batman mais lembrado ainda é vivido Adam West (hoje com 78 anos): um bobo alegre, munido do famigerado cinto de utilidades (que inclui até mata-moscas e espanador de pó), bat-cóptero, bat-lancha, e ainda corre ao som de “parara-rara-rara-rara Bat-man”! Na tentativa de dar alguma dignidade isso tudo, a série foi postumamente classificada como “Camp”, estética onde tudo é artificial, exagerado, e a ironia surge travestida de falsa seriedade. Santa filosofia, Batman!
Terroristas somos nós
Caché, o subversivo exercício de cinema de Michael Haneke, continua perturbando o público do Cinema da Fundação. Tanto que seus longos, ortodoxos e precisos planos fixos ganharam mais uma semana em cartaz. Seu retrato duro e trágico da relação terrorismo versus “mundo civilizado” exige atenção, pois vale mais do que qualquer noticiário internacional.
O filme conta o drama de um casal classe média (Daniel Auteuil e Juliette Binoche), na busca do autor de imagens de casa onde moram, entregues em fitas VHS embrulhadas em tenebrosos desenhos infantis. Evidências levam a crer que ele é um ressentido ex-amigo do marido, filho de argelinos que trabalhavam para seus pais enquanto criança. Na paranóia regada a medo e culpa, é o primeiro mundo contra a “barbárie” aplicada ao cotidiano. Assim como na geopolítica, o lado mais fraco é quem leva a fama de mau - e a pior.
É filme aberto, com mais perguntas do que respostas. Ou não. Um amigo meu jura que o autor dos vídeo-atentados é o diretor, partidário da prática do terrorismo. Um pouco mais além, quem sabe terroristas somos nós, voyeurs na sala escura, consumidores passivos, ou audiência que completa o sentido das imagens. Salve, Mateus! Salam, Haneke!
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