segunda-feira, 8 de março de 2010

Os sonhadores



Um filme brasileiro que começa com uma música famosa do Radiohead é algo, no mínimo, para ficar com as orelhas em pé. Pois Quanto dura o amor?, segundo longa de Roberto Moreira (Contra todos, 2003) não só elegeu High and dry como música-tema, como mostra a cantora Danni Carlos entoando uma versão para voz e violão num pub da Rua Augusta, em São Paulo.

A atitude arriscada rendeu resultado acima da média, grande parte graças à linda combinação de fotografia e som capaz de ordenar o caos que é o panorama urbano da metróple, ao mesmo tempo em que traduz a delicadeza das situações vividas por tipos urbanos eleitos pelo roteiro.

Um deles é Marina (Sívia Lourenço), garota do interior que tenta investir na carreira de atriz. Ela aluga um quarto no apartamento de Suzana (Maria Clara Spinelli), advogada independente e bem sucedida que parece precisar mais da companhia do que do dinheiro da nova inquilina. Da Consolação, onde agora mora, à Augusta é um pulo, e lá vai Marina ao pub onde começa seu mergulho no mundo noturno da supracitada performer que, como saberia logo mais, tem tatuagens e se chama Justine.

Paralelamente, Suzana se envolve com um colega do fórum e fica ansiosamente empenhada para que tudo dê certo. Marina, assim como o filme, acompanha o caso à distância. Outro vizinho Jay (Fábio Herford), misto de urbanóide e escritor frustrado ridiculamente apaixonado por uma garota de programa (Leilah Moreno). No auge de suas paixões, todos acreditam que podem atingir grandes objetivos. O destino cruel para o qual os amantes se arremessam os colocam de olhos abertos para a cidade. E nesse momento, a humanidade se divide entre fumantes e não fumantes.

Em coletiva à imprensa, no último Festival de Paulínia (onde o filme foi lançado), Moreira contou que para High and dry entrar na trilha sonora, foi preciso enviar uma cópia do filme para os integrantes do Radiohead. Mais do que isso, a produção do longa enviou duas versões. Uma com, e outra sem a composição desejada. A presença da música na produção dá a entender que Thom Yorke, Jonny Greenwood e cia entenderam a importância da canção para a construção do clima melancólico e delicado da produção.

(Diario de Pernambuco, 08/03/2010)

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