sábado, 28 de fevereiro de 2009

Arnaldo Antunes para poucos



Com o fim de semana ainda em ritmo de carnaval, Arnaldo Antunes volta à cidade para apresentação única e lotação limitada a 400 pessoas.Quem promove o evento é o UK Pub, que escalou o músico para comemorar a nova decoração da casa. O show, que começa às 22h, é uma ótima opção para os que cansaram do samba, suor, mas não de cerveja e boa música.

De certa forma, a noite de hoje tem clima de despedida. Prestes a lançar dois novos álbuns, Antunes disse ao Diario que esta é uma das últimas oportunidades para conferir a atual turnê, que começou em 2006 com o lançamento de Qualquer, e seguiu até hoje impulsionada pelo CD/DVD Ao vivo no estúdio. "No começo de abril começo a trabalhar o novo disco", conta o artista. O nome deste novo projeto é Iê iê iê, e conta com a produção de Fernando Catatau (Cidadão Instigado), e duas faixas compostas com Marisa Monte e Carlinhos Brown. "Ainda está cedo para falar sobre ele. Mas posso dizer que será um disco mais pop, melódico e dançante do que os anteriores. Todos os meus discos tem uma diversidade de estilos, e este será mais coeso, quase de gênero", adianta.

Assim como da última vez em que esteve no Recife (no Réveillon 2007), Antunes se apresenta no formato trio, composto por Chico Salem (que também participou da gravação do disco) nos violões de aço e nylon, Betão Aguiar, na guitarra e violão, e Marcelo Jeneci, no teclado e acordeon. Além das músicas de Qualquer, canções da carreira solo como O silêncio, Saiba, Pedido de casamento, Judiaria, Socorro e Fim do dia devem entrar no repertório de hoje. O público também pode esperar Não vou me adaptar e O pulso, da época em que fazia parte dos Titãs.

Várias músicas terão arranjo diferente do original. "Elas estão mais voltadas para uma linguagem mais suave e de tom grave, região mais natural da minha voz", explica Antunes, que tem pela frente um ano repleto de novidades. Ainda em abril, será lançado Pequeno cidadão, álbum de canções infantis tocado por Antunes, Taciana Barros(ex-Gang 90 e as Absurdetes), Antonio Pinto (compositor da trilha dos filmes Central do Brasil, Cidade de Deus e de algumas produções internacionais) e o guitarrista Edgard Scandurra (ex-Ira!). As músicas para a criançada já podem ser ouvidas no My Space do grupo.

Para os próximos meses, os planos são gravar um novo disco com Scandurra, antigo parceiro com quem gravou Ninguém (1995) e O silêncio (1996), dois dos melhores momentos de sua carreira. Além disso, Antunes não deixará de lado sua verve literária, e prepara três novos livros: até o fim do ano deve lançar Outros 40, com artigos publicados na imprensa; Luz escrita, com poemas visuais dele e de Walter Siveira, e outro, ainda sem título, com fotos de placas de rua.

Serviço
Show de Arnaldo Antunes
Onde: UK Pub (Rua Francisco da Cunha, 165 - Boa Viagem)
Quando: Hoje, às 22h
Quanto: R$ 40 (preço único)
Informações: 3465-1088

Publicado no Diario de Pernambuco

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Estreia // Quem quer ser um milionário?



A emblemática vitória de Quem quer ser um milionário?(Slumdog millionaire, Inglaterra, 2009) na cerimônia de entrega do Oscar, na noite do último domingo, levanta questões que transcendem os méritos do novo filme de Danny Boyle. Questões ligadas à própria sobrevivência da indústria, em recessão antes mesmo da insurgência de uma crise econômica que certamente fragilizou ainda mais as crenças de Hollywood num cinema "americano feito para americanos".

Sinal dos tempos, uma produção inglesa, dirigida por um escocês revelado pelo circuito independente da década passada, estrelado e parcialmente falado em língua estrangeira, pode ser tábua de salvação de um dos mais caros artífices do império americano: a indústria dos bens simbólicos. No Recife, o filme segue em regime de pré-estreia pela segunda semana, em sessões que devem continuar disputadas a tapa até 6 de março, quando entra em cartaz em mais salas e horários.

É bom contextualizar que, apesar das referências adotadas por Slumdog, o filme está longe de simular um produto made in Bollywood, cujas regras incluem a paródia a Hollywood, cenas musicais, muita riqueza e paisagens exuberantes. E a exuberância mais presente no filme de Boyle pode ser resumida em cenas de crianças órfãs chafurdando em lixo e sendo torturadas fisicamente.

Até o Taj Mahal, suntuoso ícone histórico é desvirtuado como promissor foco de assalto a turistas americanos. Por tudo isso, apesar da sessão de estreia de Slumdog em Mumbai ter contado com mais de uma centena de personalidades de Bollywood, o filme irritou profundamente o povo indiano.

Inspirado no livro de ficção Q & A, (no Brasil, Sua resposta vale um bilhão, publicado pela Companhia das Letras), do diplomata indiano Vikas Swarup, o filme conta a história de Jamal Malick (Dev Patel, atualmente trabalhando em The last airbender, de M. Night Shyamalan), jovem proveniente de uma periferia miserável de Mumbai. A trama se dá em três diferentes momentos de sua vida, que se intercalamno filme e explicam aos poucos como ele, um "slumdog" (favelado, literalmente um cachorro da favela), conseguiu chegar no estágio máximo de um quiz show, se tornando assim estrela do momento na TV indiana. Ninguém entende (o público vai sabendo aos poucos) como Jamal pode saber todas as respostas, e a suspeita de fraude leva o apresentador a chamar e entregar o menino à truculenta polícia local.

O núcleo dramático é composto por Jamal, seu irmão Salim (Madhur Mittal) e Latika (Freida Pinto, famosa modelo indiana). Eles foram capturados ainda crianças por um gangster sem escrúpulos em cegar alguns dos meninos que explora para que ele consiga mais esmolas. Jamal se apaixona por Latika desde quando a conheceu, o mesmo dia em que sua mãe, muçulmana, foi assassinada por um grupo fanático hindu. O que explica a intensidade do amor que motiva suas ações, e que o impediu de seguir o caminho de banditismo adotado pelo irmão.

O requinte estético com que o novo filme de Boyle retrata a dura realidade dos ultrapobres indianos tem gerado um bom número de críticas, a maioria dedicada a traçar paralelos com Cidade de Deus. Há motivos para tanto, principalmente pela reincidência a alguns elementos visuais que fizeram a fama do favela-movie de Fernando Meireles. Não bastasse os vívidos grãos de cor e crianças desvalidas expostas a situações violentas, há uma tomada aérea de fuga entre barracos e... uma galinha correndo no meio da confusão.

Foi deixado de lado, no entanto, o paralelo com outros filmes do próprio Boyle que, mesmo colocando seu talento a serviço do cinema industrial, mantém a verve autoral. Isso nos conduz novamente a personagens desajustados em situações extremas, dispostos a tudo para fugir ou "se dar bem" (Cova rasa, Trainspotting, Por uma vida menos ordinária, Caiu do céu), em cenários exóticos e longínquos (A praia, Sunshine), além de um nojento retorno à sua fixação por fezes.

Se julgado nos parâmetros que fazem um bom filme de ficção, Quem quer ser um milionário? cumpre todos os quesitos. Mas o que o faz relevante transcende a tudo isso. Sua sustentação reside principalmente em ser representante de uma nova, e quiçá menos desigual, relação centro-periferia.

publicado no Diario de Pernambuco

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Oscar 2009 - a grande noite do cinema





A partir das 22h de hoje acontece a 81ª edição do Oscar, em cerimônia promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Neste novo transe na indústria do cinema americano, produções e profissionais disputam a esguia estatueta dourada no Teatro Kodak, em Los Angeles. Ao que tudo indica, o clima será de recomeço: salão azul, objetos de cristal, desenho oval e orquestra visível ao fundo. Tudo para relembrar as primeiras festas dos anos 30.

O Oscar 2009, que será apresentado pelo ator Hugh Jackman, se realiza num contexto político bem diferente dos últimos anos. É desafiante imaginar como Hollywood se posicionará agora que um presidente democrata está no poder e o resultado da premiação tem tudo a ver com isso.

A disputa está acirrada pela estatueta de melhor ator principal: Rourke, Pitt ou Penn? Entre as atrizes, Kate Winslett carrega boas chances. Indicada pela atuação em O leitor (The reader), ela ainda demonstrou habilidade comoa triste esposa em Foi apenas um sonho (Revolutionary road). Entre os indicados a melhor ator coadjuvante repousa a maior expectativa da noite: Heath Ledger irá mesmo ganhar um Oscar póstumo por interpretar o Coringa em O cavaleiro das trevas? Se sim, será o primeiro falecido a levar o Oscar desde Peter Finch (Rede de intrigas, 1977).

Considerando o histórico conservador em preferir obras essencialmente "americanas", O curioso caso de Benjamin Button se posiciona como franco favorito. Menos pelas 12 indicações e mais pelo que representa para um país que, se transparece uma mudança de atitude, dificilmente abrirá mão de certos valores morais incrustados na alma.

Indicado em 10 categorias, Quem quer ser um milionário? (Slumdog millionaire), de Danny Boyle (Trainspotting, Extermínio, Sunshine , A praia) vive carreira arrebatadora e aponta para a ascensão de um novo cinema globalizado. Eleito melhor filme de 2009 pelo Bafta (Inglaterra) e Globo de Ouro, o filme de Danny Boyle também demonstra a crescente - e estratégica - relação Hollywood / Bollywood. Antes de dar como certa a estatueta de melhor filme, no entanto, é preciso considerar que a produção em questão é britânica, dirigida por um irlandês, e com 99% do elenco formado por indianos.



O resultado mais radical seria premiar Milk - a voz da igualdade. O filme de Gus Van Sant acumula vários méritos e coloca a prova o discurso liberal com um filme sobre a importância dos gays assumirem publicamente sua sexualidade. Já a presença de O leitor e Frost/Nixon entre os candidatos leva a questionar a ausência de filmes que injustamente ficaram fora do páreo, como Gran Torino, Foi apenas um sonho e O lutador.



Por fim, um lamento: pela primeira vez em décadas, o Oscar não será transmitido ao vivo na TV aberta brasileira. A Rede Globo, detentora dos direitos, preteriu o evento em prol da imbatível conjunção entre Fantástico, BBB9 e o desfile das escolas de samba. Sendo assim, para acompanhar a cerimônia ao vivo pela TV, é preciso ser assinante do canal pago TNT, que transmitirá o Oscar com tradução simultânea e comentários de Rubens Ewald Filho.

publicado no Diario de Pernambuco

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Estreia // Milk - a voz da igualdade



Aos poucos, o discurso liberal vem ganhando território nos EUA de Obama. Com oito indicações ao Oscar, Milk - a voz da igualdade, que estreia hoje nos cinemas da capital, se destaca pela clareza política e afetiva com que foi construído. Comparado com My own private Idaho (1991), em que River Phoenix e Keanu Reeves vivem um casal perdido em dilemas existenciais, Milk representa uma nova dimensão na obra do diretor.

Até então, Gus Van Sant tratava de personagens marginais, desajustados, e pouco preocupados com o futuro. Desta vez, ele traz um discurso bem mais edificante, ao contar a história real de Harvey Milk (Sean Penn, em grande atuação), precursor do ativismo gay, cuja vida teve um fim tão trágico quanto as óperas que apreciava.

Com exceção de uma ou outra licença poética, Milk em nada se espelha no experimentalismo estético de seus últimos filmes (Elefante e Paranoid Park). Ostentando a linguagem clássica de Hollywood, o filme apresenta de forma lúcida e objetiva, a transformação de um quarentão enrustido pelo receio de perder o emprego, no primeiro político assumidamente gay a ocupar um cargo público nos EUA.

Na onda da paixão pelo jovem Cleve Jones (James Franco), Milk se muda para a ensolarada San Francisco, onde se instalam em The Castro, distrito que até hoje permanece como símbolo de resistência gay. Destratos da vizinhança e casos de opressão policial despertam indignação em Milk, que buscou força para defender a causa evocando dois caros valores americanos: liberdade e esperança.

publicado no Diario de Pernambuco

Estreia // A Pantera Cor-de-rosa 2


A Pantera Cor-de-Rosa 2 pode até render algumas risadas, mas nem chega aos pés do que foi a série criada por Blake Edwards, e estrelada por Peter Sellers nos longínquos anos 1960-70. Esta segunda parte do remake, que traz Steve Martin como o atrapalhado, e por vezes sagaz Inspetor Cluseau, continua assumidamente vulgar, o que o torna mais próximo do besteirol de Leslie Nielsen do que da paródia de James Bond que pretende ser.

Mais uma vez é roubado o diamante mais cobiçado do mundo, mantido sob a tutela da França, e a primeira providência foi convocar Cluseau, que já havia salvo a jóia dois anos antes. Desta vez, a equipe formada pelo parceiro Ponton (Jean Reno) e a secretária Nicole (Emily Mortimer) ganha o reforço dos melhores espiões do mundo: o italiano Vicenzo (Andy Garcia), o inglês Pepperige (Alfred Molina), o japonês Kenji (Yuki Matsuzaki). Este assim chamado "dream team" para a Itália, onde estaria Tornado, um misterioso larápio de jóias. Boa sacada está na participação da estrela de Bollywood Aishwarya Rai Bachchan, no papel de uma sexy especialista na trajetoria de Tornado.

Se há outros méritos na produção, dois deles se devem à participação de John Cleese, que assume o lugar de Kevin Kline no papel do inspetor-chefe Dreyfus, e Jeremy Irons como o principal suspeito pelo roubo do diamante.

Aos poucos, a miríade de situações constrangedoras provocadas por Cluseau vai ficando sem graça, até se constatar o desperdício de bons atores e um roteiro razoável (co-escrito por Martin) num filme em que quase tudo vira pastelão.

Quase: o desenho animado que abre e encerra o filme e o irretocável tema musical de Henry Mancini continuam de tirar o chapéu.

publicado no Diario de Pernambuco

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Fino do samba segura o ritmo


Demônios da Garoa e Paulinho da Viola encerram a programação no Fortim do Queijo, em Olinda

Já conta um quarto de século desde que os Demônios da Garoa cantaram pela última vez no Recife. Pelo menos é o que registra a memória do violonista Simbad, que naquele tempo nem fazia parte do antológico conjunto paulistano. "Digo isso porque recebi um cartão postal de Boa Viagem, enviado por Toninho", disse Simbad, por telefone, em referência a um dos fundadores do conjunto paulistano que em fevereiro completa 66 anos de atividade ininterrupta.

Eis que, da terra da garoa e sóbrios tons de cinza, para a multicolorida Olinda pronta para o carnaval, o reencontro do samba paulista nos domínios do frevo se dará hoje à noite, no Fortim do Queijo (beira-mar de Olinda). O show começa logo após Orquestra Pernambucana de Choro, marcado para às 19h30. Logo após, outro grande representante do samba à moda antiga: Paulinho da Viola.

"Há de ser um retorno memorável", prevê Simbad, integrante da segunda geração do Demônios da Garoa. Ele entrou no grupo em 1989, a convite do próprio Toninho, falecido há quase quatro anos. "Eu tinha a banda Modern Sound Mix, que fazia a abertura e preparava o palco para os mestres com quem aprendi", conta o músico.

No repertório estão clássicos obrigatórios de Adoniran Barbosa: Saudosa maloca, Samba do Arnesto, e a indefectível Trem das 11. "São clássicos que fazem a alma do conjunto", diz Simbad. Tudo dentro da marca registrada que forjou a identidade dos Demônios: o bom humor e arranjos vocais bem estruturados que, aliados à longevidade incomum, fizeram do grupo uma verdadeira instituição musical. "Nossa intenção é preservar a história do samba paulista. Vamos levar essa bandeira até o fim dos dias", diz Simbad.

A reportagem tentou, mas não conseguiu falar com Paulinho da Viola, pois ele estava entre um avião e outro a caminho de Pernambuco. No entanto é possível imaginar uma inevitável afinidade com o samba de raiz dos Demônios da Garoa e a Orquestra Pernambucana de Choro, um novo projeto que congrega 20 instrumentistas de diferentes grupos, como o Grupo Pernambucano de Choro, Choro Brasil e Quinteto de Prata.

Se o público for maior do que a noite de segunda, quando Marcelo D2 fez show para mais de 10 mil pessoas, Paulinho da Viola vai encontrar muita gente à espera de sua presença ilustre, elegante e tranquila. O repertório deve ser o mesmo da atual turnê, que vem trabalhando o álbum Acústico MTV. São músicas pinçada a dedo, uma pequena amostra de sua discografia iniciada em 1965, entre elas, Coração leviano, Nervos de aço e Sinal fechado, que ganhou novo arranjo. Para um amor no Recife também deve estar na lista, por motivos óbvios.

Paulinho da Viola cantou pela primeira vez no carnaval pernambucano em 2004, e desde então tem sido assaz frequentador da cidade. A novidade, se é que ela é necessária em se tratando do músico carioca, está em três novas composições - Bela manhã, Vai dizer ao vento e Talismã, as primeiras desde o último álbum de estúdio (Bebadosamba, 1996).

publicado no Diario de Pernambuco

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Som da Terra investe no sotaque regional


Banda que na década de 80 conquistou o disco de ouro com o hit carnavalesco Balança o saco busca novamente o caminho da fama longe dos contratos com gravadoras

Com 33 anos e oito álbuns de estúdio, o Som da Terra é um dos mais tradicionais da música pernambucana. Seu estilo pode ser definido como MPB de sotaque regional, já que sua gama de composições varia entre gêneros da cultura popular: frevo, maracatu, caboclinho e forró. Nos próximos dias, não faltará oportunidade para curtir a banda. Eles tocam em todos os dias do carnaval: sexta-feira em Olinda; sábado, no Galo da Madrugada (onde prestam homenagem ao fundador, Enéas Freire); domingo, no Pólo Guararapes; segunda, no carnaval de Bezerros; e terça-feira, no de Jaboatão dos Guararapes.

Durante estes shows, um naipe de metais será acrescido à banda, hoje formada por Kayto, Rominho, Zé Carlos, Wilson Pessoa, Flávio de Souza, Jacaré, Doca e Bequinho. Após cumprir a agenda, eles caem na estrada para trabalhar o novo CD no Sudeste, onde pretendem retomar a carreira de sucesso conquistada nos anos 1980.

O Som da Terra se lançou nacionalmente em 1977, com a música Na terra de Lampião (do primeiro álbum, Agreste), que foi tema do personagem Zeca Diabo, vivido por Lima Duarte na novela global O bem amado. Após conquistar o reconhecimento, o grupo introduziu no carnaval pernambucano o Trio Elétrico Tropical, onde participou da Turma do Pingüim e permaneceram até 1985. Foi quando a banda lançou o disco No meio do mundo, cujo frevo Balança o saco rendeu ao grupo a marca de 140 mil cópias vendidas em questão de semanas, e o posto de única banda pernambucana a conquistar um disco de ouro.

Zé Carlos, um dos compositores, diz que ninguém esperava que a música se tornasse um hit. "Fizemos só por safadeza, mas o produtor insistiu e colocamos na última faixa". Eis que Balança o saco virou um dos hinos do carnaval de 1986, cujo bordão "Ai, ai, ai, ai... Em cima, embaixo, empurra e vai" ficou marcado para sempre no repertório popular do país.

O recém-lançado álbum Na terra ou no céu o maior carnaval, com 12 frevos-canção, um caboclinho e um frevo de bloco, surge após 20 anos deindependência artística, ou seja, longe dos contratos com gravadoras. Entre as inéditas está O galo no céu, sobre a festa dos anjos para recepcionar Enéas Freire. As regravações de sucessos incluem Arrepiou, Pelas ladeiras e No meio do mundo.

"Hoje, o forte da banda são os vocais", diz Kayto, responsável por reger as vozes do grupo, nos moldes inspiradores do MPB-4, 14 Bis, Boca Livre e Roupa Nova. Qualidade que, segundo Rominho, que acumula as funções de artista e empresário do Som da Terra, levará o grupo à sua retomada nacional. "Queremos voltar ao topo. Na época, não conseguimos conviver com o sucesso, mas hoje temos a maturidade necessária para mostrar nosso trabalho", garante o músico, assumindo a dura missão de transportar o encontro entre frevo e mercado para além dos quintais carnavalescos.

publicado no Diario de Pernambuco

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Super-heróis também pulam carnaval


Na noite de sábado, uma das prévias mais disputadas do carnaval pernambucano rendeu uma festa de primeira linha. Uma olhada na fila do banheiro e lá estão Amy Winehouse, Mulher Gato, uma guerreira espartana e uma índia Xucuru, o que nos dá a certeza de que, se ainda não estamos bêbados, estamos na prévia do bloco Enquanto Isso na Sala da Justiça. A maior concentração de pessoas vestidas de super-herói do mundo começou pelas 21h, mas somente às 23h a Orquestra Contemporânea de Olinda fez as honras de abrir alas para uma festa que só terminaria às 6h, ao som da Escola de Samba Preto Velho.

Enquanto a Orquestra Contemporânea de Olinda providenciava o tempero local em show com três músicas inéditas, e algumas provocações envolvendo times de futebol, uma volta pelo pavilhão do Centro de Convenções deu a entender que a festa não é só para super-heróis e vilões. Entre óbvios (e muitas vezes capengas) Batmans e Homens-aranha, havia criativas fantasias de Tetris (o jogo de encaixar tijolos), Indiana Jones, Jesus Cristo Superstar, Tetrahidrocanabinol (o THC, princípio ativo da maconha), e um agrupamento de guerreiros medievais, provavelmente à espera dos "Cavaleiros que dizem Ni" (bem ao estilo do filme Em busca do cálice sagrado, de Monty Phyton).

Um inesperado blecaute assolou o Complexo de Salgadinho, parou a festa por poucos minutos - e os famigerados acessórios fluorescentes finalmente mostraram a que vieram, salvando cangaceiros, sushimen, vendedores de cachorro quente e Freddie Kruger da escuridão total.


Fabinho Trummer atacou de DJ após o show da Orquestra, e outra volta pelo salão revelou boas fantasias, pinçadas a dedo: alguns Coringas de Heath Ledger, um Darth Vader, policiais do Bope e uma versão decadente para Maradona. Os X-Men também marcaram presença, com Tempestade, Ciclope e Wolverine. Uma das melhores fantasias foi produzida pelo administrador Alexandre S. Ferrer, 23 anos. Ele encarnou Rorschach, o perturbado anti-herói de Watchmen, antecipando o filme que estreia em março. "Fiz a máscara com uma camiseta e tinta de pincel atômico. Ela e o sobretudo esquentam. Faz calor mas vale a pena porque é só uma vez por ano", disse Ferrer. Outra fantasia caprichada foi a do consultor de vendas Vinicius Leonardo, 25 anos, que atacou de Dr. Octopus com tentáculos feitos de lanternas, conduítes e garrafas pet.

Quando o coletivo paulistano Instituto subiu ao palco com o projeto Tim Maia Racional, muita gente já esperava o melhor show da noite. Na linha de frente, montada por B.Negão, Thalma de Freitas e Carlos Dafé, só faltou baixar o próprio Tim. "Minha barriga já é uma fantasia de Tim Maia", brincou o rapper B Negão antes de subir no palco. Com repertório de pérolas como Que beleza, O caminho do bem e Ela partiu, podemos definir o momento mais especial da noite com um termo usado por B.Negão: "classe".

Por volta das 3 da manhã, a aguardada presença de Jorge Benjor e Banda do Zé Pretinho não decepcionou, apesar do som demasiado estridente e do esquema pout-pourri adotado por Benjor nos últimos anos. Seria na base do piloto automático, não fosse a benção das canções setentistas A minha menina, Mas que nada, Chove chuva e Que maravilha.

Dos camarotes do primeiro andar a visão era bonita. O público, algo em torno de 10 mil pessoas (de acordo com a organização, mas há quem diga que atingiu os 15 mil pagantes), encontrou uma festa bem organizada, sem confusão, banheiros limpos e cerveja gelada. "Começamos no tamanho P, nos tornamos M, e se a prévia virar G a gente ocupa o outro lado", comemorou o DJ Bahiano, um dos organizadores do bloco.

Para ele, a opção por profissionalizar as atividades foi uma questão de acompanhar um novo momento para a Sala da Justiça, que começou em 1995 no quintal de amigos em Olinda, e passou pelo Clube Atlântico, Biblioteca de Olinda, Mercado Eufrásio e a Fábrica Tacaruna, considerado até hoje o melhor endereço. A saída do bloco durante o carnaval continua no mesmo bat-dia e bat-local: próximo domingo, às 10h, do Alto da Sé.

Marcelo D2 faz show de graça no Fortim de Olinda


O rapper Marcelo D2 é a principal atração da noite de hoje em Olinda. Ele participa da programação pré-carnavalesca do governo do estado, que reserva mais dois bons shows: Siba e a Fuloresta e o grupo Bongar. A festa começa às 19h30, no Palco do Fortim de Olinda, montado ao lado da Igreja de São José dos Pescadores, no bairro do Carmo.

Marcelo D2 está em plena turnê A arte do barulho, quinto álbum solo desde a sua saída da banda Planet Hemp. Esta é a primeira vez que apresenta as novas músicas no Recife, entre elas, os singles Desabafo, Ela disse e Vem comigo que eu te levo pro céu. Claro que não faltarão hits de CDs anteriores, como Eu tiro é onda, A maldição do samba e Em busca da batida perfeita.

Já o Bongar leva ao palco a festa do Coco Nação Xambá, em repertório formado por ciranda, maracatu e candomblé, entre outros ritmos. Logo após, Siba e a Fuloresta apresenta show especial para o carnaval, formado por frevos, cirandas, além dos inconfundíveissons do ganzá e do tarol do maracatu rural.

Na terça, a partir 19h30, se apresentam os grupos Ska Maria Pastora, Dj Dolores e Guitarradas e Moraes Moreira; na quarta, no mesmo horário, encerram a programação, a Orquestra Pernambucana de Choro, Demônios da Garoa e Paulinho da Viola. Em todos os shows, a entrada é franca.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Zabumba que enganou o tempo


A história de Mané Rita, que viveu 104 anos e liderou a banda de pífanos da zona rural de Iati, no Agreste pernambucano, será mostrada hoje


Há 80 anos, uma banda de pífanos tem animado as novenas do sítio Trapiá, zona rural de Iati, município do agreste pernambucano. Até julho do ano passado, essa tradição foi mantida pelo zabumbeiro Mané Rita, então no alto dos seus 104 anos de vida. Ele era o principal exemplo de uma das características daquela cidade: a longevidade. Um caso peculiar, que seria apenas um entre tantos, não fosse o tino do conterrâneo Genaldo Barros em registrá-la.

Essa história, até então restrita a uma pequena cidade da zona da mata sul pernambucana, será transmitida hoje, às 14h30, para todo o território nacional no Canal Futura (disponível para assinantes). O baque da zabumba centenária contra o tic-tac do tempo foi um dos 40 roteiros aprovados pelo projeto Revelando os Brasis, parceria entre o Instituto Marlin Azul e o Ministério da Cultura, que desde 2006 viabilizou 120 produções audiovisuais. Junto com o vídeo, com duração de 15 minutos, haverá entrevista com o diretor, concedida ao ator Ernesto Piccolo.

Como uma peça pregada pelo destino, Mané Rita morreu no último 23 de julho, duas semanas antes do início das filmagens. Mesmo assim, Genaldo levou à frente o projeto, agora se valendo de depoimentos da família e dos amigos hoje responsáveis pela banda fundada pelo mestre: José Rita (filho de Mané Rita), 73 anos; Manoel Gonçalves, 70; Nêgo Rita, 69; Pedro Pereira, 65; e Manoel Titino, 62.

Questionado sobre os planos para a nascente carreira no cinema, Genaldo Barros responde prontamente que não considera seu trabalho de estreia como uma obra cinematográfica. Para ele, o termo tem mais a ver com narrativas grandiosas e de fantasia do que com documentários como os seus. "Quero somente registrar as histórias da minha região, como venho fazendo de outras formas há mais 20 anos", diz o realizador de 53 anos. Do rol de futuras produções, ele adianta duas para a reportagem do Diario de Pernambuco: uma é sobre a fazenda que foi a maior distribuidora de mão-de-obra escrava no Nordeste; outra, diz respeito à passagem de Lampião por Iati, contada por parentes de cangaceiros que ainda guardam tais aventuras na lembrança. Indícios de que Mané Rita e a sua zabumba centenária podem ser apenas o começo - e dos bons.

Serviço
O baque da zabumba centenária contra o tic-tac do tempo
Onde: Canal Futura
Quando: Hoje, às 14h30 - reprise na terça-feira, às 23h30

publicado no Diario de Pernambuco

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Garanhuns respira jazz no carnaval


A cidade de Garanhuns reserva para o período do carnaval uma programação diferente das festas momescas. Trata-se do Garanhuns Jazz Festival, que em sua segunda edição homenageia o conterrâneo Toinho Alves, e oferece uma grade maior e melhor que a de 2008. Desta vez, são 21 atrações de quatro países, em shows gratuitos nos palcos montados na Praça Guadalajara e no Parque Ruben Van der Linden.

Viabilizado por recursos da prefeitura municipal, governo do estado e Ministério do Turismo, o festival foi lançado esta semana, com a presença do prefeito de Garanhus, Luiz Carlos Oliveira, do curador Giovani Papaleo e de três secretários municipais. Desde que nasceu, o Garanhuns Jazz tem sido tratado como a menina dos olhos da prefeitura. "O evento já nasceu consolidado. Investir no carnaval era algo sem retorno, pois a cidade ficava praticamente vazia. Foi quando os Papaléo chegaram com o projeto, que nos interessou de imediato", conta Oliveira.

De acordo com asecretária de turismo, Gabriela Valença, mais de 10 mil pessoas compareceram ao evento ano passado, o que movimentou a economia em R$ 1,6 milhão. A expectativa para este ano é de que o público dobre. "O jazz favorece um novo público e gera o envolvimento da população", diz Valença, que cita o intercâmbio cultural como o maior presente trazido pelo evento.

"Ano passado, a banda musical de Garanhuns criou a Orquestra de Frevo e Jazz de Garanhuns. Este é um legado palpável da primeira edição, maior até do que o do Festival de Inverno", acredita Valença. A mais nova banda estimulada pelo Garanhuns Jazz se chama Street Jazz Band, que se apresentará com o saxofonista carioca Marcelo Martins. Ainda no espírito de intercâmbio cultural, o mestre flautista Carlos Malta abre o festival em apresentação com a Banda de Pífanos Folclore Verde, formada por remanescentes quilombolas da comunidade local do Castainho. Por sua vez, o guitarrista paulista Lancaster toca com o grupo The Bluz, de Caruaru.

A inspiração para o GJF veio do Festival de Jazz de Guaramiranga, no Ceará, que este ano convidou o gaitista belga Toots Thielemans e terá homenagem a Dominguinhos.

Do território do blues, temos os guitarristas James Wheeler (de Chicago) e o angolano radicado em São Paulo Nuno Mindelis, o grupo Igor Prado Band, Blue Jeans e o gaitista Robson Fernandes, que toca com a anfitriã Uptown Up. O jazz está representado por Kate Bentley & Clay Ross Band (USA), Dixie Square Jazz, Nuages Jazz (Equador) e Izzy Gordon, que fará show em homenagem à tia, a diva Dolores Duran.

Saiba mais

Palco Pau Pombo
(Praça Ruber Van der Linden)

21.02 (sábado)

15h - Nosso Jazz
16h - Choro, Baião e Cia

22.02 (domingo)

15h - Orlito
16h - Kleber Blues Band

23.02 (segunda)

15h - Banda local a definir
16h - Banda local a definir

Palco Ronildo Maia Leite
(Praça Guardalajara)

21.02 (sábado)

20h - Carlos Malta (RJ) & Pífano Folclore Verde
21h - Igor Prado Band (SP)
22h30 - Nuno Mindelis (Angola / SP)

22.02 (domingo)

* Dixie Square Jazz Band (SP) - show de rua à tarde e à noite
20h - Nuages Jazz (Equador)
21h - Igor Prado Band (SP)
22h - Lancaster & The Bluz (PE)
23h - James Wheeler (EUA)

23.02 (segunda)

20h - Marcelo Martins (RJ) & Street Band (PE)
21h - Robson Fernandes (SP) &Uptown Band (PE)
22h - Blue Jeans (SP)
23h - Izzy Gordon (SP)

publicado no Diario de Pernambuco

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

No limite entre sonho e realidade*


Alguma compulsão por botões parece ter baixado em Hollywood. Primeiro, no longa protagonizado por um certo Benjamin Button, que fez fortuna fabricando estes pequenos objetos. Agora, eles ressurgem na animação Coraline e o mundo secreto (EUA, 2009), em que uma garota entediada é conduzida a uma dimensão paralela habitada por seres com botões costurados no lugar dos olhos.

Dirigido por Henry Selick, o longa feito com bonecos e técnica stop-motion é uma adaptação do livro homônimo do inglês Neil Gaiman, cuja obra tem sido reprocessada aos poucos para as telas do cinema - vide os recentes MirrorMask e Stardust. Coraline, que estreia hoje nas salas de cinema dos shoppings, em cópias dubladas - uma delas em estimulante projeção 3D - é uma típica história de Gaiman, especialista em ambientes soturnos e situados no limiar entre sonho e realidade.

Tudo começa quando a menina Coraline e família se mudam para um casarão antigo. Ela não sabe, mas o local é habitado por uma bruxa que devora e aprisiona a alma das crianças. Rodeada de pais quase sempre dispersos, e vizinhos com hábitos estranhos, Coraline foi facilmente seduzida por um mundo fantástico, em que todos os seus desejos são atendidos.

Ao lado de O estranho mundo de Jack, também dirigido por Selick, e A noiva cadáver (com a qual compartilha a produtora Laika Entertainment), Coraline é uma fábula de horror para adultos, não por acaso, recomendada para maiores de dez anos. Um belo programa, em que a imagem clássica da bruxa má é o que menos assusta, neste mundo de agulhas, botões, e fantasmas de crianças presas do outro lado do espelho.
* publicado no Diario de Pernambuco

Filmes do Oscar 2009 no Multiplex UCI Ribeiro Recife


Entre 15 e 19 de fevereiro, filmes indicados ao Oscar 2009 serão exibidos no Multiplex UCI do Shopping Recife (Boa Viagem). A programação começa neste domingo, às 11h, com a animação digital Wall-E. Trata-se de programação especial com a presença de especialistas em cinema para debate após cada filme.

Indicado a prêmios como melhor trilha sonora original, roteiro original e melhor animação, Wall-E será debatido por Leonardo Galiza e Alexsandro Vasconcelos.

Nas demais sessões do projeto, são exibidos O curioso caso de Benjamin Button (segunda, às 18h), O leitor (terça, às 19h), O lutador (quarta, às 19h15) e o inédito Milk (quinta, às 19h).

Os ingressos variam de preço: domingo (R$ 11), segunda, terça e quinta-feira (R$ 13) e quarta-feira (R$ 9), com meia entrada todos os dias.

Batman de volta aos cinemas



Batman - O cavaleiros das trevas, de Christopher Nolan, está de volta aos cinemas do mundo todo, inclusive em versão I-Max.

No Recife, ele será exibido a partir de hoje, no Cine Rosa e Silva 2, sempre às 17h40 e 20h30.

É a chance de conferir (ou usufruir novamente) grandes atuações como a de Heath Ledger, sem dúvida o melhor Coringa de todos os tempos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Salto qualitativo de um jovem artista*



Selton Mello, um dos atores mais conhecidos do Brasil, agora investe na carreira de diretor. O primeiro salto de qualidade deste mineiro de 36 anos veio quando migrou das novelas globais para as telas do cinema, onde viveu personagens marcantes e díspares, como o disparatado Chicó em O auto da Compadecida, o angustiado André, em Lavoura arcaica, o perverso Lourenço (O cheio do ralo), e o playboy traficante João Estrela (Meu nome não é Johnny).

O segundo chegou agora, com Feliz Natal, longa-metragem que entrou em cartaz na última sexta-feira (ver roteiro). Como era de se esperar, a produção é generosa com o elenco, estrelado por Leonardo Medeiros, Darlene Glória, Lúcio Mauro e Paulo Guarnieri. Na equipe, nomes tarimbados como Vânia Catani (produção), Lula Carvalho (fotografia), Daniela Pinheiro (arte) e Plínio Profeta (trilha sonora). Tudo para contar a história de Caio, personagem que, após anos de exílio, retorna ao lar e encara a família em decadência e fantasmas de um passado inconsequente.

Para expressar sua arte, Selton Mello, que também co-assina produção, roteiro e montagem, investiu no improviso em cena, luz natural, planos quase abstratos e por vezes tão aproximados que mostram a textura da pele. Tanta visceralidade pode ser entendida a partir do significado pessoal da noite de Natal para o diretor: 25 de dezembro é data de nascimento de seu pai, e seu próprio aniversário é no penúltimo dia do ano. Apesar disso, ele garante não haver nada de autobiográfico no filme. "Caio não sou eu, e sim a tradução do sentimento dessa época do ano que, para mim, é obrigatória. Feliz Natal é sobre coisas não ditas, as entrelinhas são muito importantes".

Em entrevista ao Diario, o mais novo e promissor cineasta brasileiro conta detalhes sobre o filme de estreia, questiona o sistema usado para a escalação de atores nos filmes nacionais e revela quais os planos para os próximos meses, o que inclui um inesperado retorno à televisão.



Entrevista // Selton Melo: "Quero experimentar formas de me expressar"

Lavoura arcaica parece ter exercido grande influência sobre seu filme. Você mesmo afirmou que ele é uma resposta ao filme de Luiz Fernando Carvalho. Além disso, você cita Cassavettes e o cinema argentino como fortes referências. Elas devem continuar nos próximos filmes, ou foram adotadas apenas para este?
Luiz Fernando é uma referência enorme por causa de sua imensa coragem, ele foi a primeira pessoa que viu um corte bruto do meu filme e me ajudou a encontrar o caminho a seguir. Todas estas referências foram importantes, mas serviram apenas a esse filme. Mas esse não é o meu estilo de direção, é a linguagem dessa história especificamente. Quero experimentar outras formas de me expressar atrás das câmeras. Quero adaptar O alienista, de Machado de Assis, um filme de época, que terá uma outra pegada, diferente de Feliz Natal. E antes desse, rodar um filme que flerta com a comédia. Tentar como diretor fazer o que já faço como ator: ir de Lisbela e o prisioneiro a O cheiro do ralo, de Árido movie a O auto da Compadecida.

Você demonstra evidente respeito com os veteranos Darlene Glória e Lúcio Mauro, grandes talentos nem sempre lembrados pelo cinema brasileiro. Ao mesmo tempo, você apresenta novos e promissores atores. Você passou por essa reflexão antes de optar pelo elenco?
Com certeza. Hoje em dia se dá muita importância a lançamentos. Lançar gente é importante, claro, como o menino Fabrício Reis, por exemplo. Mas não é só assim que a banda deve tocar. Procurei buscar profissionais altamente talentosos, com gana de trabalho, que ficam à margem. Esse é o caso do Paulo Guarnieri. Fez várias novelas, cresci vendo seu trabalho. Assim que fiz o convite, ele veio e fez lindamente o irmão do protagonista. Aquele olhar do Paulo era insubstituível. O mesmo acontece com o extraordinário Lucio Mauro. E Darlene Glória? Musa absoluta do cinema brasileiro. Eu me pergunto por que essas chances não são dadas com mais frequência. Acaba gerando escalações viciadas.

A nudez da atriz Graziela Moretto gerou forte reação do namorado dela, o ator Pedro Cardoso, que redigiu um manifesto e classificou a cena como "pornográfica". Qual sua visão sobre esse episódio?
Sinceramente, acho que isso é passado. Eu não fui citado nominalmente, nem meu filme, mas como a imprensa insistiu em me ouvir coloquei uma nota no site do filme, www.feliznatalofilme.com.br. Quem ainda se interessar por isso pode ir lá conferir.

Na sessão especial de Feliz Natal em dezembro, no Cinema da Fundação, você afirmou estar mais neste filme do que em todos os personagens que já interpretou. Como ficará sua carreira de ator, agora que sua preferência é a direção?
A direção veio para ficar em minha vida, é algo incrível e apaixonante. Descobri esse lado e estou encantado com essa nova possibilidade. Estou bem mais ciente de todo o processo e isso me enriquece muito também como ator. E em meu próximo filme vou atuar também, já me sinto seguro para dar mais esse passo. Mas sinceramente tenho muita vontade de voltar a fazer uma novela, me comunicar através da minha arte com milhões de espectadores. Mudanças estão por vir na minha trajetória.


* publicado no Diario de Pernambuco de 10/02/2009

A História em quadrinhos*



Para os brasileiros, durante décadas, histórias em quadrinhos foram pouco mais do que um passatempo pueril. Com o tempo, e certo esforço das editoras, esse reducionismo provocado pela indústria dos comics norte-americanos foi sendo quebrado. Hoje, o mercado de HQs oferece bem mais do que super-herois, camundongos e outros bichos. Ele reflete uma produção mundial, que utiliza a linguagem peculiar dos quadrinhos para tratar de temas densos e nada engraçados, como a bomba de Hiroshima e o holocausto, apenas para citar dois grandes marcos: Gen, de Keiji Nakazawa, e Maus, de Art Spiegelman.

Após sua publicação, nos anos 1970, os quadrinhos históricos ganharam relevância não somente pelo compromisso social de relembrar fatos importantes do passado, mas pela evidente criatividade de seus melhores autores. De tempos em tempos, há uma onda de boas publicações do gênero, e estamos passando por uma delas. Recentemente, dois bons exemplares vieram à tona, calcados em fatos históricos que marcaram a América Latina no século passado. O primeiro é Chibata! - João Cândido e a Revolta que Abalou o Brasil, da dupla cearense Hemetério e Olinto Gadelha. O segundo é Che – os últimos dias de um herói, obra argentina produzida 40 anos atrás, logo após a morte do líder revolucionário.

Listado no index da ditadura argentina, a versão nacional para Che chegou somente mês passado, e preenche uma lacuna na bibliografia nacional. A HQ, criada por Hector Oesterheld e Alberto Breccia, é considerada uma obra prima não somente pelo caráter político-histórico, mas por narrar a trajetória do personagem com maestria no uso das técnicas de claro-escuro. Além disso, o próprio livro entrou pra história, ao vencer a cruel ditadura argentina. No entanto, o roteirista Oesterheld e todas as suas filhas foram presos, torturados e assassinados pelo regime dos generais. Ao longo do tempo, a dupla tem sido adotada como referência básica por gigantes como Hugo Pratt (criador da série Corto Maltese) e Frank Miller.

Os dois títulos foram lançados pela editora paulista Conrad Livros. “Durante mais de 50 anos, os quadrinhos foi a arte mais censurada do Ocidente. Como eram considerados uma coisa de criança, só se aceitava que tratasse de temas que os adultos julgassem adequados às crianças. Ainda hoje, qualquer quadrinho que trate de temas mais complexos que guerras intergaláticas ou brigas de patos são obrigados a trazer o aviso: ‘quadrinhos adultos’, mesmo que não tenham cenas de sexo ou excesso de violência”, diz Rogério de Campos, diretor da Conrad, que ostenta em seu catálogo outros capítulos da história mundial, como os conflitos no Oriente Médio e leste europeu narrados pelo jornalista gráfico Joe Sacco.

“Creio que os quadrinhos estão vivendo seu momento de libertação. A queda das vendas dos gibis de super-heróis e os outros gêneros tradicionais abriam espaço para outros tipos de quadrinhos. Veio também abaixo aquele muro de preconceito e ignorância que impedia muita gente de perceber que os quadrinhos são uma linguagem artística como outra qualquer, com os mesmos direitos e deveres”, reflete Campos.

Ele conta que a ideia de quadrinizar a Revolta da Chibata, episódio propositadamente obscurescido pela historiografia brasileira, partiu da própria editora. “Nos agrada pensar que Chibata! surgiu em parte como resultado desse trabalho da Conrad de mostrar que quadrinhos podem falar de qualquer tema”, provoca o editor. A aposta deu certo: o projeto é considerado pela crítica especializada uma das melhores HQs de 2008.

Parte do mérito veio da confiança depositada nos artistas convocados para a missão. “A Conrad foi corajosa, ao confiar nos nossos instintos e nos deixando em paz para trabalhar”, conta Hemetério, que desenhou as 244 páginas do livro. “A história brasileira é rica em fatos, mas pobremente documentada. E quando tudo vem à tona, sempre passa um quê de ranço oficial. Quanto mais houver pesquisas e questionamentos, mais os fatos poderão ser analisados à luz da crítica. Os quadrinhos nacionais podem ter um papel relevante nessa divulgação, desde que sejam divertidos e criativos, por exemplo, ao dar voz a quem a história oficial tentou calar, ou mostrar as coisas por outro ângulo”, pensa o artista.

Para ter acesso a informações sobre o levante liderado por João Cândido, o “almirante negro”, o roteirista Olinto Gadelha desenvolveu um cuidadoso trabalho de pesquisa, que se valeu de bibliotecas tradicionais à internet, que para ele foi ótima fonte iconográfica. “Um dos motivos que me atraíram foi o fato de que o público pouco sabe sobre o tema. A visão escolar é muito resumida, e isso simplifica a importância dos eventos de 1910. Por ter sido uma insurreição contra uma forte instituição nacional, e ressaltado o que havia de pior nas relações sociais e raciais da nossa sociedade, o tema sempre foi tratado com reserva. Nestes 98 anos desde os fatos, muitos que ousaram se pronunciar sobre os eventos foram perseguidos e censurados”, afirma Gadelha.

Para o desenhista, o sucesso das HQ sobre temas históricos está na busca dos leitores por melhores exemplos. “Nos faltam heróis. A história do nosso povo é cheia de distorções, ídolos fajutos, feitos atribuídos a quem teve pouca ou nenhuma relação com os mesmos, e muita gente heróica como João Cândido é deixada no esquecimento porque seus atos ou origens iam de contra-mão à norma estabelecida”.

Outro nome que tem se destacado no ofício das adaptações da história para os quadrinhos é o ilustrador, cartunista e quadrinista João Spacca de Oliveira. Nos últimos anos, ele produziu Santô e os pais da aviação, Debret - Viagem quadrinhesca ao Brasil e D. João Carioca, todos pela Companhia das Letras. “Tenho a impressão de que a HQ precisa desses e outros referenciais para ser melhor aceita. Tradicionalmente ela é fruto da indústria cultural, ou seja, é entretenimento descartável. Mas como nos filmes B de Hollywood, surgiram autores que se destacaram e conseguiram fazer evoluir essa linguagem ao estado da arte”, avalia Spacca.

Em meio a efemeridade da imprensa escrita, há que destacar a linha editorial do Diario de Pernambuco, que usa dos quadrinhos para aproximar os leitores dos fatos históricos recentes, como na premiada série sobre Lampião e o cangaço, com texto do jornalista Paulo Goethe e arte de Greg Holanda.

Neste processo em comum a todos os casos aqui descritos, a atualização de um passado “oficial” a partir do olhar de cada autor, os quadrinhos extrapolam a condição de objeto de entretenimento para assumir uma das funções sociais da arte: estimular o pensamento - e por que não? – a ação.

* publicado na revista Continente nº 98 - fevereiro/2009

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Longe da ideia de Papai Noel


Feliz Natal, longa de estreia de Selton Mello, vai na contramão do espírito de amor, paz e família reunida no final de ano

A cada 25 de dezembro a cena se repete: família reunida, troca de presentes, espumante e muita comida na mesa. Ocasião perfeita para o parente bêbado dizer impropérios, e quem sabe provocar um "barraco" com a lavagem da roupa suja. Esse é o pano de fundo de Feliz Natal (2008), longa de estreia de Selton Mello. Com certo atraso, o filme entra no circuito do Recife via Cine Rosa e Silva.

Feliz Natal conta a história de Caio (Leonardo Medeiros), que quando jovem levou uma vida vazia e inconsequente, e após situação traumática, se exilou anos a fio numa cidade do interior. Hoje, na casa dos 40, um balanço existencial o leva a bater na porta da casa dos pais, em plena ceia natalina.

O que ele encontra não é nada bonito: a mãe (Darlene Glória), afogada em álcool e anfetaminas; o pai (Lúcio Mauro), obcecado pela performance sexual com a nova namorada de 20 anos; o irmão (Paulo Guarnieri) enfrenta decepção conjugal. Sinais de decadência encontráveis na própria casa onde um dia viveu, com alcatifa da parede e espelhos oxidados, em competente direção de arte de Renata Pinheiro (Superbarroco) e fotografia de Lula Carvalho.

Em pouco tempo, Caio deixa o "lar" novamente, e busca abrigo no apartamento de dois amigos "junkies". No subúrbio de tons encardidos, ele pode reviver os fantasmas do passado. "Eu estou muito mais neste filme do que todos os personagens que já fiz", garante Selton Mello, diretamente inspirado no cinema de John Cassavetes, por buscar na força interpretativa dos atores, um contraponto sombrio e visceral à pasteurizada imagem da noite feliz.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ibep-Companhia Editora Nacional compra a Conrad


O comunicado acima foi encaminhado hoje à tarde para a imprensa, e informa que o grupo Ibep anuncia a compra da Conrad Editora.

O ofício deixa claro que não haverá mudanças na linha editorial da Conrad. Muito menos na equipe, que só não permanece intacta porque deixaram o grupo a gerente administrativa Solange Reis e Cristiane Monte, uma das sócias fundadoras.

Desde 1993, a Conrad é responsável por publicar boa parte dos melhores quadrinhos lidos no Brasil. Tanto nas bancas, onde circulam os mangás, quanto nas livrarias, ela tem papel fundamental de introduzir novos autores e disseminar os mestres.

Alexandre Boide, coordenador editorial da Conrad, adiantou ao Quadro Mágico o que 2009 reserva aos leitores.

"Temos muito material para lançar, e certamente o faremos ao longo de 2009. O plano é lançar mais álbuns nacionais do que nos últimos anos. Preferimos não revelar autores e títulos porque são obras ainda em produção, que podem atrasar. No entanto, posso garantir que muitas novidades virão, tanto de artistas que já publicaram com a gente como de gente nova na área, sem esquecer dos clássicos dos quadrinhos brasileiros".

Leia mensagem de Rogério de Campos aos leitores da Conrad:
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Conrades,

Temos o prazer de anunciar que, a partir de agora, a Conrad faz parte do Grupo IBEP, do qual faz parte também a Companhia Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato em 1925.

Esse movimento é resultado da evolução da Conrad nestes anos todos. Crescemos e ocupamos espaços. Temos feito história. Mas para continuar crescendo percebemos que precisávamos de investimento externo. E é isso que temos agora.

As negociações que desembocaram neste grande momento foram complexas, demoradas e cheias de idas e vindas. Isso afetou bastante o ritmo de lançamentos da editora no ano passado. Mesmo assim, em meio a tudo isso, continuamos a emplacar nossos hits nas paradas de sucessos. Como a série de compilações de tiras de Calvin & Haroldo e livros como Che, Fun Home, Prontuário 666 e Chibata!. No mês passado, lançamos com bastante sucesso A Ditadura da Moda, o primeiro romance da jornalista Nina Lemos.

Agora que tudo está resolvido, a Conrad irá retomar seu ritmo tradicionalmente furioso de lançamentos. Já nos próximos dias lançaremos a continuação das séries Dragon Ball, Bambi, Nausicaä e O Sétimo Suspiro do Samurai. E também o clássico álbum Verão Índio, de Milo Manara e Hugo Pratt.

O primeiro objetivo é reforçar a identidade editorial da Conrad. A quase totalidade da equipe da editora permanece. Vocês clientes continuarão a falar com as mesmas pessoas com quem já falavam. Quero, no entanto, agradecer muito as pessoas que deixam a empresa, como minha amiga Solange Reis, gerente administrativa, e, especialmente, minha sócia Cristiane Monti, que fundou esta editora e forneceu a ela uma energia sem a qual nada disso teria sido possível.

Parabéns para todos
E, mais uma vez, obrigado

Rogério de Campos

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Funarte propõe diálogo com gestores e produtores


O presidente da Fundação Nacional de Arte, Sérgio Mamberti, está no Recife desde ontem, onde cumpre agenda de encontros e eventos. Esta é a primeira visita oficial da Funarte à região Nordeste desde que Mamberti assumiu a frente da instituição, em novembro passado. O objetivo é estreitar laços com gestores públicos e atores do campo cultural discutindo as ações da Funarte para os próximos dois anos. Hoje, às 9h30, haverá reunião aberta ao público na sede da Representação Nordeste do Ministério da Cultura (Rua do Bom Jesus, 227 - Bairro do Recife).

Ontem, a agenda da comitiva formada por Mamberti e equipe foi cheia: pela manhã houve reunião a portas fechadas com funcionários do MinC Nordeste. À tarde, eles se reuniram com os secretários de cultura de oito estados e sete capitais do Nordeste. À noite, ele esteve no Teatro de Santa Isabel, no encerramento do Janeiro de Grandes Espetáculos (que este ano recebeu R$ 50 mil em recursos da Funarte), para a entrega do prêmio Apacepe de Teatro e Dança.

"Nesse momento o que nos interessa é ouvir, para que possamos construir nossas políticas com a participação da sociadade ", diz Mamberti. Em conversa com o Diario, ele disse que a principal meta de sua gestão é repensar a Funarte no contexto do século 21. Para tanto, ele renovou completamente a equipe de diretores. O único nome mantido é o de Myriam Lewin, que desde 2003 ocupa o cargo de secretária executiva da instituição. "Queremos trazer de volta a tradição da Funarte na prestação de serviços à cultura brasileira", afirma Mamberti.

Mais do que uma missão de reconhecimento, a presença da Funarte no Nordeste tem a ver com a busca de novas parcerias, articulações e interlocuções, inclusive internas. Tanto que, em breve, o atual representante regional da instituição, Jorge Clésio contará com equipe e escritório próprio, que atenderá no mesmo prédio onde funciona o MinC. "A representação da Funarte é um salto de qualidade que nasceu de uma necessidade de ampliação. Será um novo nívelde inserção, um espaço integrado", descreve Taciana Portela, chefe da representação do MinC-NE. No mesmo local, haverá uma galeria de arte, mantida em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste.

Por enquanto, este será o único espaço da Funarte no Nordeste, região cuja ausência de equipamentos tem gerado críticas recorrentes. "Somos feios e moramos longe", conclui o produtor cultural Paulo de Castro, em tom de brincadeira. "Sabemos que no Sudeste tem se concentrado a maior parte das atividades da Funarte. Enquanto isso, precisamos de cursos e capacitação, além aparelhagem de som e luz para os teatros, que estão em certa decadência", afirma Castro.

A retomada das câmaras setoriais será outro ponto de pauta. "Mais do que críticas, queremos saber quais são os planos da nova direção da Funarte", diz Marília Rameh, uma das coordenadoras do Movimento Dança Recife, que ainda lembra o longo intervalo em que as câmaras setoriais estiveram suspensas, até serem retomadas no fim do ano passado.

Mamberti, que reservou boa parte de seu dia para dar conta das demandas do setor, adianta que as prioridades para 2009 estão ligadas a formação, circulação e a contribuição da Funarte na efetivação do Plano Nacional de Cultura. "Não temos a pretensão de resolver todos os problemas, mas ao menos queremos que as discussões se institucionalizem", garante.